Esse percentual na principal data para o comércio no ano não é registrado desde 2013, quando o crescimento foi de 5%. Caso essa previsão se confirme, o varejo voltará ao patamar de vendas natalinas de 2014, ano considerado o do início da crise econômica por analistas. Em 2015 e 2016, a variação chegou a ser negativa (veja abaixo).
Faturamento do varejo no Natal. Arte/R7
Segundo o economista da CNC, Fabio Bentes, a previsão otimista se dá em razão de quatro fatores principais: inflação baixa, maiores prazos de crédito para o consumidor, liberação de recursos como Fundo de Garantia de Tempo de Serviço (FGTS) e Pis/Pasep e a leve melhora no mercado de trabalho.
“A inflação baixa, com IPCA abaixo de 3% ao ano, ajuda a preservar o poder de compra. O consumidor não sente que o dinheiro está indo embora tão rápido”, diz Bentes.
Aliado a isso, os prazos de parcelamentos estão maiores, e subiram de uma média de 7,4 meses há um ano para um período de 8,2 meses, segundo dados do Banco Central. “Isso permite que o consumidor pague parcelas menores por mês e entenda que aquela despesa cabe no bolso”, afirma Bentes.
Outro fator que estimula o crescimento, segundo o economista da Confederação Nacional do Comércio, é a injeção de recursos na economia feita pelo governo federal, que disponibilizou R$ 42 bilhões do FGTS em parcelas individuais de até R$ 500, além de liberar R$ 2 bilhões em recursos do PIS/Pasep.
“Os resultados do segundo semestre vão todos surfar nessa onda do FGTS. Ainda que seja um resultado artificial, é um resultado positivo”, diz. O Dia das Crianças, por exemplo, considerado um termômetro para o Natal, foi provavelmente o melhor dos últimos anos para o varejo – o que ainda será confirmado pelos números oficiais.
Shoppings
Os recursos extras são comemorados também pela Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), que tem cerca de 35 mil associados. O diretor institucional da entidade, Luís Augusto Ildefonso, destaca que esses recursos, aliados a taxa de juros mais baixa e à pequena melhora no mercado de trabalho, podem fazer a diferença.
A taxa Selic chegou a 5,5% em setembro, a menor da história, o que teve como reflexo a redução de juros dos bancos. A taxa de desemprego também caiu após chegar a 12,7% de desocupados no trimestre terminado em março e ficou em 11,8% no período de três meses terminado em agosto, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ildefonso afirma que os benefícios se darão em relação a dois grupos: “Consumidores endividados poderão abater suas dívidas entrado novamente no mercado de financiamento. A outra parte dos que não tinham dívidas vai ter uma renda extra que alimenta a vontade de comprar. Isso dá um alento para ter um Natal bom”, afirma.
Cautela
Apesar do otimismo, os especialistas ainda pedem cautela em relação a uma retomada do varejo. “Nada para soltar foguetes ainda”, ressalva Ildefonso, que afirma que o país precisa prosseguir em suas reformas e aumentando sua eficiência para que o comércio tenha a melhora desejada.
É consenso que o país precisa ter um crescimento maior para que os resultados na economia sejam mais expressivos. Bentes cita o fato de o Produto Interno Bruto (PIB) estar crescendo em torno de 1% ao ano desde 2017, o que é considerado pouco. Além disso, a queda no desemprego ainda patina, já que a pequena queda na taxa de desocupados foi acompanhada também de um aumento da informalidade. Segundo o IBGE, 41,3% dos ocupados são trabalhadores informais.
Temporários
A previsão de aumento de vendas também se reflete na contratação de temporários. Segundo a CNC, serão contratados 91 mil trabalhadores temporários neste fim de ano para atender ao aumento sazonal das vendas. O número é 4% maior do que o registrado em 2018 (87,5 mil). A Alshop prevê um número um pouco maior: 100 mil temporários.
De acordo com dados da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), as contratações devem aumentar 28% em comparação com o mesmo período de 2018.
Indústria
A estimativa de melhores resultados também é compartilhada pela indústria, que prevê uma leve melhora no segundo semestre. Segundo André Rebelo, economista e assessor estratégico da presidência da Fiesp, a federação das indústrias de São Paulo, um dos pontos positivos foi a produção para o Natal, em setores como os de roupas, eletrodomésticos, embalagens e alimentos.
Rebelo afirma que a economia está em expansão, puxada principalmente pelo consumo doméstico, e que isso ajuda a indústria a se refazer de perdas decorrentes da crise argentina, o principal comprador de produtos industrializados brasileiros. A venda de automóveis, por exemplo, caiu cerca de 50%.
“Deve ser um ano melhor. A gente não sabe a intensidade da retomada, ela é lenta, não sabemos se vai engrenar e acelerar. Ou se vai enganar a gente no começo deste ano”, diz.
Fonte: R7