Ainda digerindo os efeitos da greve dos caminhoneiros que aconteceu em maio, o varejo precisou rever as expectativas de crescimento para o ano. Com perdas de mais de R$ 7 bilhões no comércio ampliado no quinto mês do ano, ante abril, os reflexos da paralisação ainda devem ser vistos no resultado de junho.
“A greve trouxe um choque de oferta, que para se normalizar leva um tempo”, comentou a gerente na Coordenação de Serviços e Comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Eatística (IBGE), Isabella Nunes.
A queda média de 0,6% no varejo ampliado em maio, na comparação com abril, foi revelada ontem pelo IBGE por meio da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) e sinaliza que o fato da greve ter acontecido no final do mês, e o varejo ter precisado de alguns dias para recompor os estoques, poderá refletir também nos primeiros dias de junho.
“Não se pode imaginar que logo no começo de junho todo o comércio seja abastecido. Mas isso é informação que a gente vai coletar no mês de junho”, frisa Isabella.
E foi justamente esperando que os próximos meses não passem ilesos para o setor que a Confederação Nacional do Comercio (CNC) revisou a projeção de crescimento para o setor no ano. Inicialmente prevendo incremento e 5% no faturamento em 2018, agora a projeção caiu para um avanço na casa dos 4,8%.
“Embora as significativas quedas provocadas pelas paralisações de maio estejam restritas ao terceiro bimestre de 2018, dificilmente o ritmo de vendas verificado nos cinco primeiros meses do ano (+6,3% ante o período de janeiro a maio de 2017) se manterá no segundo semestre”, afirmou o o chefe da Divisão Econômica da CNC, Fabio Bentes.
De modo similar pensa o especialista em varejo e fundador da consultoria Inteligência360, Olegário Araújo.
Segundo ele, se por um lado alguns varejistas tiveram na greve a oportunidade de liquidar estoques altos, por outro, o consumo que não foi feito em maio não deve ter sido realizado após a paralisação.
“Pensando no varejo restrito é difícil recuperar tais vendas considerando que o consumidor final equacionou o problema dele de alguma forma. No geral, são produtos de consumo rápido”, disse ele em entrevista recente ao DCI.
O especialista acredita ainda que a equação deste problema não será tão rápida. “Não creio que no curto prazo o varejo vá recuperar as vendas em um contexto, que ainda é de baixas vendas”, lamenta.
Muito longe do topo
Para se ter uma ideia, com as perdas de maio, as vendas do comércio varejista estão 7,1% abaixo do pico registrado em outubro de 2014. No varejo ampliado, o volume vendido está 16,0% aquém do ápice alcançado em agosto de 2012.
Para os economistas do Mitsubishi UFJ Financial Group, Inc (MUFG), além de estar longe do ápice de vender, o setor terá que lidar com outros problemas em julho. “As vendas podem registrar alguma recuperação com o fim da greve dos caminhoneiros. No entanto, essa recuperação pode não ser tão ampla, uma vez que a Copa do Mundo tem um impacto negativo sobre as vendas gerais em termos líquidos, especificamente nos dias que a seleção brasileira jogou”, disseram eles em relatório.
Com exceção de supermercados, que apresentaram incremento de 0,6% nas vendas em maio, ante a abril, todos os setores apresentaram queda, ou estabilidade nas vendas.
Fonte: DCI