Equilíbrio de contas e tecnologia estão entre as tendências de varejo para ficar de olho no próximo ano
Por Paulo Gratão
O avanço da vacinação contra a covid-19 e a reabertura da economia se anunciavam como uma luz no fim do túnel para o varejo — no entanto, parece que a caminhada deve ser um pouco mais longa do que o previsto. Entre agosto e outubro de 2021, o setor acumulou uma queda de 5,2% nas vendas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Desde o início da pandemia, o maior volume de vendas no varejo aconteceu em novembro de 2020, durante a vigência da primeira rodada do auxílio emergencial de R$ 600. O cenário atual, com o Auxílio Brasil de R$ 400 e menos pessoas assistidas, é menos animador. Essa incerteza, aliada a fatores como a continuidade da pandemia, inflação de dois dígitos e um ano eleitoral conturbado, faz de 2022 um dos períodos mais indefinidos para especialistas. “Dependendo do que acontecer com esse conjunto de variáveis, podemos ter um ano bom ou muito ruim”, diz Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC).
De acordo com ele, a incerteza sobre a o prolongamento da pandemia, com a variante ômicron e a baixa cobertura vacinal em outros países, além da inflação e da reação do mercado aos nomes que podem dominar as urnas eleitorais no próximo ano fazem de 2022 um ano coberto por neblina.
Apesar disso, há transformações ativas acontecendo na forma de se fazer varejo, puxadas principalmente pelos novos hábitos de consumo e a disponibilidade de tecnologias. Startups totalmente voltadas para o setor, as retailtechs, entraram de vez na mira de investidores e algumas marcas já estão expandindo suas soluções, oferecendo até mesmo serviços bancários e financeiros para consumidores.
Diversas tendências tecnológicas foram adiantadas em anos, e o setor tem agora o desafio de acomodar o futuro que chegou antes da hora, mas oportunamente, aos negócios.
Desafio dos custos
A calculadora não deve sair tão cedo da mão dos varejistas. De acordo com o último Boletim Focus, o IPCA deve fechar 2021 em 10,05%. Para 2022, a previsão é que chegue a 5,02%, acima do teto da meta. Com isso, o varejo já começa a corrida do novo ano alguns passos atrás de outros segmentos para se adaptar ao bolso esvaziado do consumidor — e sem possibilidade de repassar todo o aumento de custo.
“Uma das consequências da crise econômica é que os efeitos, como sempre ocorre, arrebentam do lado mais fraco. Isso não se aplica somente aos consumidores que pagam pelo produto, mas também aos pequenos negócios. A inflação entra como um imposto. E um imposto muito caro”, diz Felisoni.
Mais tecnologia com 5G
Após anos de espera, finalmente o Brasil avançou na pauta do 5G. O mercado deve observar os investimentos ao longo de 2022, com algumas amostras reais de como o varejo poderá se beneficiar da tecnologia. “Não traz apenas velocidade, mas latência e conexão para as lojas. Depois do avanço da digitalização durante a pandemia, essa nova fase é um ponto importante para observarmos”, afirma Terra.
Digitalização e experiência
Hábitos e conveniências adquiridos não ficarão para trás. O consumidor vai continuar, cada vez mais, querendo comprar digitalmente e ter experiências nas lojas. A briga será pelo menor prazo de entrega — o que deverá contar com o apoio das lojas físicas.
“Boa parte das pessoas vai ao supermercado por necessidade de abastecimento, não por prazer. É diferente de ir comprar um vestido: existe uma experiência. Essas coisas começam a ser modificadas, e o e-commerce assumirá um papel cada vez maior nessa seara de compras recorrentes”, afirma Felisoni.
Transformação dos pontos de venda
Se tem algo que a pandemia provou é que a loja física continua relevante, mesmo com o advento do digital. No entanto, ela ganha novas características. Os pontos deixam de ser meramente transacionais e passam a oferecer experiências. Agora o cliente só vai até à loja se e quando quiser.
Dessa forma, é preciso que o ponto esteja preparado para se tornar um mini centro de distribuição, com estoque de compras recorrentes que possam ser entregues rapidamente — mas também que proporcione experiência a quem decidir visitar o estabelecimento.
“A loja física ajuda a viabilizar o digital, e o varejo começa a ter uma expansão mais racional, olhando para uma malha ideal de lojas da marca”, diz Terra.
Fonte: PEGN