Liberação parcial de recursos do FGTS, estabilização nos índices de desemprego e antecipação de pagamento do 13° salário de aposentados e pensionistas podem ter tido algum impacto nesse quadro
Por Adriana Mattos
Apesar da dura fase que as varejistas de bens duráveis e semiduráveis enfrentam desde o ano passado, há sinais de que os meses de abril e maio podem ter sido melhores do que o primeiro trimestre, o que vem deixando gestores e executivos mais esperançosos em relação a uma mudança no ambiente de consumo após a segunda metade do ano.
Isso começou a ficar mais claro com a divulgação de resultados das redes nos últimos 15 dias. Apesar de os dados de venda de janeiro a março mostrarem o que já se esperava — volume de venda em queda e custos em alta —, empresas como Via, Centauro, Carrefour e GPA citaram um abril melhor do que março e um mês de maio na mesma linha do que se verificou em abril em termos de demanda e fluxo de clientes.
A Via (Casas Bahia e Ponto) chegou a mencionar que atingiu a melhor data de Dia das Mães desde 2018.
A Americanas, que vende de alimentos a portáteis e itens de cama, mesa e banho, diz que as lojas físicas vêm ganhando fluxo maior e mostram resiliência.
Liberação parcial de recursos do FGTS, estabilização nos índices de desemprego (o trimestre de dezembro, janeiro e fevereiro tiveram a menor taxa desde 2016) e antecipação de pagamento do 13° salário de aposentados e pensionistas podem ter tido algum impacto nesse quadro, como têm dito alguns economistas.
Para as redes, há efeito ainda da chegada do Auxílio Brasil, em valores maiores que o anterior Bolsa Família, assim como aumento na circulação de consumidores nas ruas.
Outro aspecto que chamou a atenção do mercado nas apresentações de resultados foi a capacidade de as varejistas de moda repassarem reajustes de preços ao consumidor nos primeiros meses do ano sem uma queda no volume vendido.
De certa forma, segundo relatório de analistas, isso também pode ser entendido como sinal de abertura maior para melhoria nas margens das varejistas.
O comando da Lojas Renner mencionou na semana passada que tem feito esse movimento sem uma reação negativa dos compradores, assim como a diretoria da Centauro diz ter repassado parte das pressões em custos de insumos e fretes sem perda de vendas.
Apesar de serem companhias mais focadas num consumidor de classe média, normalmente processos de retomada no consumo se iniciam por esse segmento, e a expectativa de especialistas em consumo é que um eventual ambiente de recuperação um pouco mais consistente vá ganhando força em redes para classes de menor renda posteriormente.
Na Marisa, focada na classe C, apesar da queda mais acentuada de fluxo em janeiro, a rede fala numa “recuperação expressiva” de vendas em lojas com mais de um ano em fevereiro e março, frente aos meses de 2019, e com uma melhoria se repetindo em abril e maio.
Um ponto central que vai ficar no radar do mercado nos próximos meses será a questão do aumento dos atrasos de pagamentos nos financiamentos dados pelas varejistas. É possível que mesmo uma leve retomada na demanda no segundo semestre ocorra ainda num ambiente de consumidores com contas em aberto.
Números de perdas líquidas nas carteiras de clientes ou atrasos de pagamentos de curto prazo (até 90 dias), nos balanços de janeiro a março, chamaram a atenção de analistas nas divulgações de Marisa, Via e Carrefour, por exemplo.
Já há ajustes na liberação de crédito sendo tratados, mas as empresas dizem que a situação está sob controle.
Fonte: Valor Econômico