O apoio das empresas tem sido uma das principais estratégias para desenvolver projetos de inserção e contratação de refugiados. Criada em abril deste ano pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e pelo Pacto Global da ONU, a plataforma Empresas com Refugiados se integrou a outra iniciativa, Empoderando Refugiadas. Em seis encontros ao ano, cada empresa é convidada a oferecer cursos de capacitação e empreendedorismo, além de workshops de idiomas, entrevistas de emprego e preparação de currículo. Os encontros acabam incentivando a contratação dos refugiados e a criação de políticas internas para inclusão desse grupo.
“O setor privado tem papel fundamental para criar oportunidades para os refugiados”, diz Camila Weber, gerente de comunicação e relações institucionais da WeWork Brasil, uma das empresas participantes. Segundo ela, a companhia serve como um centro de conexão para fazer o “match” entre empresas que estão alocadas em seus escritórios e os refugiados.
A participação da WeWork na iniciativa foi inspirada pela meta global da WeWork Refugee Initiative (Iniciativa para Refugiados) de contratar 1500 refugiados até 2023. O programa da empresa começou em 2017 nos Estados Unidos. Por enquanto a companhia contratou um refugiado no Brasil, mas segundo Weber, “dezenas” de outros foram empregados indiretamente pelas empresas membros e fornecedores. “Nossa especialidade é conectar as empresas e pessoas e estamos usando isso para sensibilizar e engajar nosso networking.”
Para Carlo Pereira, secretário-executivo da Rede Brasil do Pacto Global, a tendência é que os refugiados se tornem uma pauta cada vez mais frequente no país. De acordo com o relatório “Tendências Globais 2018”, divulgado nesta quarta-feira (19/06) pelo Acnur, o número de solicitações de refúgio no Brasil dobrou em 2018: de 33,8 mil requerimentos em 2017, passou para cerca de 80 mil novos pedidos. Segundo a Acnur, a crise na Venezuela impulsionou 75% dos requerimentos. “É importante que a sociedade e as empresas estejam preparadas”, diz Pereira.
Em maio deste ano, a Sodexo Brasil realizou um curso de capacitação e contratação de 15 venezuelanos. Segundo Lilian Rauld, head de Diversidade e Inclusão da Sodexo On-site Brasil, em 2010, quando houve o terremoto no Haiti, a empresa começou a sua política de contratação de refugiados. Em 2015, a empresa ingressou no Empoderando Refugiadas e hoje conta com 93 refugiados de países como Congo, Venezuela e Angola entre os seus colaboradores no Brasil. “Somos um dos maiores empregadores do mundo”, diz. “Temos que abraçar esse tema dentro de nossas sedes.”
As empresas concordam que as vantagens não são apenas sentidas pelos refugiados. O Instituto Renner, braço social da Lojas Renner, decidiu alinhar o projeto de capacitação ao seu negócio, pelo programa de refugiadas da ONU. A empresa oferece cursos de seis semanas de costura industrial e atendimento nas lojas. Desde 2016, já capacitou 280 refugiadas, e contratou 36 delas. “Nosso objetivo é trazer capacitação e inserção social”, diz Eduardo Ferlauto, gerente sênior de Sustentabilidade da Lojas Renner. “Se durante essa trajetória conseguirmos contratar, é um adicional.”
Além do emprego ajudar na adaptação do refugiado, a executiva da Sodexo Brasil também diz que equipes com refugiados são mais engajadas e criativas. “Todos ganham”, afirma Rauld.
Para Pereira, do Pacto Global, as empresas enxergam nessas iniciativas a possibilidade de se adequar às novas demandas do público por maior engajamento com causa sociais. “Hoje, se a sua empresa não é representativa da sociedade, você não consegue atrair mão de obra”, afirma. “Você tem que trazer a complexidade da diversidade para dentro da empresa para inovar.”
Apesar das vantagens ao negócio, as empresas não estabelecem metas para essas iniciativas. A Renner expandiu recentemente seus cursos de capacitação para Rio de Janeiro, Salvador e Belo Horizonte, além da cidade de São Paulo. A decisão, segundo Ferlauto, foi tomada por perceberem uma ligação entre oferta de serviços da empresa com a demanda de refugiados nessas cidades. “Em vez de criar uma meta que esteja só ligada à nossa diretriz, o mais importante dentro de uma jornada de capacitação é conseguir entender quais são as necessidades dos refugiados”, diz.
“As pessoas têm hábitos e jeitos diferentes e se a gente não dialogar, não cuidar das relações e de fato não trabalhar para a inclusão, perdemos toda a vantagem”, diz Karina Chaves, gerente de diversidade do Carrefour Brasil. A empresa faz parte da iniciativa da ONU e tem mais de 100 imigrantes e refugiados entre seus colaboradores.
De acordo com o banco de “boas práticas” dos projetos da ONU, as empresas não só sediam e organizam cursos de capacitação, mas também devem criar um ambiente receptivo para os refugiados. A Sodexo Brasil, por exemplo criou um guia informativo e realiza encontros para preparar as equipes para receber os refugiados contratados. “Ainda é um tema pouco falado e com muitos mitos”, diz Rauld.
Desde que aderiu à iniciativa, a WeWork Brasil organiza eventos para reunir os seus colaboradores, refugiados, representantes da ONU e empresas. Para celebrar o mês do refugiado, no dia 27 de junho, a empresa discutirá como as empresas podem contratar e contribuir para a capacitação desses profissionais. “Tem muitas empresas que querem contratar refugiados, mas ainda têm muitas dúvidas sobre o tema”, afirma Weber. “Quanto mais estimularmos internamente e externamente para que as pessoas entendam e travalhem junto na causa, mais fácil fica em trazer refugiados para dentro das empresas.”
Fonte: Época Negócios