O desenvolvimento do comércio eletrônico sempre foi um desafio significativo para o varejo brasileiro. O sistema tributário irracional, os gargalos logísticos, as dificuldades de importação, o alto custo da tecnologia, o comportamento do consumidor, com pouca maturidade digital, tudo isso compôs um quadro de extremas dificuldades para permitir um crescimento sustentado das vendas por canais digitais.
Nos últimos anos, essa situação foi se modificando. O e-commerce crescia ano após ano, mas não chegava a realmente ofuscar a performance e as vendas das lojas físicas. Redes que foram bem-sucedidas na digitalização, como Magalu e players puros digitais como o Mercado Livre eram exceções excepcionais. Ainda assim, nos anos de 2018 e 2019, varejistas tradicionais foram estruturando sua estratégia de canais e fizeram o digital ganhar relevância e certo protagonismo. E então, veio 2020.
Os últimos meses foram um divisor de águas na história do e-commerce brasileiro. Com a chegada da pandemia, não havia opção. Tudo foi radicalmente transformado. O número de vítimas da pandemia no Brasil foi devastador, com mais de oito milhões de infectados e mais de 200.000 mortes. Mais do que nunca, o comércio eletrônico se tornou o padrão e principalmente a único forma de manter o negócio vivo. E então, a criatividade brasileira introduziu novas maneiras de acompanhar a tendência digital. Pequenos varejistas encontraram no Whatsapp a ferramenta mais eficiente para falar direto com seus principais clientes.
O que pudemos mostrar para o mundo
Agora em dezembro, pudemos reportar a espetacular performance de nosso e-commerce para a comunidade do World Retail Congress – WRC, a mais importante reunião de grandes varejistas mundiais. Por conta da pandemia, o WRC publicou mensalmente uma revista digital trazendo reportagens e análises do varejo nos quatro cantos do globo. E, novamente, tivemos o privilégio de comentar sobre o que acontecia no mercado brasileiro para esse magnífico grupo de executivos.
Em nosso artigo, demonstramos o quanto o comércio eletrônico se tornou uma realidade em todo o país. A maioria dos varejistas transformou todo o modelo de negócios apenas no segundo trimestre. Um marco de uma extraordinária – e acelerada – mudança de empresas que conseguiram construir em meses o que estavam planejando originalmente para três anos. Vejamos alguns números que compartilhamos com o WRC:
- Dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC) apontam para crescimento geral de 61,4% nas vendas pelo canal eletrônico no país, diante de modestíssimos 1,1% nas lojas físicas em 2020;
- O crescimento real das vendas apenas de redes de comércio eletrônico puro (sem lojas), foi de 45% entre março e setembro deste ano, segundo dados da Receita Federal do Brasil;
- Os varejistas que operam no marketplaces movimentaram R$ 30 bilhões (cerca de US$ 5 bilhões) somente no primeiro semestre do ano, segundo dados da Ebit/Nielsen. O Mercado Livre, maior plataforma de e-commerce do país entregou 157, 5 milhões de itens somente no segundo trimestre do ano, no mesmo período, a B2W, grande operador de comércio eletrônico do país, viu a participação do marketplace saltar de 28,9% para 61,2% do total das vendas.
Uma empresa brasileira que enfrenta a segunda pandemia de sua história
Esses números refletem o sucesso de algumas empresas que souberam se adaptar rapidamente às circunstâncias de mercado e exibiram resultados espetaculares ao longo deste ano. Um case em especial merece destaque. Falo da Raia-Drogasil, maior rede de farmácias do Brasil, e uma das poucas varejistas que enfrenta a segunda pandemia de sua história. Segundo Vitor Bertoncini, diretor de marketing da empresa, em 1918, no auge da pandemia da gripe espanhola, a Raia já atendia seus clientes na cidade de Araraquara, no interior de São Paulo. A empresa é hoje a 7º maior varejista nacional (havia projetado cerca de R$ 20 bilhões ou US$ 3,5 bilhões de faturamento para 2020), com mais de 2.200 lojas em quase 400 cidades e 40 milhões de clientes ativos, realiza 260 milhões de atendimentos por ano.
Não pudemos, claro, deixar de citar a Magalu, que seguiu sua trajetória ascendente na Bolsa de Valores e atingiu um valor de mercado superior a R$ 170 bilhões (praticamente US$ 30 bilhões) no início de novembro, atingindo um valor triplo-dígito-médio acima de 100% neste mês de Black Friday, além contabilizar um substancial aumento de 10% em sua participação no mercado formal de e-commerce do país (dados da Infomoney).
Tudo isso prova que o varejo brasileiro está comprometido com a transformação digital do varejo no Brasil, com crescimento consistente em escala e lucratividade. Funcionou bem no ano chocante de 2020, porém a luta por fornecer uma melhor experiência ao cliente no longo prazo está apenas no início. E esta será a verdadeira vacina para os vencedores do varejo.
Não há dúvidas de que os aprendizados de 2020 serão extremamente valiosos para o novo ano. O fato é que o varejo e o consumidor brasileiro aprenderam de fato a usufruírem das possibilidades da digitalização. Em 2021, veremos o triunfo do comércio “phygital”, híbrido, com uniformidade na experiência dos canais e fluidez absoluta na jornada do cliente. A rigor, o novo ano, promete ser mais saudável para todo o ecossistema de empresas e consumidores que fazem do varejo brasileiro um dos mercados mais maravilhosos e estimulantes do mundo.
Fonte: Consumidor Moderno