A segunda melhor data para o comércio brasileiro e a primeira para o e-commerce, a Black Friday, 27 de novembro neste ano, traz da China uma novidade para os brasileiros: o “shopstreaming” ou “liveshopping”, que por lá movimenta milhares de vendedores on-line e mais de US$ 100 bilhões.
A nova ferramenta de marketing junta entretenimento e venda. E permite que o consumidor na mesma tela em que acompanha um evento, selecione, tire dúvidas e compre um produto de sua preferência.
O desafio aconteceu durante o Dia do Solteiro, em 11 de novembro, data inventada por Ma em 2009 e que se tornou um grande evento de vendas e comemorações na China. No ano passado, só o Alibaba vendeu US$ 58 bilhões em um só dia, três vezes mais que todo e-commerce brasileiro em um ano.
Jack Ma escolheu um adversário duro para o desafio. Conhecido como “Lábios de ferro” nas redes sociais, Li experimenta centenas de marcas de batom, explicando as qualidades de cada uma delas, em eventos que duram horas.
O “liveshopping” é um modelo parecido aos dos conhecidos canais de venda pela TV, onde apresentadores mostram repetidamente produtos para levar o telespectador a um compra por telefone ou a uma loja virtual.
A internet imprime velocidade a esse tipo de venda. “Um caminho mais curto entre o vendedor e o consumidor”, afirma Pedro Alvim, de 32 anos, que comanda o marketing digital do Magazine Luiza.
No mercado brasileiro, esse nono canal de marketing e vendas foi experimentado com café, em vez de batom. Em uma hora de vendas on-line, pelo aplicativo do Magazine Luiza, a venda de quatro lojas conectadas foi multiplicada por 100. Em um dia faturaram o que conseguiriam em um mês.
“É um modelo que vem sendo aprimorado”, diz Alvim. Desde 2014, a varejista vem avançando no meio digital. Foi a primeira varejista a fazer uma apresentação ao vivo, ou uma “live “ no Youtube, lembra Alvim.
Na Black Friday do ano passado a varejista testou, junto com a TV Globo, plataformas on- line, influenciafdores ao vivo, e duas horas de entretenimento junto com vendas. Faturaram quase um milhão de rolos de papel higiênico, 400 mil pilhas, 50 mil tevês e 75 mil celulares, segundo dados da empresa.
Animado e orgulhoso com os resultados, Alvim gostaria de conhecer in loco o funcionamento do “shopstreaming”, depois da pandemia. “A China tem sido um celeiro de inovação em diversos segmentos”, diz ele. As plataformas para vender produtos estão mais aprimoradas por lá, diz.
A concorrente B2W, dona das Americanas, Submarino e Shoptime, vem testando o formato, mas é na próxima Black Friday, em 27 de novembro, que vai estreá-lo em grande estilo.
A eficiência de venda do “shopstreaming” já deu algumas amostras em números, segundo Rocha. Oito vezes mais conversões (compras) do que um produto que não está sendo apresentado; dez vezes mais visitas e três vezes mais tempo do cliente no site.
Além da própria rede de informação da empresa na China, a Americanas contratou a influenciadora da área de beleza Camila Coutinho como curadora e participante, para os eventos on-line.
Rocha conta que ela esteve na China pouco antes da pandemia para observar o fenômeno do “shopstreaming” chinês. O próprio Rocha vai esperar o fim das limitações impostas pela doença para observar in loco a febre dos vendedores on-line.
Para ele, o fenômeno chinês tem grande chance de se reproduzir no Brasil, já que os brasileiros são os que mais usam redes sociais no mundo, 80%, mais que os 74% do leste da Ásia. É também o terceiro do mundo que mais gasta tempo em redes sociais, 3h38m, segundo dados da plataforma de pesquisas Hootsuite, para o primeiro semestre de 2020.
A Agência iD/TBWA usou a facilidade de ter uma de suas sucursais na China e recebeu de lá as indicações para montar uma “live store” (loja ao vivo, na tradução livre) para a operadora de telefonia Claro. Já está no ar, mas terá na Black Friday sua grande oportunidade de vendas.
A CEO da agência, Camila Costa, conta que desde março montou com seu time de inovação uma proposta para oferecer a nova modalidade para seus clientes. A Claro gostou da ideia e montou uma réplica de uma loja física para começar as vendas on-line.
O “shopstreaming” atraiu também a atenção de Gustavo Furtado, diretor executivo da loja de artigos esportivos Centauro, que foi à China no início do ano. “Todos estavam falando num superaplicativo, que concentraria todos os serviços e dominaria o mercado”, lembra.
Lá, ele observou a força da venda do marketing dos influenciadores. Mas ressalta que não dá para copiar “o cenário da China para a realidade brasileira. Tudo que acontece lá em termos de tecnologia é muito rápido”, atesta. “Eles são muito pouco ortodoxos”.
Furtado ficou impressionado como tudo está interligado e as pequenas inovações são acrescentadas a todo o momento. Há também, observou o empresário nas grandes cidades que visitou, um grande sistema de coleta de dados pelo governo, com câmeras e sensores em todos os lugares.
Algumas subversões da lógica digital também já podem ser vistas entre os chineses, segundo Furtado. Um cadeia de lojas físicas que começou com poucas unidades no ano 2.000 já tem 10 mil lojas físicas para dar conta das encomendas feitas pela internet.
Um desafio para o varejo, segundo ele, é sobreviver aos gigantes do e-commerce, Alibaba e Tencent. “Todo mundo tem que ajoelhar para eles”, afirma. Ao mesmo tempo, ressalta, a tecnologia aproxima o vendedor do consumidor com muita eficiência.
“Um pequeno artesão, mostra como faz seu produto e vende direto a quem estiver acompanhando, um agricultor mostra como cultiva sua laranja e vende on-line”, conta o empresário.
Ele diz acreditar que o avanço da tecnologia de meios de pagamento vem facilitando as vendas pela internet cada vez mais. “Não se vê dinheiro mais na China, eles pularam essa etapa dos bancos, é tudo QR Code. Até mendigo carrega um QR code para pedir esmola”, brinca.
Fonte: Valor Econômico