Varejistas que vendem refeições, bebidas e doces na cidade de São Paulo estão abandonando pratos, copos e talheres de plástico descartável, antecipando-se à lei municipal que bane esse tipo de produto a partir de janeiro 2021. A troca aumenta o custo e o repasse para o preço final depende de uma retomada mais firme da demanda. Mas executivos ouvidos pelo Valor dizem que trocar o plástico por papelão, metal ou porcelana é tendência que deverá ser adotada em outras partes do país.
Um dos maiores grupos de restaurantes de comida asiática do país, o TrendFoods, dono do China in Box e Gendai, vem trocando desde o ano passado os utensílios de plástico por recicláveis. Metade do volume consumido regularmente foi substituído, até o momento. “Já havia sinais de que a prefeitura [de São Paulo] sancionaria a lei, então nos adiantamos”, diz Carlos Sadaki Kaidei, presidente da companhia.
Na Sodiê Doces, rede de 319 lojas especializadas em bolos, o processo de troca também está adiantado. O plano de Emerson Amaral Pais, gestor da empresa, é que até julho toda a rede tenha deixado o plástico de lado. “Já estamos em negociação com fornecedores para fazer a troca de produtos plásticos para produtos biodegradáveis, o mais rápido possível”. Atualmente, a Sodiê usa 80% de produtos plásticos — copos, talheres e pratos — e 20% de artigos de porcelana e papelão.
Pais estima um aumento de custo de 39% com a troca do plástico por porcelana, aço inox e papelão. “Atualmente os descartáveis representam em média 1,5% dos custos totais. Com a vinda do produto biodegradável este custo irá para 2,08%”. Com o tempo, o custo deve baixar, diz Pais, pois o número de fornecedores de produtos biodegradáveis deve crescer.
Em busca de alternativas mais baratas, Kaidei foi pesquisar o mercado chinês. Mas a crise provocada pelo coronavírus na China, o preocupa. “Conversamos com fornecedores do material na China, e por conta do surto do coronavírus, o fornecimento pode ter algum problema. Por enquanto está normal, mas estamos aguardando mais informações para verificar se eles vão conseguir continuar entregando os pedidos”.
Kaidei estima que “há um aumento no custo com a troca de 10% a 15%, dependendo do item descartável”. A expectativa é que esse aumento vá sendo absorvido em um cenário de melhora de aumento das vendas neste ano — a projeção da rede é crescer 15% em 2020 sobre 2019, quando as vendas avançaram 5%.
No entendimento da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), “é cedo para dizer se haverá um aumento de custos operacionais relevante nas empresas” , diz o presidente da Abrasel São Paulo, Percival Maricato. “O mercado se autoregula, novos fornecedores vão aparecendo, e de produtos reciclados dos mais diferentes materiais. Isso deve elevar a oferta e uma pressão de custos pode ir diminuindo”, disse.
Há cerca de 1 milhão de bares e restaurantes no país, num mercado altamente pulverizado, formado por pequenos e micro negócios. Essas empresas já estão limitando a distribuição de utensílios de plástico, consultando fornecedores de produtos renováveis locais, diz a associação. Para a Abrasel esse processo de troca precisa ter envolvimento direto dos aplicativos de entrega. “Eles são parte dessa discussão, a responsabilidade também é deles”, diz Maricato.
O iFood oferece em sua loja virtual de insumos para restaurantes, uma seção de embalagens sustentávei como copos, canudos, talheres e pratos. Segundo a empresa, a demanda por esses itens aumentos quatro vezes entre 2018 e 2019. Os itens ainda têm preços mais elevados – uma bandeja articulada biodegradável com tampa sai por
R$ 3,26 a unidade. Uma de isopor custa R$ 0,94, por exemplo. Mas a expectativa é que com o ganho de escala e as inovações em materiais, a diferença caia.
Á troca vai aumentar as despesas dos varejistas, mas na visão do gestor da Sodiê, “essa lei deveria ter sido aprovada há muito tempo e não somente em São Paulo. Precisamos fazer isso de imediato, para ajudar o ambiente, a qualidade de vida”.
Questionada sobre o assunto, a Arcos Dorados, operadora do McDonald’s na América Latina, não informou o peso do plástico em seus custos. A grande parcela das embalagens é de papel ou cartolina, informou, em nota, a companhia. Atualmente, no serviço de entrega da rede são utilizados alguns itens de plástico como talheres, embalagens para sorvetes e saladas e tampas para copos de algumas sobremesas.
Em nota, a Halipar, dona das marcas Griletto, Montana Grill, Jin Jin e Croasonho, informa que aguarda melhor detalhamento da lei e orientações das entidades de classes para iniciar seu planejamento. Ressalta o aspecto do custo ao afirmar que a substituição tem que ocorrer “sem onerar as unidades franqueadas, muito menos os consumidores”.
Fonte: Valor Econômico