Após 12 meses complicados, o cenário econômico seguirá desafiador para os supermercados no início de 2017, mas a boa notícia é que a situação tende a melhorar ao longo do ano. Para Ricardo Amorim, CEO da Ricam Consultoria e comentarista do programa de TV Manhattan Connection, a maior dificuldade que o setor encontrará é a taxa de desemprego ainda alta no começo do ano – quadro que deve ser revertido no segundo semestre.
Para Amorim, os sinais de retomada econômica já deveriam se intensificar neste final de ano, algo postergado pela vitória de Donald Trump nos EUA. Um dos efeitos foi a alta do dólar, moeda cujo câmbio vinha em queda desde o início de 2016. Além de encarecer produtos importados, caso sustentada por mais tempo, essa alta pode fazer com que os juros caiam mais lentamente. “Isso é especialmente importante porque a queda de juros deveria ser o principal motor do aumento de consumo no Brasil, do crescimento das empresas e da recuperação do mercado de trabalho”, afirma.
O varejo alimentar é, porém, o primeiro segmento a se recuperar. “Logo que a economia começa a reaquecer, o consumidor volta a adquirir os produtos que tinha cortado. E, num segundo momento, passa a buscar itens e marcas de maior valor”, afirma o economista.
“Por mais desafios que o novo ano traga, vale reforçar que grande parte do resultado depende da gestão do supermercado e do trabalho da equipe”, Frederico Perdigão, Sócio-consultor do Instituto Aquila.
Projeções para a economia
Comparado a este ano, 2017 deverá ser melhor. Um dos indicadores mais favoráveis é a inflação. A projeção é de fechar abaixo de 5%, enquanto em 2016 deverá ficar em 6,8%. Ano passado, a taxa foi de 10,7%
PIB – 3,4 (2016), 1,0 (2017)
Vendas no Varejo – Restrita* – 6,5 (2016), 1,0 (2017)
Massa Salarial – 4,3 (2016), 1,3 (2017)
Rendimento Médio Real – IBGE – 2,5 (2016), 1,0 (2017)
Inflação IPCA 6,8 (2016), 4,7 (2017)
Fonte: Equipe Econômica do Bradesco/Economia em Dia, atualizado em 04/11/2016 –
*Exclui veículos, motos, peças e material de construção
No cenário nacional, mudanças propostas pelo governo devem trazer bons efeitos. Uma dessas ações é a polêmica redução dos gastos públicos. Há receio de que, com o governo colocando menos dinheiro na economia, ocorra impacto negativo no consumo, principalmente por conta de medidas como menor reajuste do salário mínimo, redução do número de funcionários públicos e menor remuneração desses servidores. A preocupação tem suas razões. Ricardo Amorim lembra, porém, a expectativa de que essas medidas signifiquem a recuperação da confiança no Brasil, o que elevará os investimentos por parte das empresas. O raciocínio é simples: empresas ampliando investimentos contratam mais, o que leva a uma melhora no mercado de trabalho e, por consequência, a maior consumo. Além disso, uma possível redução no déficit público – ocasionada pela diminuição nos gastos do governo – leva à queda da taxa de juros, uma vez que, ao tomar menos dinheiro emprestado, o governo não compete tanto com empresas e pessoas físicas que precisam de crédito. “O resultado líquido disso provavelmente será positivo para os supermercados”, acredita Ricardo Amorim.
Benéfica também deve ser a reforma trabalhista, ainda em discussão. Um dos tópicos principais, a flexibilização da jornada, pode ajudar a otimizar os recursos das empresas, resultando em redução de custos. Outro ponto importante, conforme destaca o CEO da Ricam Consultoria, é a possível desoneração da folha de pagamento. “Pode fazer com que as empresas contratem mais, o que melhora a atividade econômica para todos”, afirma Amorim.
Para o economista, CEO da Ricam Consultoria e comentarista do programa Manhattan Connection, avanço dos indicadores será gradual ao longo do ano que vem
Inflação
Segue a trajetória de queda. Desde que não ocorra uma elevação forte da taxa de câmbio, influenciada por dificuldades do cenário externo, é provável que essa queda seja superior à projetada hoje, abrindo espaço também para uma maior queda de juros
PIB
Deve surpreender positivamente, também com a condição de que não haja cenário externo de crise
Consumo das Familias
Tende a se fortalecer em 2017
Renda media do brasileiro
Segue em contração no começo do ano – com desemprego ainda elevado – mas passa a registrar expansão na segunda metade de 2017
Desemprego
A taxa deve começar o ano ainda em alta, mas isso se reverte com o passar dos meses, terminando 2017 em nível mais baixo em relação ao atual
Vendas do varejo alimentar
O desempenho em 2017 será melhor na comparação com ano anterior. Quadro ainda estará difícil nos primeiros meses, tornando-se mais favorável no caminho até o final do ano
Revisão das Despesas
Se o momento econômico dificulta atrair clientes e elevar o volume de vendas, cortar despesas é uma iniciativa que depende apenas da empresa, conforme lembra Frederico Perdigão, sócio-consultor do Instituto Aquila. Uma forma eficiente de se fazer isso, segundo o especialista, é realizar o Orçamento Base Zero (OBZ), modelo que desconsidera o histórico orçamentário, analisando a partir do zero cada setor, no intuito de definir quais recursos são realmente necessários. Mesmo quem não vai implantar toda a ferramenta pode utilizar conceitos do OBZ, como o de “limiar”: mínimo de recursos necessários para a operação.
Rodrigo Righi, consultor da Galeazzi & Associados, ressalta que todo gasto precisa estar atrelado a um benefício para a empresa. E esse é o momento para reparar erros clássicos, conforme exemplifica o especialista: as empresas costumam ter um encarregado para cuidar dos repositores, que fazem um trabalho fundamental. Como nem sempre o trabalho de reposição é bem-feito, acima do encarregado é comum haver ainda um líder. “É um profissional a mais na hierarquia que está lá apenas para cobrir uma ineficiência, quando na verdade ela deveria ser corrigida”, comenta o consultor. Caso sua loja tenha – em qualquer setor – distorções como essa, a recomendação é utilizar o alto turnover para ajustar as equipes.
Estratégia Clara
Outra correção importante, caso ainda não tenha sido feita, é definir bem a identidade, o posicionamento, a forma como seu supermercado quer ser reconhecido: por preço, conveniência, variedade, etc. Afinal, lembra Frederico Perdigão, do Instituto Aquila, 2017 deve seguir com disputa acirrada por vendas e dificuldade para as empresas do setor conquistarem market share. Sem um posicionamento claro, as dificuldades são ainda maiores para atrair clientes. Quem tem como estratégia ser conhecido pelos preços baixos, por exemplo, precisa de promoções agressivas, mas sem descuidar das margens. Oferecer bons preços nas categorias destino pode ser boa estratégia, uma vez que elas atraem público.
Por mais desafios que o novo ano traga, vale reforçar que grande parte dos resultados depende da sua gestão e do trabalho da equipe, conforme resume o sócio-consultor do Instituto Aquila: “Supermercado mal operado é um péssimo negócio. Já supermercado com operação ajustada, boa reposição, controle de ruptura, pode ser ótimo negócio”.