Rede tem percebido concentração das vendas nos dias de pagamento de salários e transações de menor volume no restante do mês
Por Raquel Brandão
Com a disputa no setor atacadista ganhando fôlego, a rede paulista Tenda Atacado resolveu destinar parte de seus esforços e investimentos para agilizar a chegada dos produtos nos corredores das lojas. Para isso, investiu R$ 42 milhões na ampliação de seu centro de distribuição (CD) em Guarulhos, na Grande São Paulo, e na automação dos sistemas de logística.
Desde sempre, conta Marcos Samaha, presidente da rede, a Tenda foi na contramão da maioria dos concorrentes, que deixa quase 80% do estoque ir direto do fornecedor para a loja. “Entendemos que centralizar os estoques no centro de distribuição é mais eficiente na gestão de estoque e de rupturas”, diz.
Por essa razão, optou por transformar dois pequenos CDs em apenas uma instalação conectada a outro prédio de armazenagem por meio de 300 metros de esteiras. São quatro ramais de esteiras transportadoras destinadas à coleta de itens que, automaticamente, são direcionados até um portal capaz de “ler” e identificar produtos. Este portal é equipado por um cubômetro, que identifica as dimensões dos volumes, e três câmeras fotográficas de alta definição identificam os códigos de barra.
Uma vez identificados, esses volumes seguem para um sistema automatizado, que se encarrega de distribuir cada caixa ou pacote para a área de armazenagem referente à loja de destino. A ideia, explica Samaha, é usar esse sistema para produtos que são importantes para as vendas, mas têm menor giro e costumam compor pallets com diversos tipos de categorias.
O ganho na acuracidade do processo vai dar velocidade na reposição das gôndolas e para as operações do varejo on-line, que existem desde 2015 e que “crescem três dígitos”.
A companhia não revela o faturamento atual. No ano passado, a receita cresceu 31%, para R$ 4,3 bilhões, e a perspectiva é de seguir forte. “Viemos crescendo todos os anos. Agora, o setor vê as vendas crescerem, mas volumes caírem e, mesmo no cenário de redução de consumo, ganhamos market share”, diz, citando a consultoria Nielsen como fonte.
Mas a deterioração do cenário macroeconômico preocupa. Ele diz que as perspectivas mudaram. A s projeções para inflação estão mais pressionadas, à medida que as incertezas crescem em relação ao equilíbrio fiscal, ameaçado pelo “drible” ao teto de gastos que o governo federal está defendendo para garantir verba para o “Auxílio Brasil”.
“Auxílio é importante para a população de menor renda. Por outro lado, vemos com preocupação o que acontece na macroeconomia. Leva ao aumento do dólar, que deixa o produto mais caro no mercado interno e estimula a exportação, reduzindo a oferta. Agrava a inflação. Essa crise gerada pelas dúvidas também tira dinheiro do bolso do consumidor.”
Na operação, a pressão inflacionária já se reflete na concentração de compras nos dias de pagamento de salários. Ainda assim, a Tenda também tem observado maior frequência das vendas de menor volume no restante dos dias. “Por termos hortifruti e açougue, temos o dobro da média de visitas de outros ‘cash and carry’, segundo a Kantar. Normalmente, os perecíveis são 22% da operação de atacarejo, mas para nós são 32%”, acrescenta.
No próximo mês, a empresa abre três lojas, chegando a 40 unidades, todas no Estado de São Paulo. Para 2022, mais terrenos já estão comprados, mas o número não foi revelado. O desafio é lidar com o aumento dos custos: construir uma loja ficou 25% a 30% mais caro do que um ano antes, segundo Samaha.
Fonte: Valor Econômico