Recursos devem ser aplicados até 2025 na transformação digital da operação, controlada pelo fundo Axxon
Por Raquel Brandão
A fabricante de calçados femininos Usaflex entendeu que para traçar o caminho para abertura de capital precisava ficar mais moderna. No marketing, tem investido para mostrar que calçados confortáveis não são só para as vovós. Agora, pretende se tornar mais digital. Até 2025, vai investir R$ 100 milhões em iniciativas on-line, como o lançamento de um provador virtual e de um aplicativo próprio.
O valor é expressivo, quase a metade do faturamento da empresa em todo o ano de 2020, que chegou a R$ 231 milhões. Mas faz parte da aposta do fundo de investimentos Axxon, que desde 2016 comanda a calçadista. O Axxon também está por trás da abertura de capital da varejista on-line de itens de decoração Westwing. Na Usaflex, o objetivo é que a listagem na bolsa ocorra até 2023.
“O fundo está determinado a fazer aportes. Nosso grande objetivo é fazer com que a empresa alcance cada vez mais ‘valuation’ e algumas das perguntas de investidores hoje são: O digital vai ser quanto das vendas? E o omnichannel [a multicanalidade] está em que pé?”, diz Lucas Neves, contratado há três meses para comandar a área digital da Usaflex. Antes, Neves atuava na mesma área na Lojas Renner.
O diretor conta que o plano prevê aumentar a representatividade das vendas por canais digitais de 5,8% para 27,8% até 2025, quando o faturamento deve chegar ao redor de R$ 740 milhões. “Além disso, queremos que o faturamento anual do on-line chegue a R$ 200 milhões e que as vendas por omnichannel alcancem 20% do total.”
Para isso, muitos planos vão sair do papel. O primeiro passo foi criar estruturas que pudessem alavancar a operação, diz Neves. A empresa estruturou a área digital e começou a contratar profissionais com experiência nessa mudança do mundo físico para uma operação integrada com os canais digitais.
O centro de distribuição (CD) foi transferido da capital paulista para a cidade de Serra (ES). Com mais de 100 mil metros quadrados, o novo CD vai apoiar o aumento de sortimento previsto – a projeção é de que o número de itens vendidos dobre até 2025 – e acelerar novas estratégias de logística.
“Queremos nos tornar um ecossistema omnichannel de tecnologia e conforto com foco no cliente. Teremos um aumento de sortimento relevante, então começaremos a atender público cada vez maior e mais crítico”, diz Neves.
Esse aumento de itens deve acontecer por dos caminhos, afirma o diretor. Um deles é a operação em “marketplaces” (shoppings virtuais) em que a Usaflex já vende seus produtos, outro é a própria plataforma da companhia, que deverá vender mercadorias de parceiros em categorias complementares, como acessórios (meias, cintos, bolsas, malas de viagem, etc).
Além disso, conta o executivo, a Usaflex pretende oferecer um atendimento mais personalizado, usando inteligência artificial para a cliente identificar qual o melhor calçado para si ou qual tamanho melhor para cada calçado. “Com a base de dados conseguimos ajudar a cliente a ser mais assertiva na compra e reduzir necessidade troca. O provador virtual vai ensinar a mulher a escolher a medida. Estamos mudando as tabelas de medidas, as formas de medir e publicando vídeos ensinando a se medir.”
Mas o avanço do digital não deve vir em detrimento do crescimento físico. “É sem canabalização, vamos crescer as duas coisas [físico e digital] juntas, gerando valor também para o franqueado”, afirma. Em 2021, a companhia deve chegar a pouco mais de 250 lojas (todas franquias), número que deve saltar para 400 até 2025.
Nas lojas, cuja identidade visual também passou por mudanças, a ideia é que as clientes tenham acesso à “prateleira infinita”, podendo comprar com as vendedoras produtos que estão em outras unidades ou somente no site. As franquias também devem servir como pontos importantes na logística da empresa, permitindo que compras on-line sejam retiradas nas lojas ou que partam dali em casos de endereços próximos. O objetivo em 2021 é que ao menos 100 lojas tenham todas as ferramentas de multicanalidade.
Fonte: Valor Econômico