Há um otimismo generalizado de empresários do varejo que já começam a sentir os primeiros (e fortes) sinais de retomada após um longo e tenebroso período de paralisia quase total de vendas – que levou muitos a sucumbirem e a fecharem as portas. Agora os donos de redes atacadistas, lojistas, comerciantes em geral e varejistas da área de serviços estão convictos de que o mercado mudou, de que vão crescer e até expandir os seus negócios ao longo do ano. Um único fato, porém, os assusta: a sinalização concreta de aumento dos impostos e fim das desonerações na folha, como deseja e comunicou o Governo.
Consideram a alternativa uma ducha de água fria no exato momento em que a atividade reage aos trancos e barrancos. “Vai assustar consumidores e os próprios empresários justamente quando eles estão numa mudança de expectativa”, diz Roberto Müssnich, CEO da rede Atacadão, lembrando que o setor foi responsável por 25% dos empregos criados em 2016. “É um despropósito falar em elevação de carga tributária, mexer no PIS/Cofins, pois são medidas que vão afetar muito a atividade”, reage Vander Giordano, vice-presidente da Multiplan, que atua na área de Shoppings.
Ele informa que foram investidos mais de R$ 1 bilhão em novas plantas de uns meses para cá e que o Brasil já conta com 520 unidades de shopping, devendo subir esse número consideravelmente daqui para frente, caso não haja nenhum empecilho pela frente. Nelson Alvarenga, presidente da Inbrands que controla marcas como a Richards, Ellus e Salinas, dentre outras grifes de moda, aponta por sua vez que o segmento teve queda de 20% durante a temporada de crise econômica do governo Dilma e que, de uns tempos para cá, voltou a emergir com força através de um trabalho de valorização das marcas.
“Se tivermos mais impostos ou custos novos não teremos como repassar ao consumidor”, reclama. Esse foi o tom entre os participantes do 5º Fórum Nacional do Varejo, organizado pelo LIDE no litoral paulista do Guarujá, há poucos dias. Reunidos para uma batelada de palestras e discussões, durante dois dias, os representantes do varejo – responsáveis por 23% do PIB nacional, movimentando mais de R$ 1 trilhão em receitas – atribuíram a boa fase aos ajustes da economia e a administração equilibrada dos instrumentos monetários.
“O governo de Michel Temer tem tido relativo êxito no andamento das reformas e tenho esperança de que elas aconteçam; estou apostando que o Brasil criou juízo”, afirma Flávio Rocha, presidente do Grupo Riachuelo, que aposta na tendência de “ventos mais liberalizantes” para a retomada. Os empresários, durante o encontro, discutiram também o peso provocado pelo ambiente político e o prejuízo causado por medidas estapafúrdias como a recente e ruidosa operação da polícia sobre os produtores de carne. Luiz Fernando Furlan, da BRF, esteve por lá, mas evitou tratar do tema abertamente.
Em convescotes com alguns participantes se disse chocado com o ataque. Seus interlocutores foram mais incisivos. Apontaram que a investida afeta todas as atividades do varejo, em especial uma ampla cadeia que vai dos fornecedores aos comerciantes e frigoríficos. “Situações como essa, aliadas a medidas inibidoras como o aumento da carga de impostos é que podem colocar tudo a perder”, avaliou o economista Roberto Giannetti da Fonseca, que atuou como um guru de prognósticos para os empreendedores do Fórum.
De uma maneira ou de outra, o clima que prevaleceu foi de ânimo com a fase de resultados positivos após a brutal recessão que obrigou o fechamento das operações de 100 mil estabelecimentos e a demissão de quase 200 mil funcionários do setor. Flávio Rocha, a vocalizar uma liderança entre seus pares, convocou a todos para uma cruzada de resistência, decretando o início de uma era na qual não há mais lugar para o que classificou de “empresário moita”.
Ganhou o reforço importante a sua bandeira do prefeito de São Paulo, João Doria, que deu uma passada no Forum durante o almoço e provocou os presentes a apontarem caminhos e não se calarem mais. “Acho que as lideranças empresariais, não todas, estão muito adormecidas. Precisa levantar a voz. Defender as posições, porque elas são legítimas também. Eu tenho muito respeito pelos sindicatos, mas o Brasil não é uma república sindicalista. É uma república plural e é importante que o setor privado se manifeste e empreste seu apoio às reformas que são essenciais para o País”. Recado dado, os empresários estão dispostos a fazer mais barulho por suas causas. Principalmente contra mais impostos.
Fonte: IstoÉ Dinheiro