A aprovação do impeachment da presidente Dilma Roussef ontem (31/08) pelo Senado Federal foi visto por alguns supermercadistas como um “ponto final” numa novela que durou quatro meses. Com a situação definida, os varejistas entrevistados por SM acreditam que o governo de Michel Temer poderá dar fim à crise política e prosseguimento às reformas necessárias para recolocar o Brasil na rota do crescimento.
“O País estava parado, praticamente à deriva. Desemprego crescendo, consumo caindo, juros e câmbio nas alturas. Desse jeito não dava mais para continuar”, diz Leda Albuquerque, sócia do Center Box, que tem 10 lojas no Ceará. Devido à insegurança gerada por esse cenário, alguns projetos da rede foram adiados, como a compra de maquinário do exterior. “Agora, queremos retomar o plano”.
Como o Center Box, outras empresas vinham engavetando investimentos. É o que mostra pesquisa da Amcham (Câmara Americana de Comércio). De 155 executivos brasileiros ouvidos este mês pela entidade, 48% afirmaram que a crise brasileira afetou a tomada de decisões estratégicas de seus negócios. “Acabamos de sair do estado de inércia, que travava qualquer tentativa de recuperação do País. Esse é o primeiro passo que precisávamos. Aos poucos, a confiança dos empresários será retomada. E também a do consumidor, o que irá estimular o consumo e a produção”, avalia Eric Shibata, sócio da rede Shibata, com 19 lojas no Estado de São Paulo.
Para Edson Savegnago, o Chalim, superintendente do Savegnago, a mudança gera um clima de otimismo. “As coisas vão começar a andar daqui para frente. O consumo está aqui. A roda vai voltar a girar. As prioridades do governo só precisam ser definidas e atendidas o mais depressa possível”, destaca o supermercadista, cuja rede conta com 37 lojas no interior paulista.
A melhora do ambiente de negócios e o resgate da credibilidade e atratividade da economia para investidores internos e externos estão entre os principais desafios do governo Michel Temer, segundo a FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo). Para isso, é preciso andar com as reformas. Uma das mais importantes para o varejo é a fiscal, como lembra Júlio César Lohn, diretor comercial do Imperatriz, 16 lojas em Santa
Catarina. “A burocracia tributária emperra o avanço das empresas. São muitos impostos, mudanças quase diárias e pouco retorno”, avalia. Já Licínio Barcelos Neto, sócio-proprietário da rede Super Bom, 11 lojas no Rio de Janeiro, defende a adoção de um imposto único para as empresas.
Outra reforma prioritária é a da previdência. Ela é necessária para sanar problemas estruturais das contas públicas. A retomada do crescimento econômico passa ainda por investimentos em infraestrutura, o que garante aumento de produtividade para o País.
Segundo a FecomercioSP, também é imprescindível que o novo governo resgate o tripé econômico “superávit primário, câmbio flutuante e metas de inflação”. A partir disso, é possível retomar a trajetória de queda dos juros, o que eleva o poder de compra do consumidor. Seja pelo aumento do poder aquisitivo em função da queda dos preços praticados, seja por favorecer o aumento do crédito. Ainda de acordo com a entidade, a expectativa é de que a melhora do ambiente econômico leve a economia a crescer em torno de 1,5% no ano que vem. Para 2016, ainda se espera uma queda de cerca de 3,5% no PIB (Produto Interno Bruto).