Por Adriana Mattos | Varejistas devem ir a Brasília tratar diretamente de normas mais rígidas envolvendo a lei das apostas esportivas on-line, válida após 2025, por conta de um possível efeito no consumo das empresas do setor, disse ontem (28) a Abras, maior entidade supermercadista do país.
A intenção é que, pela urgência desse tema, a questão avance junto aos políticos da mesma forma que evoluiu a polêmica do crescimento dos marketplaces asiáticos, quando portarias foram publicadas com regras de atuação mais claras, disse ao Valor uma fonte.
O Valor já havia antecipado na terça-feira que, entre associados da Abras e do IDV, principal instituto do varejo, foi levantada a hipótese de se criar possíveis limitações no uso de cartão de crédito e na liberação de empréstimos consignados (no holerite) voltados para pagamentos de dívidas com jogos. Mas isso exigiria uma negociação com bancos, o que torna o debate mais complexo.
Empresários do setor já estiveram com o vice-presidente Geraldo Alckmin tratando do tema do crescimento as apostas esportivas.
Segundo Márcio Milan, vice-presidente da Abras, a Frente do Comércio e Serviços (FCS), por meio do deputado federal Domingos Sávio (PL-MG), já está a par do tema. E uma das prioridades é discutir junto a interlocutores do governo formas de “agilizar” avanços no tema da lei das apostas. Ontem, estava marcada uma reunião da diretoria e do conselho consultivo da Abras para avançar “de forma mais efetiva” na discussão em Brasília, e analisar “limitações de valores e na propaganda” veiculada na mídia hoje, disse Milan.
“O avanço das ‘bets’ impacta toda a sociedade, especialmente as famílias mais pobres. Estamos apoiando a PEC que define mais restrições à propaganda das bets, e orientando as empresas do setor que adotem uma política rigorosa na seleção de agências de marketing e ‘influencers’, de forma a serem mais responsáveis com esse tema”, disse ele.
O deputado federal cearense Luiz Gastão (PSD) está colhendo assinaturas para protocolar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para restringir a publicidade de sites de apostas.
“É preciso escolher agências e influenciadores que prezem pela responsabilidade social e que não incentivem o jogo de forma irresponsável”, disse Milan.
Segundo ele, apenas informar, ao final da campanha publicitária, para que consumidores joguem com responsabilidade, não é o bastante. “Dizer só isso é difícil para quem espera ganho fácil.”
Para interlocutores das empresas de apostas, já existe um trabalho de comunicação sendo feito de forma transparente, de maneira a reforçar aos usuários que se trata de um entretenimento. E esse aspecto tem sido explorado mais claramente nas campanhas nas últimas semanas, dizem. Além disso, as empresas acreditam que não há uma relação direta e comprovada entre os jogos e efeitos no consumo, disse um porta voz próximo à associação das apostas esportivas.
Segundo uma portaria de julho, as empresas de apostas terão de identificar, qualificar e fazer classificação de risco dos apostadores, e comunicar transações suspeitas ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão de combate à lavagem de dinheiro.
Para a associação, há preocupação com apostas por causa dos “mais vulneráveis”, considerando que 30% dos apostadores são das classes C, D e E, o maior percentual entre as camadas sociais, segundo o Instituto Locomotiva.
Milan ainda falou de efeito nas vendas – na prática, o grande incômodo das varejistas e a razão da maior pressão sobre o tema. Ele disse que, por conta da queda da inflação de certos alimentos, “era esperado um consumo maior” em julho. Porém, diz que é preciso aguardar os próximos meses para ver se esse quadro se repete, porque ainda não há uma “avaliação efetiva” que a causa esteja nas apostas, apesar de indícios nessa direção dentro das empresas.
“Há companhias alertando seus empregados do efeito dos jogos no salário deles”, disse Milan. O Valor apurou que a rede Assaí enviou comunicado, dias atrás, a funcionários alertando para “armadilhas” com bets e jogos digitais.
Fonte: Valor Econômico