A Track&Field está testando seu modelo de marketplace e vai escalar estratégia no segundo semestre. O CEO Fred Wagner conta os planos
Por Raphe Manzoni Jr.
A Track&Field vai aderir a uma moda que quase 10 entre 10 varejistas seguiram: a dos marketplaces. A companhia de vestuário e artigos esportivos está “aquecendo” sua estratégia com dois fornecedores e deve escalar o modelo a partir do segundo semestre de 2022.
O plano é construir uma estratégia diferente a das lojas físicas, atraindo para o marketplace fornecedores que complementem o ecossistema da Track&Field. “De um modo geral, não vamos trabalhar com moda”, disse Fred Wagner, CEO da Track&Field, ao NeoFeed. “Queremos criar um marketplace temático de wellness com produtos diferenciados.”
Isso significa, segundo Wagner, vender nesse espaço virtual produtos eletrônicos ligados ao esporte, como fones de ouvidos. Cosméticos, suplementos alimentares e equipamentos esportivos, como bicicletas, estão também no radar da Track&Field.
A ideia da Track&Field é contar com um número restrito de fornecedores no marketplace – os dois que estão em fase de teste não assinaram ainda contratos e Wagner não divulga seus nomes. O objetivo é fazer uma curadoria e não oferecer de tudo. O modelo de negócio, no entanto, segue a linha tradicional: ganhar uma comissão a cada venda gerada.
O marketplace vai ser complementar a outra estratégia, a de vitrine infinita, que também está em fase de testes e deve ganhar escala no segundo semestre de 2022.
A vitrine infinita vai permitir que os vendedores vendam produtos que não estão no estoque local, mas sim em outras lojas físicas, através de um tablet. Os produtos do marketplace também vão ser vendidos por esse canal.
Das 300 lojas, 252 já estão conectadas à plataforma omnichannel da marca que permite iniciativas de “ship from store”, em que as unidades físicas funcionam como minicentros de distribuição. “Elas já representam 50% do total de vendas geradas pelo comércio eletrônico”, afirma Wagner.
As lojas físicas também vão receber investimentos. A estimativa é a inauguração de mais 40 neste ano. A Experience Store, uma loja flagship que estreou em setembro do ano passado, deve ganhar até 8 unidades em 2022. Ela conta com concierges, que ajudam os consumidores, bem como o TFCoffee, que oferece ao público um espaço de convivência, cardápio e curadoria de produtos saudáveis.
Resultados
No primeiro trimestre de 2022, as vendas da Track&Field totalizaram R$ 209,4 milhões, um crescimento de 68,1%. O lucro líquido ajustado atingiu R$ 21,1 milhões, 194,4% superior ao mesmo período do ano passado.
Com esse resultado, a Track&Field supera o desempenho de antes da pandemia. Comparado ao primeiro trimestre de 2019, as vendas cresceram 109%.
A margem Ebitda deu um salto para 24,6% – há um ano foi de 13,% -, assim como a margem líquida, que passou de 11,3% para 18,7% no mesmo período. “O grande fator é o crescimento robusto de vendas”, justificou Fernando Tracanella, CFO da Track&field.
A Track&Field, na visão de Wagner, se beneficia de um movimento que não cessou com a reabertura da economia. “O consumidor no nosso segmento continua com uma conexão com um estilo de vida ativo e saudável”, diz o CEO da Track&Field.
Outra tendência, que beneficia a Track&Field, é o uso de roupas mais confortáveis, que deve se manter mesmo com a volta de grande parte das pessoas aos escritórios. “As pessoas estão experimentando o nosso segmento. E quem não praticava esporte, passou a praticar. É uma mudança estrutural.”
Wagner acredita também que o aumento das taxas de juros, que estão em 12,75%, afeta mais os varejistas de bens duráveis, que financiam os produtos e são afetados pelos custos mais altos de capital. No caso de roupas, o CEO da Track&Field diz que o efeito é mais limitado.
Isso pode ser observado pelo resultado de diversas empresas da área de moda. A Arezzo, por exemplo, ultrapassou R$ 1 bilhão em receita pela primeira vez na história no primeiro trimestre de 2022, uma alta de 63,9% em comparação ao mesmo período do ano passado.
O grupo Soma, dona das marcas Farm, Animale e Natti Voz, viu sua receita “pro forma” (que inclui os números da Hering) atingir R$ 1,1 bilhão nos três primeiros meses de 2022, um crescimento de 56%.
Mesmo fora da área de moda, algumas varejistas estão conseguindo surfar bem o ambiente macroeconômico de aumento de taxas de juros. É o caso da Vivara, que observou a sua receita bruta bater recorde no primeiro trimestre de 2022 e atingir R$ 410,9 milhões, alta de 50,3%.
As ações da Track&Field caem mais de 15% em 2022. A companhia vale R$ 1,7 bilhão na B3.
Fonte: Neofeed