As lojas desocupadas em shopping centers nos Estados Unidos atingiram o maior número em pelo menos 20 anos, um recorde que mostra como os proprietários dos empreendimentos têm sofrido para adaptar-se à era Amazon.
Mais unidades em centros comerciais americanos estavam desocupadas no fim de 2019 do que em qualquer outro momento das duas últimas recessões, segundo números divulgados ontem pela Reis Moody’s Analytics.
Os operadores de shopping centers se preparam para mais fechamento de lojas nos próximos meses, embora os níveis de consumo nos EUA continuem fortes. Passado o Natal, começam a surgir os primeiros sinais do vendaval sofrido pelas lojas físicas com a ascensão das vendas on-line.
A Pier One Imports, uma varejista de artigos de decoração, alertou na segunda-feira à noite ter “dúvidas substanciais” sobre sua capacidade de continuar como uma empresa sustentável. A empresa fez planos para fechar 450 lojas depois de suas vendas trimestrais comparáveis terem caído 11%.
As estatísticas sobre as lojas desocupadas vinham contrariando há muitos trimestres os “relatos casuais sobre um ‘apocalipse do varejo’”, disse Barbara Denham, economista sênior da Reis Moody’s Analytics. “Estes dados recentes mostram que tal equilíbrio pode ter acabado”, acrescentou.
O índice de unidades vagas em centros comerciais calculado pela Reis Moody’s Analytics, de 9,7%, é o maior desde que a empresa começou a fazer os registros no início de 2000, quando 5,3% das unidades estavam desocupadas. A recessão no ano seguinte levou o índice para 6,8%.
O número de lojas vagas voltou a subir depois da crise financeira, chegando a 9,4% em 2011, mas os proprietários dos empreendimentos conseguiram voltar a alugar espaços quando a economia se recuperou.
Os varejistas continuam a se beneficiar da economia americana ainda forte, mas os operadores de shopping centers vêm sofrendo a maior parte do impacto da mudança estrutural vivida pelo setor.
As varejistas americanas anunciaram o fechamento de 9,3 mil lojas em 2019, segundo a Coresight — maior número desde que a companhia começou a contabilizar os dados em 2012. Gap e Victoria’s Secret estiveram entre as várias grandes redes que divulgaram planos para fechar unidades.
A desocupação recorde referese aos três últimos meses de 2019. No terceiro trimestre, o índice já havia igualado o recorde pós-crise.
O sinal de alerta enviado pelo mercado imobiliário chega enquanto os investidores ainda aguardam novos números para saber como o varejo se saiu durante a crucial temporada de fim de ano.
As vendas totais do varejo nos EUA entre 1o de novembro e a véspera de Natal subiram 3,4%, em comparação ao mesmo período de 2018, segundo a empresa de meios de pagamento Mastercard, embora o crescimento nas vendas das lojas físicas tenha sido mais moderado, de 1,2%.
Muitas varejistas foram obrigadas a dar pesados descontos para atrair os consumidores e algumas promoções foram “chocantes”, disse Roxanne Meyer, analista da MKM Partners.
Apesar da pressão sobre os shopping centers, os dados da Reis Moody’s Analytics mostram que algumas regiões vêm se saindo melhor do que outras. A taxa de desocupação no quarto trimestre variou de 4,2% em San Francisco a 16,3% em Indianápolis.
Diversos varejistas também vêm se adaptando e conseguindo combinar suas operações físicas e digitais de uma forma mais eficiente. A Lululemon, por exemplo, cujas roupas para prática de ioga têm sido um grande sucesso, não precisou dar grandes descontos, segundo Meyer.
Além da mudança de hábito dos consumidores, os varejistas também precisam lidar com as exigências do mercado de aluguel. Os proprietários de shopping centers estavam pedindo um preço médio de US$ 43,53 por pé quadrado (US$ 468,55 por metro quadrado), segundo a Reis Moody’s Analytics — o mesmo que no trimestre anterior e o maior valor desde que o levantamento começou, em 2000.
Embora estejam relutantes em reduzir o aluguel em contratos de longo prazo, isso é algo que poderia mudar, segundo Denham. “Os proprietários podem ver os maus presságios e, talvez, reduzir os aluguéis.”
Fonte: Valor Econômico