Por Natalia Flach e Helena Benfica | As duas vitórias que atletas brasileiras tiveram ontem na Olimpíada de Paris, no handebol e no futebol, animam o cenário que alguns varejistas estão desenhando para as vendas das próximas semanas. Carrefour, Mercado Livre, Netshoes, além de bares e restaurantes, estão entre as empresas que acreditam que o consumidor está mais disposto a ir às compras, mesmo acompanhando as competições do sofá de casa ou da cadeira do escritório.
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva e QuestionPro mostra que seis em cada 10 brasileiros planejam desembolsar até R$ 200 relacionados às competições na França, que vão acontecer até 11 de agosto Entre os itens mais procurados estão roupas (31%), acessórios (23%), alimentos e bebidas (21%), além de artigos esportivos (20%).
O cenário apontado pelo estudo está em linha com a perspectiva de varejistas ouvidos pelo Valor.
“A Olimpíada em Tóquio foi atípica por causa do fuso horário e da pandemia. Para a edição deste ano, estamos com expectativa alta”, afirma o diretor comercial da Netshoes, Marcelo Chammas. A diretora de marketplace do Mercado Livre, Anna Araripe, faz coro: “Estamos extremamente otimistas. Nossa confiança é alimentada pelo crescimento dos resultados trimestre após trimestre e pelo aumento do interesse em esportes.”
De fato, mal as equipes brasileiras entraram em campo ontem (25) – véspera da abertura oficial da Olimpíada, que acontece nesta sexta-feira a partir das 14h30 pelo horário de Brasília -, e as buscas pelas palavras handebol e futebol deram um salto no Google. As duas seleções femininas venceram suas oponentes na estreia ontem (25): o time de handebol bateu a Espanha, por 29 a 18, e o de futebol venceu a Nigéria por 1 a 0.
O bom desempenho nas competições é um estímulo a mais para as compras, em um cenário em que a atividade econômica está mais aquecida. Pela primeira vez desde 2015, o número de desempregados ficou abaixo de 8 milhões – ainda que o nível de informalidade permaneça elevado, com 39,1 milhões de trabalhadores informais no país, de acordo com levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Esse quadro ajuda a explicar por que, nos últimos 12 meses até abril, o volume vendido pelo comércio subiu 2,7%, segundo pesquisa do IBGE. Nas lojas de artigos de moda e de calçados as vendas encolheram 3%, mas houve aumento de 4,6% em supermercados.
“Estamos no início de ciclo da recuperação econômica, o que movimenta o pequeno varejo. Tanto é que tem sido cada vez mais comum ver ambulantes vendendo bandeirinhas do Brasil”, diz Renato Meirelles, presidente da Locomotiva. Para o especialista, a Olimpíada deve ser um dos principais momentos para o comércio neste ano. “Diferentemente de datas comerciais em que se costuma presentear alguém, agora as compras são para consumo próprio.”
No Mercado Livre, houve um aumento nas buscas por artigos esportivos em comparação aos últimos 30 dias, e, segundo Araripe, essa tendência continua.
“A expectativa é que durante os jogos as buscas aumentem ainda mais, especialmente nos esportes em que o Brasil se destaca como skate, surf e tênis”, afirma a executiva, acrescentando que na Olimpíada de Tóquio a venda de skates cresceu 50%. “Acreditamos também que as raquetes terão um aumento significativo nas vendas, pela expectativa de boa performance da tenista Bia Haddad.”
Patrocinador oficial da Olimpíada, o Carrefour reforçou os estoques para os dias de jogos. A rede de supermercados vende desde artigos esportivos, como bicicleta e raquete, a alimentos e bebidas, que costumam ser associados a momentos de confraternização.
“Estamos preparados para todo o perfil de compra”, diz o líder de marketing do grupo, Marco Parretti. “A gente acredita que as vitórias das equipes brasileiras podem ser gatilho para mais pessoas se interessarem por esportes e se tornarem atletas amadores”, acrescenta.
A expectativa da Netshoes é que a Olimpíada represente o terceiro melhor momento de vendas do ano, atrás apenas do Natal e da Black Friday. “Por termos um posicionamento forte em esportes, esse fenômeno também acontece durante a Copa do Mundo”, diz seu diretor comercial. A empresa investiu em pacotes de patrocínio com a SporTV e em ações com influenciadores.
Bares e restaurantes de diversas regiões do país prepararam sua estrutura para transmitir o evento e projetam um aumento até 20% no faturamento das casas com a alta no movimento.
Em geral, eventos esportivos representam uma oportunidade relevante para o setor, uma vez que muitas pessoas recorrem a esses locais para acompanhar as partidas. Na Copa do Mundo do Catar de 2022, por exemplo, o faturamento dos estabelecimentos cresceu 30% nos dias de jogos do Brasil, segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).
As unidades do Boteco São Bento e do São Conrado Bar têm o costume de transmitir eventos esportivos, e com a Olimpíada não será diferente. As seis casas, distribuídas entre a capital paulista e região metropolitana, estão equipadas com televisões e painel de LED para transmitir o maior evento esportivo do mundo.
A expectativa é que o movimento extra resulte em aumento de 10% a 20% no lucro das casas. “Tudo vai depender do desempenho do Brasil”, diz Ronaldo Camelo, sócio do Grupo Saints, que administra o Boteco São Bento e o São Conrado Bar.
Um dos pontos negativos é o horários de alguns jogos, diz Camelo. Com o fuso horário de Paris sendo 5 horas à frente do horário de Brasília, as disputas ocorrerão entre 3h e 18h. Ainda assim o executivo está otimista, e já espera um faturamento maior nesta sexta-feira (26), com a cerimônia de abertura.
Para Marco Antônio Martins Lopes, sócio-proprietário do Elis Bar e do Bar Ideal, ambos em Belo Horizonte, a estrutura do local será um dos grandes diferenciais para atrair consumidores. Especialmente em uma cidade que é reconhecida pela infinidade de bares.
O Elis Bar possui um painel de LED e o Bar Ideal conta com três televisores grandes. O empresário prevê um aumento de pelo menos 10% no resultado da casa.
Um dos grandes diferenciais da Olimpíada é o número de modalidades envolvidas. A edição deste ano terá 32 esportes, com 48 modalidades de competição, sendo o “breaking dance” e o caiaque cross as duas novidades incluídas pelo Comitê Olímpico Internacional (COI).
Mas mesmo com essa grande variedade, o futebol continua sendo o carro-chefe, diz Erivaldo Andriola, gerente geral do Bar do Cuscuz, que possui três casas em Campina Grande, João Pessoa e Recife.
Enquanto falava com a reportagem, a disputa entre as seleções femininas de futebol de Brasil e Nigéria era transmitida no telão localizado no centro do bar. “Esse jogo de agora, por exemplo, já é no final do almoço, mas estamos com uma movimentação maior”, disse Andriola. A expectativa, segundo o gerente, é de um acréscimo de 10% a 15% no faturamento durante a Olimpíada.
Quase dois terços dos bares e restaurantes no país não tiveram lucro no mês de maio, segundo a Abrasel. A Olimpíada traz esperança de obter resultados melhores.
Fonte: Valor Econômico