C&A, Renner e Dafiti apostam em centros de distribuição automatizados
Por Daniela Braun
Com a ajuda de robôs selecionando produtos em estoque, grandes varejistas de moda como C&A e Renner buscam reduzir prazos de entrega e aumentar as vendas por múltiplos canais, on-line e físico.
A inclusão de robôs no processo de seleção e separação de produtos em estoque já ocorre há cerca de dez anos no país, informa Marcelo Prado, diretor da consultoria IEMI Inteligência de Mercado. O que mudou agora, segundo ele, foi a pressão da demanda pela integração de canais de distribuição desde o início da pandemia, com o crescimento das vendas on-line.
“Não se trata mais de transportar produtos em cabides embalados para exposição na loja, mas de colocar uma peça dentro de uma caixinha com um rótulo”, explica Prado. “É preciso combinar automação com processo manual e os investimentos nesse sentido devem disparar”, prevê.
No início de novembro, a C&A colocou em prática uma operação robotizada em seu centro de distribuição, em Cotia (SP). Em um mês, a empresa diminuiu o tempo de entrega de pedidos on-line pela metade na região metropolitana de São Paulo, informa Alan Yarschel, diretor de cadeia de suprimentos da C&A.
“Com a seleção de produtos feita por robôs, um colaborador consegue empacotar até quatro pedidos simultâneos em cinco minutos, enquanto o processo manual levava de uma a duas horas.”
Munidos de um sistema de inteligência artificial, os robôs fornecidos pela alemã Knapp selecionam os itens de cada encomenda e os colocam em uma esteira que os leva direto à sacola do cliente. Com o tempo, eles aprendem quais são os produtos mais pedidos e reorganizam o estoque de forma autônoma.
O resultado, segundo Yarschel, foi uma redução de 80% a 90% nas margens de erro das encomendas e a redução do prazo de entrega dois dias, para um dia, permitindo envios no mesmo dia, em 70% a 80% das entregas na região metropolitana. “Essa informação de entrega mais rápida faz diferença na decisão de compra da cliente”, diz o diretor de cadeia de suprimentos, que também notou uma taxa 20% maior de vendas efetivadas desde o início do novo sistema.
A rede Lojas Renner tem planos ambiciosos de robotização para o novo centro de distribuição que vai inaugurar em Cabreúva, no interior de São Paulo, no ano que vem. Dos R$ 750 milhões investidos no novo centro, R$ 453 milhões foram dedicados à modernização do processo logístico que atenderá tanto a demanda dos canais digitais como de lojas físicas.
Pelo novo sistema, 312 robôs buscam e separam os produtos dobrados no estoque. Já um segundo equipamento robotizado recebe os produtos de todos os tipos da armazenagem, sejam roupas dobradas, em cabides ou outros itens como perfumes, relógios e calçados. Este equipamento agrupa os produtos tanto para os pedidos das lojas como de clientes on-line
“É uma tecnologia muito inovadora que permite fazer toda a separação de forma automatizada e simultânea entre os canais e as diferentes empresas do grupo como Ashua, Camicado e Youcom”, destaca Alexandre Aires, gerente geral de logística da Lojas Renner.
Em um primeiro momento, os robôs atuarão em 12 corredores, com 16 metros de altura cada, mas o projeto, que começou a ser desenhado em 2018, prevê o dobro da estrutura, com 624 robôs, conforme o aumento da demanda, informa o executivo.
Com a operação iniciada, a Renner prevê entregas de diferentes marcas do grupo em um mesmo envio e ainda planeja o serviço de gestão e armazenamento de estoque (fulfillment) para as lojas parceiras do seu shopping virtual (marketplace).
A C&A não revela o investimento no projeto de modernização logística, que teve início no fim do ano passado e inclui a modernização de todos o sistema de gestão de armazenagem e identificação de itens por rádio-frequência (RFID, na sigla em inglês) contemplando múltiplos canais de venda.
O salto no investimento da empresa em cadeia de suprimentos de R$ 8 milhões, entre janeiro e setembro de 2020, para R$ 100,8 milhões nos nove meses deste ano, já sinaliza que o aporte no projeto foi significativo.
O nível de automação com robôs também é adotado por concorrentes nativos digitais do varejo de moda como o Grupo Dafiti. Desde fevereiro, cerca de 450 mil caixas são manipuladas e organizadas por quase 300 robôs no centro de distribuição da Dafiti, em Extrema (MG). Segundo a varejista on-line, a capacidade de armazenamento dentro do sistema automatizado chega a 3,6 milhões de produtos.
A robotização também é aplicada em outros setores como o de cosméticos e perfumaria. A Natura conta com robôs em seu centro de distribuição em São Paulo desde o início de 2013. “Há robôs que abastecem o estoque das linhas de separação e garantem maior eficiência em momentos sazonais como o Natura Friday”, diz Leonardo Romano, diretor de cadeia de suprimentos e inovação logística de Natura &Co América Latina, referindo-se às promoções da empresa de cosméticos na Black Friday.
Nos últimos três anos, segundo Romano, a empresa reduziu o tempo de despacho de pedidos de três a cinco dias, em relação à operação de um centro de distribuição não automatizado.
Fonte: Valor Econômico