Alta nos juros e inflação devem pesar no varejo alimentar e e-commerce, enquanto avanço na mobilidade pode impulsionar atacarejo
Por Maria Luzia Dourado
Os resultados do terceiro trimestre do setor de varejo devem vir mistos, com as vendas do atacarejo e do varejo de moda sendo impulsionadas pelo avanço na vacinação e nos níveis de mobilidade da população, ao mesmo tempo que a inflação, o fim dos pagamentos do auxílio emergencial e as fortes bases comparativas punem e-commerce e o varejo alimentar, avaliam analistas.
Inflação, fim do auxílio emergencial, altas nos juros e incertezas em torno do Auxílio Brasil pesaram sobre a demanda de Magazine Luiza e Via de julho a setembro. Vendedoras de bens duráveis, as empresas já enfrentam difícil base comparativa, segundo o Goldman Sachs.
O desempenho das lojas físicas será o destaque negativo de ambas – Via verá queda de 10% na base anual nesse indicador, enquanto para Magalu ele permanecerá estável, de acordo com estimativas de Rafael Rehder, analista da Genial.
A divulgação positiva da Via será as vendas do marketplace, que ultrapassou os 100 mil vendedores e deve ver seu GMV bater R$2 bilhões, segundo Rehder.
A Americanas, menos exposta ao cenário macroeconômico devido à oferta mais diversificada, terá balanço impulsionando por lojas físicas, avalia o Goldman Sachs.
“Com essa retomada da mobilidade e o perfil de conveniência das lojas físicas da Americanas, a empresa verá crescimento anual de vendas de quase 30% nas vendas desse canal, que serão compensadas pela performance mais baixa do digital, e com margens ainda comprimidas”, completa.
Mercado Livre resiliente
Na ponta lista das varejistas mais resilientes ao macro deteriorado, aparece o Mercado Livre, que deve continuar reportando forte crescimento.
“A estrutura asset light, focada 100% na plataforma online e que poupa os gastos que as demais têm com as lojas físicas, além da malha logística maior e melhor e a quantidade de vendedores cadastrados coroam a Mercado Livre como líder no país, apesar do aperto da concorrência de chinesas, como Shopee, ou até mesmo na Amazon”, diz Rehder.
O Bradesco BBI vê alta anual de 68,6% na receita líquida da Mercado Livre e de 42% no volume total de pagamentos, TPV.
Atacarejo em alta
Para além da base comparativa forte do varejo alimentar, a inflação fez o consumidor dar preferência para mercados de atacarejo, cujos preços são mais competitivos, beneficiando Assaí, avalia Rehder.
As casas esperam resultados sólidos da rede de atacarejo, com alta anualizada de 14% na receita líquida, mesmo com uma base de comparação difícil, impulsionada por crescimento em vendas mesmas lojas de 4,6% – além da expectativa positiva de inauguração de mais de 20 lojas no quarto trimestre e a compra de 71 lojas da rede Extra junto ao GPA.
O Carrefour Brasil seguirá apresentando margens brutas pressionadas, com o Atacadão sendo destaque positivo dos resultados, estável na comparação anual, por conta de iniciativas promocionais, e o varejo caindo na mesma comparação, segundo a XP.
Na mesma linha, o GPA deve mostrar outro trimestre de resultados fracos de acordo com a casa de análise, com queda em receita líquida e EBITDA na base anual e trimestral, além da expectativa de apresentação de prejuízo líquido de R$61 milhões.
Bem-vestidas
Com o avanço da vacinação e a queda nos casos de Covid-19, a mobilidade do setor se aproxima dos níveis pré-pandêmicos, favorecendo empresas de vestuário e calçados, de acordo o Goldman Sachs, que espera receitas do terceiro trimestre de Arezzo e Lojas Renner maiores que os resultados de 2019.
No terceiro trimestre, a Arezzo deve reportar altas de 80% e 70% frente aos mesmos períodos de 2020 e 2019, na ordem, segundo o Bradesco BBI.
Para Lojas Renner, o banco espera vendas mesmas lojas, SSS na sigla em inglês, crescendo 35,9% na comparação anual e a receita líquida acelerando 18,2% em relação ao mesmo período de 2019, impulsionadas pelo forte desempenho no inverno, destacado pela XP.
A corretora espera, no entanto, queda sequencial na margem EBITDA de 2,4 pontos percentuais devido aos altos custos e aos investimentos da empresa em seu ecossistema.
O Grupo Soma, que incluiu a Hering ao seu portfólio, também será destaque positivo para a XP, com margem EBITDA crescendo mais de 17,4% na base anual, vendas se recuperando nas lojas físicas e menores despesas com marketing.
A Vivara também entra no grupo das varejistas beneficiadas por atenderem ao público AB, cujo poder de compra não é tão impactado pela inflação, e deve mostrar lucro líquido e vendas líquidas 37,5% e 25% maiores na comparação anual, respectivamente, diz a XP.
Destaques no varejo
Dentre as companhias citadas, Magazine Luiza, GPA e Arezzo reportam resultados em 3 de novembro. Carrefour Brasil no dia 8, e Via no dia 10. No dia 11, reportam Americanas, Grupo Soma e Lojas Renner.
Fonte: TC