Por Adriana Mattos | A Track&Field (T&F) anunciou ontem mudanças em posições de liderança da empresa, com a saída de um dos fundadores, Fred Wagner, da função de diretor-presidente e sua substituição pelo atual diretor financeiro e de relações com investidores e expansão, Fernando Tracanella.
Wagner será CEO da TFSports, a plataforma digital do grupo e um dos principais focos de crescimento da companhia. A decisão faz parte de um movimento voltado para a aceleração da plataforma. A ideia é que o negócio seja o carro-chefe no crescimento da T&F.
A TFSports é uma plataforma reúne experiências relacionadas à atividade esportiva, como eventos programados. No primeiro trimestre, foram 403 eventos e ações da marca, como corridas de rua do circuito Santander Track&Field Run Series e o Track&Field Open de Beach Tennis.
Ontem, após a divulgação da mudança, as ações da rede de vestuário esportivo fecharam em leve queda de 0,30%. No ano, a ação da T&F sobe quase 35%, para um Ibovespa crescendo cerca de 14%.
“Nós viemos evoluindo com a TFSports, integrando mais à rede de lojas, mas achamos que há uma oportunidade de se transformar num negócio bem maior e vimos a necessidade de ter um CEO separado, com envolvimento direto nisso”, disse Wagner.
O fundador ainda acumulará a vice-presidência de estratégia e novos negócios da T&F, cargo que não existia antes.
A ideia é Wagner se voltar mais para busca de novas fontes de receita e inovação dentro da plataforma digital – ele ainda se mantém como membro do conselho de administração. Outra mudança na governança, anunciada nesta terça-feira, envolve Patricia Abibe, atual chefe de controladoria da Track&Field, que passa a ocupar a função de Tracanella.
Na visão de Wagner, negócios paralelos – que não estavam na origem das empresas – vêm crescendo e se consolidaram em grandes grupos de tecnologia e consumo, como Amazon e Apple, e esse movimento acontece porque, dentro das organizações, se abriu espaço para esse desenvolvimento, diz ele.
“Isso surge e vai crescendo, mas sempre tem algum DNA prévio, tem um anticorpo ali a esse movimento, e temos que abrir espaço e por foco para evitar isso.”
Tracanella diz que a ideia também é abrir mais dados ao mercado sobre a TFSports, como receita e lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda), como forma de o mercado dar peso correto ao negócio, mas não há prazo para isso.
Hoje, a empresa publica basicamente dados mais gerais. Ao fim de março, a plataforma contabilizava cerca de 439 mil usuários (alta de 58,2% sobre ano anterior) e 4,3 mil treinadores cadastrados.
A T&F parte da ideia geral, que vem sendo trabalhada pelas varejistas digitais aqui e, especialmente na China, de criação de ecossistema de serviços e atividades relacionadas com o negócio central, de maneira que isso gere não só tráfego e relação com a marca, como resultado. Mas normalmente é um caminho longo, que exige alocação de recursos e requer tempo e dinheiro até trazer lucro.
Sobre isso, Wagner diz que o desenvolvimento das atividades da TFSports tem duas décadas, e os investimentos já feitos ajudaram a criar estrutura e tecnologia para alavancar um crescimento maior. “Não vamos alavancar a companhia para que a TFSports cresça, não é a ideia, e tudo que foi construído até agora foi dessa forma”, disse Tracanella.
Perguntado se a operação pode ser maior que a T&F futuramente, ele diz que “tem trabalhado para ser um negócio mais relevante e vê potencial e tração para algo bem maior”.
Sobre as ações a serem tomadas na TFSports, serão três frentes a serem implementadas até 2025, na área de roupas, acessórios e artigos esportivos, em alimentação e suplementação e serviços de saúde física e mental. Paralelamente, a base atual de oferta de produtos e serviços do marketplace da empresa deve ser ampliada.
A empresa publica os resultados do segundo trimestre no dia 14. O grupo fechou os três primeiros meses do ano com lucro de R$ 25,1 milhões, versus R$ 19,9 milhões um ano antes, alta de 26%. A receita líquida somou quase R$ 142 milhões, alta de 26%. Em março, a T&F somava 334 lojas, sendo a maior parte franquias (290 lojas).
Fonte: Valor Econômico