Inovações como a economia do compartilhamento têm permeado cada vez mais o mundo do varejo. Um exemplo deste processo já funciona em São Paulo, onde existem lojas que cobram uma taxa mensal para os clientes utilizarem produtos (inclusive roupas) que depois serão locados por outro usuário. “Atualmente, existem diferentes formas de se fazer negócios no comércio”, amplia o presidente da CDL-POA, Alcides Debus.
Relações de consumo de mínimo atrito e baixo impacto de relacionamento (a exemplo do funcionamento do sistema de transporte particular Uber) também são tendências a serem compreendidas pelos empresários, na visão do dirigente.
“Entender o consumidor e o que ele precisa é fundamental”, concorda a cientista social e sócia da Sparkoff, Andrea Bisker. Ela foi uma das palestrantes convidadas para falar a lojistas durante Zoom Moda Como Negócio, realizado pelo CDL-POA, que ocorreu nesta quinta-feira no Teatro do CIEE, na Capital. E, segundo o vice-presidente de Operações e Marketing da C&A no Brasil, Élio Silva, uma tendência que veio para ficar é a compreensão de que mulheres podem gostar de usar uma calça com corte masculino e os homens podem se dar o direito de vestir um blazer ou malha feminina, por exemplo. “Muitos varejistas do segmento de vestuário têm apostado de forma mais ampla no conceito de moda como forma de expressão individual”, lembrou Silva.
Considerando um mundo onde a questão de gênero ganha a cada dia maior visibilidade, algumas iniciativas já têm se concretizado com êxito. Recente campanha da C&A promoveu um discurso em prol da diversidade e da liberdade para cada um vestir e usar o que quiser, mostrando a moda como instrumento de afirmação da personalidade. Deu certo. “Vários dos nossos consumidores começaram a fazer estes testes”, afirma Élio Silva. Em sua palestra, ele destacou que a moda deixou de ser algo padronizado e imposto, para ser uma forma de expressão de cada um.
“Temos convidado as pessoas a se divertirem e ousarem mais”, resume Silva. A estratégia da empresa para atingir os consumidores ocorre por três viés: no ambiente da loja, nas campanhas e principalmente pelas redes sociais. “Vemos muitas postagens que aprovam a iniciativa. Mas é muito mais um convite, mostrando que a empresa está aberta para isso, pois continuamos com os departamentos feminino e masculino nas lojas para facilitar o processo de compra”, ponderou Silva. De acordo com o executivo, mais do que nunca o varejo esta conectado às demandas que partem dos clientes. “Também é importante observar que muitas vezes a pessoa não quer comprar um guarda-roupa completo, mas sim peças que casem com as que já tem.”
Consumidores passam a ser protagonistas de lojas e marcas
Adquirida em 2013 pelo grupo Lins Ferrão, a Lojas Gang mudou o posicionamento da marca, após pesquisa junto ao público alvo, com foco em se aproximar ainda mais do consumidor, e conseguiu alcançar resultados “significativos”, contou a diretora da empresa, Ana Luiza Ferrão, durante apresentação de case no Zoom Moda Como Negócio. Segundo ela, nem mesmo a crise afetou os negócios da Gang. Contando com 38 lojas no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, a marca mudou de terceira para a primeira pessoa o slogan “Gang, a loja que te (me) entende”, colocando o cliente como protagonista da varejista. Com a campanha Like a Boss, marcou a transição na administração e na comunicação da empresa.
“Quatro clientes-embaixadores foram eleitos para vestir a camisa da Gang nas redes sociais, nos eventos, na criação dos produtos da marca e em toda a sua publicidade”, explica Ana Luiza. “Desde que assumimos, não fazemos nada sozinhos, quem na verdade manda na Gang são nossos consumidores, e o que eles querem a gente faz.”
Para a diretora comercial da Posthaus.com, Taisa Bornhofen, o comércio precisa se preparar cada vez mais para atender o novo consumidor, que está mais consciente de seu poder. “O varejo físico não vai acabar, mas precisa oferecer uma experiência para as pessoas”, comenta Taísa, que está à frente de um dos três maiores portais de venda de moda via e-commerce.
A cientista social e sócia da Sparkoff, Andrea Bisker lembrou das grandes mudanças da revolução digital. “A internet mudou dramaticamente a forma de nos relacionarmos”, frisou. “Ao mesmo tempo, hoje vivemos um momento mais humanizado, onde a economia compartilhada na moda ascende, e cada vez mais se percebe que as certezas envelhecem.” Neste sentido, as marcas que não colocarem seu “coração”, sua afetividade nos produtos, precisam repensar formas, frisou Andrea.