Não existe almoço grátis, diz uma frase feita do mundo dos negócios. Não deixa de ser verdade. Mas a empresa americana Datami, com sede em Boston, quer mudar essa escrita. Com operações em 20 países do mundo, em especial na América Latina e no sudeste da Ásia, a companhia possibilita que aplicativos e sites possam ser acessados sem gastar qualquer byte da franquia contratada pelo internauta. Quem paga a conta são as empresas que oferecerem esse serviço ao consumidor – que, neste caso, pode fazer sua “refeição” de forma gratuita. “O consumidor vai preferir acessar o Facebook em vez de pagar uma conta pelo celular”, diz Mariana Oliveira, diretora de negócios para a América Latina da empresa. “Era preciso mudar o jogo.”
A estratégia de negócios da Datami é simples. Ela participa de uma negociação envolvendo a empresa que quer fornecer dados gratuitos aos seus consumidores e as operadoras de telefonia. Com o acordo fechado, sua tecnologia garante que o usuário não terá descontado os bits e bytes de sua franquia toda vez que acessar o aplicativo da companhia que está oferecendo o serviço. Netshoes, Mercado Livre, Nestlé e Santander são exemplos de empresas que estão apostando nesta tecnologia, que promete acabar com a angústia de quem não consegue chegar até o fim do mês sem estourar a franquia do plano de internet do celular.
A Netshoes, por exemplo, adota essa estratégia desde 2015, quando passou a utilizar a tecnologia da Datami. Com ela, a receita das vendas pelo aplicativo cresceu 262% no ano passado e passou a responder por 65% do faturamento de todo o e-commerce da Netshoes. Em 2014, era de apenas 10%. “Esse crescimento só reforçou a nossa aposta de que havia uma demanda”, diz Gabriela Platinetty, diretora de marketing da Netshoes. “O problema era que esses futuros consumidores não tinham planos de dados.”
O uso de dados patrocinados poderá ser explorado com agressividade nos próximos anos, principalmente no Brasil, acredita André Miceli, professor e coordenador de MBA em Marketing Digital na Fundação Getulio Vargas (FGV). “Em países subdesenvolvidos, a prática vai virar uma tendência”, diz Miceli. Segundo ele, as limitações tecnológicas contribuem para isso. “Não há conexões sem fio disponíveis em todos os lugares e os planos de dados móveis geralmente possuem franquias baixas, isso acaba contribuindo para o crescimento.” Apesar disso, no início, em 2014, as operadoras desconfiaram do modelo de negócios da Datami e relutaram em adotar a estratégia. “Houve certa preocupação com a Vivo”, revela Mariana, da Datami. “Mas eles fizeram pesquisas e descobriram que a prática não impactaria nos negócios.”
Maior e-commerce da América Latina, o Mercado Livre também apostou na tecnologia. Dados da empresa mostram que um terço das compras na plataforma foram feitas pelo celular e que 66% dos novos usuários têm o primeiro acesso com a plataforma pelos smartphones. “Existe um potencial de crescimento gigantesco nos mercados móveis”, diz Stelleo Tolda, vice-presidente executivo do Mercado Livre para a América Latina. “Notamos que o usuário que não se preocupa com o tempo de navegação consome mais no aplicativo.”
Os números comprovam a necessidade do investimento. Os dados mais recentes do Comitê Gestor de Internet no Brasil (CGI.br) estimam que 58% da população brasileira têm acesso à internet. O percentual é o equivalente a cerca de 102 milhões de pessoas. Desse montante, nove em cada 10 pessoas classificaram o celular como o principal dispositivo utilizado acessar a internet. Dados da Associação Brasileira de telecomunicações (Telebrasil) mostram que o número de acessos móveis atingiu 202 milhões em junho. Para quem quer crescer, não há como ficar longe do mercado móvel.
Fonte: IstoÉ Dinheiro