Por Ana Luisa Tieghi | As companhias de varejo se destacaram nas devoluções de condomínios logísticos no país, mostram levantamentos das consultorias Binswanger SDS e Newmark, com dados de até o terceiro trimestre deste ano. Mas também vem do varejo a maior locadora de novos espaços no período: a chinesa Shein.
A Americanas, que pediu recuperação judicial por um rombo em seu balanço, teve a maior devolução de área do ano, para a Binswanger, de 89 mil m2. No entanto, ainda é a quarta maior ocupante de espaços de logística no país, com 310 mil m2. Levantamento da Newmark aponta que a companhia reduziu sua área locada em 33% neste ano.
Em nota, a Americanas informou que o processo de abertura ou fechamento de espaços “faz parte do curso normal do varejo, com demandas elásticas e sazonais”, e que há um movimento de unificação de centros de distribuição, “principalmente pela integração do físico com o digital”, mas que isso não traz impacto aos consumidores. Afirmou ainda que suas 1,6 mil lojas físicas são “mini hubs de distribuição”.
Para a Newmark, a empresa que apresentou a maior devolução de área foi o grupo Big, de supermercados, com 63 mil m2 devolvidos. Já a Binswanger identificou a redução de 81 mil m2, o que torna o grupo Big a segunda maior devolução do ano.
O Carrefour concluiu a compra do negócio em junho e, segundo a empresa francesa, as devoluções fazem parte da integração das marcas. “Para o próximo ano, o plano é continuar buscando sinergias e eficiência operacional”, afirmou o Carrefour, em nota.
Também do setor de supermercados, o Grupo Pão de Açúcar (GPA) reduziu a área locada em 20% e o Assaí em 11%, mostra a Newmark.
Para as duas consultorias, a companhia que mais alugou novos espaços foi a Shein, de comércio virtual de roupas e acessórios. A Binswanger contabiliza 191 mil m2 locados e a Newmark 135 mil m2, aumento de 766% na área locada pela Shein no ano.
Asiáticas entraram para concorrer forte com Mercado Livre e Amazon”
“Foi um crescimento explosivo, eles começaram 2023 incipientes, com 20 mil e poucos metros quadrados”, afirma Mariana Hanania, diretora de pesquisa e inteligência da Newmark.
A Shein já é a sexta maior em área total de logística no país, com 215 mil m2, embora ainda esteja muito atrás dos gigantes do comércio eletrônico Mercado Livre, líder isolado com 1,2 milhão de m2, e Amazon, com 500 mil m2, segundo os cálculos da Binswanger.
Também com forte presença digital, a Magalu é a terceiro maior ocupante (422 mil m2). Além da Americanas, a Via ainda tem mais área locada do que a Shein (234 mil m2). Para a Newmark, a Via é a segunda empresa com mais área locada no país.
Simone Santos, sócia-diretora da Binswanger, destaca que Shein e Shopee “salvaram” o ano das locações do comércio virtual. Em 2023, as líderes Mercado Livre e Amazon não realizaram novas locações em volume significativo porque já tinham feito grandes movimentações nos dois anos anteriores. “Elas [asiáticas] entraram para concorrer forte com Mercado Livre e Amazon, que deram uma segurada para arrumar a casa”, diz. Uma das expectativas para 2024 é ver novas movimentações dessas empresas. “Eles estão sem alugar grandes espaços desde 2022”.
Também se destacaram em novas áreas a distribuidora de medicamentos Santa Cruz, a Mercedes-Benz, a Conlog, o Grupo Martins (atacado virtual) e a Shopee, que elevou sua área locada em 64% em um ano, mostra a Newmark.
Procurada, a Amazon informou, em nota, que “possui compromisso de longo prazo com o Brasil, e que continuará investindo para promover a melhor experiência de compra aos seus clientes”, sem confirmar se terá novas locações em 2024.
A Shopee não abre seus planos, mas afirmou que tem nove centros de distribuição no país e que abriu mais de cem hubs logísticos para atender vendedores brasileiros.
Grandes locações de 2023 foram feitas por setores que não o comércio virtual, destaca Santos. “São atividades que ficaram represadas, elas começaram a se movimentar e expandir, o que fez o mercado performar bem”.
O ano deve terminar com taxa de vacância em torno de 9,3%, patamar considerado favorável aos proprietários dos galpões. Taxa mais equilibrada fica entre 10% e 12%.
Contribuiu para essa taxa reduzida uma entrega de novos galpões abaixo do esperado para 2023. Santos conta que o total entregue até o terceiro trimestre, de 914 mil m2, é apenas 30% do projetado. Mesmo ao se somar as entregas esperadas para o quarto trimestre, caso todas se concretizem, o total iria para 1,5 milhão de m2, aquém dos 2,5 milhões de 2022.
O ano passado e o anterior foram recordes em novas áreas. Segundo Santos, a taxa de juros em patamar elevado atrapalhou a entrega de novos projetos em 2023. Com o ciclo de queda da Selic e custos de construção sob controle, a expectativa é de um cenário melhor para 2024. “Galpão está atrelado ao consumo, a taxa de desemprego em queda e a melhora no crédito trazem boas perspectivas”. O que pode prejudicar o setor é um crescimento mais reduzido da economia, ressalta Hanania.
Para 2024, a Binswanger prevê a entrega de 3 milhões de m2, o que seria um novo recorde. No entanto, só 1,2 milhão está em obras. Nilton Molina Neto, diretor-executivo da consultoria, destaca que pré-locações em volume maior poderiam garantir que as obras restantes comecem.
Hanania lembra que o volume de estoque em construção caiu. Para ela, o setor está se aproximando de um momento de crescimento mais estável, após anos de aumentos fortes.
A taxa de vacância deve terminar 2024 entre 9,5% e 14,8%, segundo a Binswanger, a depender do patamar de entregas e do interesse dos locatários.
Fonte: Valor Econômico