Por Redação | Durante sua palestra na Digital Assets Conference Brazil 2024, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, revelou uma surpresa: o uso do Pix acabou tomando um rumo diferente do esperado.
“A gente achou no começo do Pix que ele poderia ir um pouquinho mais para o atacado, poderia ser algo mais voltado para transferências grandes. Na verdade, foi exatamente o contrário. Ele foi muito para o varejo. Acabou virando um instrumento onde as pessoas fazem transferências menores, com uma aceitação muito grande”, disse Campos Neto. Ele destacou o rápido crescimento do sistema, que já processa 240 milhões de transações por dia, superando rapidamente países como Índia e Coreia do Sul, que já têm sistemas semelhantes há mais tempo.
Para Campos Neto, o Pix foi fundamental para promover a inclusão financeira no Brasil. Desde o seu lançamento, mais de 105 milhões de pessoas passaram a utilizá-lo, muitas das quais abriram contas bancárias para poder fazer um Pix.
“O Pix trouxe 71,5 milhões de novos usuários para o sistema bancário. Em várias cidades pequenas, onde não há sequer agências bancárias, o Pix se tornou o principal meio de pagamento”, explicou.
Ele ainda ressaltou o impacto na economia de pequenos negócios, que passaram a realizar transferências de valores baixos com maior agilidade e menor custo. Para o país, o custo de implantação foi de R$ 15 milhões – “menos do que muita gente imagina “. Hoje custa entre R$ 40 milhões e R$ 50 milhões ao ano para sua operação, devido à expansão massiva de uso.
Inovações
O presidente do BC também destacou a inovação do sistema, que já nasceu para ser programável, algo que diferencia o Pix de outros sistemas de pagamento instantâneo pelo mundo. “A programabilidade foi um ponto-chave. Entendíamos que o Pix deveria ser a base para futuros desenvolvimentos, como a integração com moedas digitais e novas funcionalidades”, comentou. Esse design flexível é o que tem permitido ao BC expandir continuamente as capacidades do Pix, como o Pix automático, que já permite a programação de pagamentos recorrentes.
O presidente do BC citou ainda o pagamento por aproximação via Pix, previsto para 28 de fevereiro de 2025. A novidade permitirá que os usuários realizem pagamentos com mais facilidade por meio de carteiras digitais como o Google Wallet. “Muitas pessoas ainda preferem usar o cartão de crédito por ser mais fácil, mas o Pix por aproximação vai mudar isso”.
Tokenização
Outro ponto abordado foi a tokenização de ativos, considerada por Campos Neto como um passo inevitável para o futuro do sistema financeiro. “Se a tese da tokenização se comprovar verdadeira, o século XXI será marcado pela criação de redes multiativos reguladas, globais e tokenizadas”, afirmou. Ele acredita que a combinação de tokenização com o Open Finance – sistema que permite o compartilhamento de dados e serviços financeiros entre diferentes instituições – criará um ambiente de transações mais rápidas, seguras e transparentes.
Campos Neto também destacou o projeto Drex, a moeda digital do BC que está sendo desenvolvido para atuar tanto no varejo quanto no atacado. A inovação permitirá a tokenização de ativos e contratos programáveis, facilitando transações financeiras e diminuindo custos operacionais. “O Drex vai transformar o mercado financeiro ao trazer mais eficiência, tanto em contratos quanto em pagamentos digitais”, disse ele, explicando que a ideia é criar uma plataforma única para integrar essas operações.
Para concluir, Campos Neto destacou os desafios pela frente, como a privacidade e a escalabilidade das novas tecnologias financeiras. “Estamos na fronteira da inovação, e a questão agora é como equilibrar privacidade e escalabilidade em sistemas como o Drex. Esse é o grande desafio que enfrentamos hoje”, afirmou.
Fonte: Finsiders Brasil