Marcas de luxo prosperam em São Paulo e conquistam clientes com lojas recém-inauguradas e mimos nas plataformas on-line
Por Humberto Abdo
Enquanto mais de 20 000 lojas em São Paulo fecharam as portas em 2020, o mercado de luxo ainda aparenta viver muito bem, obrigado. “Tivemos uma performance impressionante no semestre passado”, admira-se Cristina Betts, CFO da Rede Iguatemi. “Como ninguém pôde viajar, o consumo ficou concentrado no Brasil e todas as marcas de luxo tiveram um desempenho excepcional, com vendas melhores que nos meses de 2019. Só os cinemas e as redes de fast-food continuam sofrendo porque as restrições são maiores.” Além das europeias Salvatore Ferragamo e Balenciaga inauguradas no JK Iguatemi, destacaram-se marcas como a francesa Cartier e a americana Tommy Hilfiger — cujas vendas de moletons cresceram 680% desde janeiro. “Na América Latina, a pandemia criou confiança na experiência da compra on-line e as joias e relógios de alto valor agregado, por se tratarem de bens duráveis, foram destaque”, conta Maxime Tarneaud, gerente-geral da Cartier no Brasil. “Entre os principais best-sellers no e-commerce estão alianças e pulseiras que variam de 8 250 a 23 700 reais.”
Na plataforma Farfetch, a venda de joias e relógios também teve crescimento de 60% entre os meses de abril e julho de 2020, e cinco automóveis BMW no valor de 1 milhão de reais cada um foram negociados em apenas uma semana. No site de vendas da rede de shopping centers, batizado de Iguatemi 365, mais de vinte lojas estrearam no último semestre. “E estamos disponíveis em 3 300 cidades brasileiras”, complementa Betts. “Antes de lançarmos o site em 2019, tivemos o cuidado de desenhar as caixas e os envelopes, e temos uma essência para os clientes sentirem aquele cheirinho de loja.”
Com dois armazéns no estado, a Synapcom comanda toda a logística das vendas on-line de marcas como Calvin Klein, Tommy Hilfiger e Herman Miller — que também dão atenção especial ao processo de empacotamento. “Várias lojas têm seu próprio cheiro borrifado direto na caixa e, no caso da Swarovski, o produto só é preparado por mulheres, que são mais delicadas no manuseio da embalagem e têm de fazer um laço perfeitinho ensinado pelo time da joalheria”, explica Eduardo Fregonesi, CEO e cofundador da empresa de full commerce, que fornece toda a estrutura personalizada de um comércio eletrônico às marcas premium. Em 2020, a Synapcom registrou crescimento de 175% em relação ao ano anterior e investiu 10 milhões de reais no novo centro de distribuição, em Itapevi. “Nossas prateleiras têm um pouco de tudo: livros, roupas, cadeiras e uísque.”
“De joias e acessórios a sapatos e vestuário feminino, todos os segmentos de luxo cresceram”, estima Robert Harley Bruce, CEO da JHSF Malls, responsável pelos shoppings Cidade Jardim e CJ Shops. Entre novembro e dezembro deste ano, o grupo planeja reforçar suas opções de selos masculinos com as italianas Brioni e Fratelli Rossetti. “No catálogo on-line, hoje já temos mais de 750 marcas.”
Para todo item comum encontrado na internet ou nas vitrines, existe uma versão mais refinada e mais cara — até mesa de pebolim versão deluxe, como a da Mula Preta, vendida por 32 119 reais e feita de acrílico, metal e vidro. Mas extravagâncias à parte, os profissionais desse setor concordam que o mais importante para conquistar seus clientes quase sempre é o conforto e a exclusividade. Esse é o caso da Drive Select, a “Netflix” dos carros de luxo. “Há um ano e meio, notamos a necessidade desse público de não só alugar um carro, mas também receber uma gama de mimos e ter a praticidade de só dirigir e abastecer”, afirma o gestor Marcel Ribeiro. A assinatura costuma custar 7 000 reais por mês para carros que valem, em média, 250 000 reais, e o serviço cobre todos os custos do veículo (normalmente um modelo blindado), como manutenção, vistoria, IPVA e a troca em caso de acidente. No início do ano, a Audi também entrou no jogo e lançou a Audi Luxury Signature, com assinaturas a partir de 10 490 reais. “Viramos o mordomo e o concierge do carro”, resume Ribeiro.
Com as viagens adiadas, as brasileiras também deram mais trabalho (e lucro) a estilistas paulistanas. “As tendências da alta-costura internacional só chegavam ao país um ano depois e elas, que antes frequentavam a Europa, já me pedem as peças que estão surgindo nos desfiles”, conta Ellen Sharkany, que mantém um ateliê na Alameda Santos e uma loja na Itália. Para Lethicia Bronstein, famosa pelos vestidos de noiva confeccionados no Itaim Bibi, esse novo comportamento das clientes incentivou a abertura de sua nova loja de peças casuais e ajudou a enfrentar o período sem as cerimônias de casamento. “Elas se abriram para conhecer a moda nacional com um olhar mais carinhoso, o que foi uma supervantagem para nós”, comemora. “A desvantagem foi a internet e as influenciadoras, que nem sempre seguem um critério na escolha dos produtos e o que é lindo na foto nem sempre é tão bacana ao vivo.”
Mas a influencer Isa Domingues garante: tudo o que aparece em seu perfil passa por uma curadoria pessoal. Em lives semanais, ela se tornou uma vitrine para as marcas brasileiras. “Elas entenderam que assim a venda fica mais gostosa”, opina. “O nicho das live commerces já bombava na China e na Europa, mas ainda é algo recente no Brasil.”
No nicho dos itens para a casa, a alemã Miele é um dos nomes mais novos lançados no país. “Os produtos são feitos nas fábricas próprias da Miele, na Alemanha e em países vizinhos, e os refrigeradores e fornos combinados a vapor estão entre os mais vendidos”, conta Evandro Kherlakian Jr., diretor da marca de equipamentos para cozinhas e lavanderias. “Com 200 000 a 300 000 reais, o cliente consegue ter uma cozinha com todos os equipamentos necessários.”
Fonte: Veja SP