Depois de passar quase cinco meses fechados ou com restrições de funcionamento por causa da pandemia, pela primeira vez, todos os shoppings brasileiros estarão liberados para reabertura nesta segunda-feira (24), segundo levantamento da Abrasce (associação brasileira dos centros de compras).
No dia 26 de março, 100% dos empreendimentos estavam paralisados. Desde então, alguns foram abrindo com restrições ou permanecendo de portas fechadas. Agora, pela primeira vez, todos os 577 shoppings poderão ter algum grau de liberação, a depender das legislações locais.
“Foram meses muito difíceis, inimagináveis. Chegou-se a perder quase 70% das vendas em relação ao mesmo período do ano passado. O setor sofreu muito. Mas fizemos parcerias com os lojistas. E através de um investimento superior a R$ 5 bilhões conseguimos manter uma inadimplência e uma vacância sob controle”, diz Glauco Humai, presidente da Abrasce.
“A gente ainda está longe do ideal, ali na casa de 55% a 60% ainda de queda de faturamento em relação ao ano passado, mas quando a gente pega as últimas semanas, essa queda de faturamento está na casa dos 30%. Então já tem algo muito próximo do que a gente tinha no ano passado”, diz Humai.
A maior parte dos shoppings ainda segue com apenas oito horas de funcionamento. Apenas 10% deles estão com a abertura normal de 12 horas. Em alguns estados ainda há restrição para a presença de crianças ou com dias alternados.
O presidente da Abrasce afirma que o setor está animado com o último trimestre do ano, quando acontecem o Dia da Criança, a Black Friday e o Natal. O setor ficou prejudicado nas vendas de Páscoa, Dia das Mães e Dia dos Namorados. No Dia dos Pais ainda havia muitos shoppings fechados.
“No Dia das Mães, a queda em relação à data no ano passado foi de quase 70%. Já no Dia dos Pais foi na casa de 30%. Então houve uma evolução. Estamos trabalhando para a Semana do Brasil, essa data nova do varejo em setembro, mas apostamos muito na Black Friday e no Natal”, diz Humai.
Ainda com cautela, ele afirma que existe a possibilidade de um Natal com vendas superiores ao ano passado.
Os últimos meses foram de restrição nos horários e na quantidade de pessoas dentro dos empreendimentos, o que tornou o consumo mais assertivo, ou seja, o cliente desenvolveu o hábito de planejar mais as compras, levando menos tempo para escolher os produtos, um comportamento que ainda deve permanecer nos próximos meses, segundo as estimativas de Humai.
“O tempo que a pessoa passa no shopping caiu de 76 minutos em média para a casa dos 30 a 35 minutos. E os shoppings ainda sem muita opção de entretenimento. Até pouco tempo não tinha restaurante, não tem cinema, teatro nem parque de diversão ainda. Realmente, o shopping foi mais usado para compras”, afirma.
Segundo Humai, os pedidos dos lojistas por reduções nas cobranças de aluguel se acomodaram, e se fez um entendimento de que as empresas de shopping centers poderiam contribuir com os lojistas, os quais voltariam a pagar os aluguéis nos níveis mais próximos dos níveis pré-pandemia, mas o condomínio continuaria sendo pago para a manutenção dos empreendimentos com segurança.
“Dos 110 mil lojistas nos shoppings, tivemos cerca de 3 a 5 casos que foram judicializados. Houve realmente um entendimento”, diz Humai. Sobre as lojas fechadas definitivamente, Humai afirma que o lojista pequeno não teve acesso a crédito. “O shopping subsidiou grande parte, mas era limitado. Então os lojistas menos estruturados não aguentaram ficar meses parados. E fecharam as portas”, diz.
Segundo ele, a vacância no setor, ou seja, o espaço desocupado por lojas nos shoppings, era de 4,5% em fevereiro.
“Muitos analistas acreditavam que a gente ia voltar a operar no final do ano com uma vacância próxima a 20%, mas o que a gente observa é uma vacância na casa de 7% a 8% no máximo. A gente sabia que conseguiria segurar essa vacância pelos acordos e pela dinâmica do mercado”, diz.
Segundo ele, 60% dos shoppings são pequenos lojistas e franquias, que tiveram dificuldade. “O crédito não chegou. Cinco meses depois, a gente continua com uma situação muito próxima de fevereiro e março, não se acessa crédito. Só os grandes conseguem. Isso leva a alguns fechamentos, mas não é generalizado. Alguns empreendimentos estão saindo com taxa de vacância menor do que entraram”, diz.
Fonte: Folha de S. Paulo