Nesta edição da Black Friday, as associações do setor e consultorias estimam aumento de 7,5% a 10% nas vendas totais do comércio, em relação a 2018. Para os estoques acompanharem essas projeções, as redes reforçaram as compras de determinadas categorias de produtos nas últimas semanas, por meio de “contratos de oportunidade”. Apesar do estardalhaço dos lojistas em torno de descontos de até 80%, as ações promocionais se concentram em reduções de preços abaixo dessa taxa, e em produtos comprados para a data, dizem lojistas e consultorias.
“Houve um aumento do chamado ‘estoque cirúrgico’, em contratos comerciais destinados para ações em novembro. A desova de encalhe mesmo na Black Friday não deve ser tão significativa”, diz Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC). “Muitas varejistas fizeram suas baixas de estoques antigos antes de novembro. O que há nas lojas hoje é produto comprado de forma planejada, inclusive de linha de produtos premium, com descontos menos agressivos para garantir rentabilidade sobre a mercadoria”, afirma Henrique Mascarenhas, diretor da consultoria GfK.
No grupo das dez empresas de capital aberto avaliadas para o cálculo de estoque da reportagem estão GPA, Carrefour, Lojas Americanas, B2W, Via Varejo, Magazine Luiza, Renner, Guararapes (dona da Riachuelo), Marisa e Centauro.
No começo do segundo semestre, três meses antes da Black Friday, o Magazine Luiza anunciou ao mercado uma “desova de itens não sadios”, para abrir espaço para a entrada de produtos novos em seus estoques. Cerca de R$ 60 milhões em produtos estocados já entraram como perda no balanço de julho a setembro — no ano anterior, a linha “aumento de provisão para perdas de estoques” não aparecia no relatório de resultados. No ano, até setembro são R$ 236 milhões em provisão com produtos.
Após esse movimento, já no fim do terceiro trimestre, o Magazine Luiza somava R$ 2,88 bilhões em mercadorias estocadas para vendas, R$ 700 milhões acima do ano anterior, como reflexo da preparação para a Black Friday e Natal. Entre as dez maiores empresas do varejo, a rede da família Trajano tem o maior crescimento nesse indicador, efeito da entrada nas contas do estoque da recémadquirida Netshoes e reflexo também do crescimento das vendas em patamares superiores aos registrados pelo mercado.
A Via Varejo, dona das redes Casas Bahia e Ponto Frio, fez movimento semelhante às vésperas da Black Friday, fazendo baixas em perdas e diminuindo o estoque de linhas sem saída nas lojas.
A empresa fez uma redução de R$ 1,1 bilhão em estoques no terceiro trimestre. O total passou de R$ 5,5 bilhões, em 30 de setembro do ano passado, para R$ 4,4 bilhões neste ano. Ainda foi contabilizada uma perda com estoque (após promoções) de quase R$ 150 milhões no terceiro trimestre. Isso ocorreu porque, cerca de dois meses antes da Black Friday, 60% do estoque da Via Varejo era de baixo giro, formado por produtos de venda mais lenta. Segundo uma fonte do setor, era preciso retirar essas mercadorias das lojas e dos centros de distribuição até outubro, para ter tempo hábil de abrir espaço para lotes de itens de maior giro.
Para analistas, semanas atrás, a empresa disse que usou a data da “Semana da Pátria” para fazer um “saldão” de parte dessas mercadorias e tentar chegar à Black Friday com estoque menos “engessado”.
Dados iniciais indicam que a demanda pelas promoções na Black Friday ainda avançou devagar na primeira quinzena de novembro. No fim de semana passado, as lojas passaram a verificar tráfego um pouco maior. “Não foi um começo de novembro tão fraco como nas duas últimas versões da Black Friday, mas só estamos esperando demanda mesmo após a quarta-feira”, diz o diretor de uma varejista de eletrônicos. Em novembro de 2018, as vendas do comércio subiram apenas 4% em volume e 8% em receita nominal, segundo o IBGE. A data existe no país desde 2011.
“Ainda não temos todos os números do mês, mas esperamos um tráfego maior mesmo nesta semana. Ainda se deixa muita coisa para a última hora e o brasileiro se acostumou com Black Friday no fim do mês”, afirma Ruy Kameyama, presidente da BRMalls, maior empresa de shoppings do país. A data oficial do evento é 29 de novembro.
Há variação nas expectativas para o evento. A GfK calcula alta de 7,5% nas vendas em valor, enquanto a Confederação Nacional do Comércio,
Bens, Serviços e Turismo (CNC) estima aumento de 10,5%. Apenas considerando o comércio eletrônico — segmento que deu início à Black Friday no Brasil — as projeções são mais agressivas: a consultoria Ebit espera alta de 18% nas vendas on-line e a empresa de pesquisa de mercado Compre&Confie aponta 19%.
“Não acredito em taxa de crescimento de dois dígitos altos em novembro. Há, sem dúvida, uma melhora da confiança do consumidor, com maior geração de postos de trabalho no semestre e queda nos juros. Mas a retomada que vemos é lenta. E Black Friday ainda é um evento muito concentrado em parte do varejo no país”, diz Mascarenhas, da GfK.
Pesquisas mostram que só 20% do varejo no país — com 930 mil sites e pouco mais de 4 milhões de lojas — participam da data.
“Há um certo otimismo no ambiente e, em parte, isso traz segurança e vai levar as pessoas a anteciparem mais suas compras de Natal. Uma pesquisa que fizemos com 400 pessoas em quatro capitais mostra que 42% das compras no evento serão de produtos para o Natal. A taxa era 37% no ano passado”, diz Terra, da SBVC.