Fazem parte ainda do ranking empresários dos setores financeiro, bebidas, investimentos e internet. Mas a mudança na composição da lista é em parte consequência das transformações que o varejo passou durante a pandemia.
De um lado, lojas foram obrigadas a vender de forma online; do outro, supermercados tiveram um aumento de demanda por alimentos, com grande parte da população em casa.
A varejista era uma das mais preparadas para a demanda online – uma alta que empresários do setor já esperavam, mas a passos mais lentos.
Hoje queridinha dos investidores a trajetória do Magazine Luiza (e de Luiza Trajano) não é só de sucesso. Fundada em 1957 em Franca, interior de São Paulo, a pequena loja de presentes, chamada a princípio de A Cristaleira, quase foi à ruína no pós-crise de 2014.
As ações, que patinavam desde o IPO em maio de 2011 e não passavam de R$ 2, caíram para centavos. E o risco de ruptura avaliado pelo mercado levou investidores a jogarem os papéis da companhia no esquecimento.
No entanto, parcerias da varejista com a Cardif e o Itaú garantiram as operações. A empresa recuperou a confiança do mercado e de meros R$ 10 mil investidos em MGLU3 naquela época se transformaram, hoje, em cerca de R$ 3 milhões.
No pós-ápice da pandemia, o Magazine Luiza chegou já anunciar aquisições, em busca de um domínio do ecossistema do varejo.
A bilionária Luiza Trajano, que já era uma referência do setor, aprofundou essa percepção do mercado e de clientes, ao defender a importância da preservação de empregos e da saúde pública.
“Não adianta abrir o comércio amanhã e as pessoas não irem às compras porque estão com medo. O que precisamos agora é de previsibilidade, saber o que vai acontecer depois do dia 4”, disse a empresária ainda em abril.
Bilionário, antes garimpeiro
Se Luiza Trajano há cerca de uma década é figura conhecida do mercado de ações, o agora bilionário Ilson Mateus ganhou mesmo os holofotes no ano passado.
Foi em 2019 que começou a surgir as primeiras notícias no âmbito nacional sobre a intensão do controladores do Grupo Mateus de abrir o capital da empresa.
A pandemia atrasou os planos da companhia, mas em agosto o primeiro ponta-pé de entrada ao mercado financeiro foi dado: a empresa divulgou um prospecto preliminar, primeiro documento aos futuros investidores.
Ilson contou em mais de uma ocasião a reportagens locais que passou a ir até Balsas em 1984 para vender refrigerante, mas viu a demanda aumentar para outros produtos. Em dois anos, já abria uma pequena mercearia na cidade.
“Acredito que cheguei no lugar certo, na hora certa”, disse o empresário a um programa de TV local. “Nessa época, fazia várias viagens para Goiânia e São Paulo em busca de hortifruti”.
O modesto comércio evoluiu para um grande supermercado na esteira da economia de Balsas – considerada um “novo Eldorado” nos anos 1990.
Hoje, segundo a Abras (Associação Brasileira de Supermercados), o Grupo Mateus é a quarta maior empresa do varejo alimentar no Brasil.
Tudo indica que a abertura de capital da empresa deve dar um outro impulso à fortuna de Ilson, já que ele e os outros acionistas controladores vão embolsar parte do dinheiro levantado.
Hoje, a fortuna de Ilson Mateus chega a R$ 20 bilhões, segundo o levantamento da Forbes.
O peso da jabuticaba
A presença de Luciano Hang entre os 10 mais ricos, com um patrimônio de R$ 18,7 bilhões, chama a atenção em um primeiro momento porque, em tese, a empresa dele não estaria entre as mais beneficiadas pela pandemia.
A Havan não tem uma forte operação online e nem tem como destaque a venda de alimentos. No entanto, a companhia do bilionário passa por um bom momento e está prestes a abrir capital na bolsa.
Entre potenciais investidores, a empresa é apresentada como uma “jabuticaba”, segundo reportagem do Valor Econômico – uma varejista com 150 megalojas que vende 250 mil itens dos mais diversos tipos.
Luciano Hang também embolsaria parte do dinheiro do IPO da Havan. Ele fundou a empresa há 34 anos – embora últimos anos tenha ocupado os holofotes pela atuação política: contra o PT e a favor do hoje presidente Jair Bolsonaro.
O bilionário é, inclusive, alvo do inquérito das fake news por vínculo com ações de disseminação de notícias falsas e ameaças a ministros do Supremo. A investigação corre em sigilo.
Em junho, a Receita Federal apontou a sonegação de contribuição previdenciária por parte da Havan. Em valores corrigidos, o crédito tributário cobrado alcançava R$ 2,4 milhões.
Na época, a empresa respondeu a reportagem por meio do departamento jurídico, disse que “a denúncia é velha” e “sequer foi aceita, por inépcia”.
Os 10 mais ricos
A lista dos 10 mais ricos da Forbes ainda teve uma mudança significativa neste ano: o bilionário Joseph Safra desbancou Jorge Paulo Lemann do topo. Veja o ranking, setor de atuação de cada empresário e o patrimônio.
- Joseph Safra (setor financeiro) – Patrimônio: R$ 119 bilhões
- Jorge Paulo Lemann (Bebidas e investimentos) – Patrimônio: R$ 91 bilhões
- Eduardo Saverin (Investimentos/Internet) – Patrimônio: R$ 68 bilhões
- Marcel Telles (Bebidas e investimentos) – Patrimônio: R$ 54 bilhões
- Carlos Alberto Sicupira e família (Bebidas e investimentos) – Patrimônio: R$ 42,6 bilhões
- Alexandre Behring (Investimentos) – Patrimônio: R$ 34,3 bilhões
- André Esteves (Setor financeiro) – Patrimônio: R$ 24,9 bilhões
- Luiza Trajano (Varejo) – Patrimônio: R$ 24 bilhões
- Ilson Mateus (Varejo) – Patrimônio: R$ 20 bilhões
- Luciano Hang (Varejo) – Patrimônio: R$ 18,7 bilhões
Fonte: Seu Dinheiro