Por onde quer que se olhe, o retrato do varejo ainda é de cores sombrias. Uns acreditam que a curto prazo elas darão lugar a tons mais suaves – em outras palavras, eles já veem sinais de algum ânimo no consumo e, por tabela, de estabilidade nas vendas. Outros preferem advertir que essa estabilidade ocorre na baixa – e, portanto, uma mudança efetiva no quadro ainda demora a ficar visível a olho nu.
Os números divulgados pela Associação Comercial de São Paulo nesta quarta-feira dão margem exatamente a essas duas leituras. Em março, o comércio paulistano registrou um “leve recuo” de 0,3% sobre o mesmo mês de 2016, contabilizando tanto vendas à vista como a prazo, e no trimestre a queda foi de 3,8%. Sinal de alguma melhora de desempenho, já que nos meses anteriores as quedas foram bem mais significativas. Mas também de uma certa lentidão na recuperação, contrariando inclusive as expectativas do próprio setor.
Corta para o movimento nos shopping centers do País. Conforme relato da jornalista Marcia de Chiara, em reportagem publicada nesta semana no Estadão, os 20 empreendimentos que entraram em funcionamento em 2016 operam, em média, com 55% das lojas vagas. O panorama é descrito por um estudo do Ibope Inteligência, que faz ainda uma comparação com a média registrada pelos shoppings abertos entre 2013 e 2015 — 45%. No total, o País dispõe hoje de aproximadamente 13,4 mil lojas vazias, que correspondem a 49 shoppings.
Os números são impressionantes, porque dão a dimensão do problema, mas simplesmente confirmam uma realidade testemunhada por qualquer observador – seja ou não “do ramo”. Qualquer “tour” por um shopping center ou por uma rua de bairro confirma essa realidade, que atinge desde o comércio mais tradicional e de porte mais avantajado até o pequeno varejo. Lojas integrantes de redes de franquias ou independentes, que se multiplicaram não só pelo avanço do chamado empreendedorismo como também pela crise do emprego, que jogou no “negócio próprio” até quem não tinha a menor vocação ou disposição para isso. As perguntas que surgem são recorrentes. Onde foi parar aquela loja que vendia bolos caseiros e vivia cheia até outro dia? Quem ocupava aquele espaço vago no shopping, onde hoje há um cartaz anunciando “em breve uma nova atração”?
Pode ser que logo mais à frente essa estagnação se converta em estabilização. E, livres de dívidas e com crédito um pouco mais solto (e mais barato, espera-se), os consumidores voltem às compras. Mas, por enquanto, a placa de “passa-se o ponto” ainda é a que parece caracterizar o varejo desses tempos.