O enviado especial LuísTadeu Dix acompanhou recentemente em São Paulo do 23º BACKSTAGE que apresentou o tema: As inovações vivenciadas pelo varejo brasileiro hoje, com destaque para a tecnologia. O encontro realizado pela Associação Brasileira da Indústria de Equipamentos e Serviços – Abiesv.
O comportamento do consumidor é impactado pelas transformações do ambiente de negócios e que, por sua vez, gera a necessidade do varejo acompanhar essa nova realidade; o papel da tecnologia é unir as duas partes para contribuir nos resultados dos varejistas. Porém nem só de bits e bytes vive o varejo na tecnologia.
De acordo com Igor Paparoto, presidente do Comitê de TI da Associação, o evento apresentou em quatro palestras muitas soluções já aplicadas pelas grandes redes varejistas ao redor do mundo e que impactam o varejo brasileiro, inclusive o da moda, sejam nas cadeias de lojas ou em unidades independentes.
Ainda que nem todas as inovações possam ser incorporadas rapidamente pelo pequeno varejo, algumas são aplicáveis sem altos custos, com resultados positivos na gestão dos negócios; inovações mesmo se não aplicadas, influenciarão até o pequeno varejo; portanto é fundamental acompanhar o que está sendo oferecido pela tecnologia.
Um ingrediente é a nova modelagem nesse cenário do varejo: A Revolução Digital.
A revolução digital traz uma situação dramática para nós, pessoas físicas e jurídicas: a Disruptura. Somos obrigados a incorporar no dia-a-dia novos hábitos, abandonando aqueles a que estamos acostumados. Sair da nossa zona de conforto e encarar a nova realidade. O risco de ignorarmos ou combatê-la? Sermos ultrapassados: em negócio isso se chama falência.
Foram quatro as palestras do 23º Backstage de Varejo: “O ecossistema de startups transformando o varejo e a loja 4.0“, proferida por Hélio Biagi, da BTR Educação e Consultoria e presidente do conselho da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo; “Analytics e machine learning para varejo“ proferida pelo consultor de varejo, moda & life style e tecnologia Igor Paparoto, presidente do Comitê de TI da Abiesv e sócio-diretor da PMVarejo; “Chatbot, análise preditiva e inteligência artificial aplicada ao varejo”, proferida por Mitikazu Lisboa, CEO da Hive; “As inovações tecnológicas que estão acontecendo no mundo do varejo“ proferida por Ricardo Pastore, coordenador do núcleo de varejo da ESPM – Escola de Propaganda e Marketing, de São Paulo.
23c2ba-backstage-do-varejo-oasislab-12-640x3601WORLD FASHION destaca alguns termos da revolução digital e seus significados, inclusive para o varejo de moda.
MINDSET – Atitude mental; necessária para entender e, mais que isso, incorporar as inovações dessa Revolução Digital; saber quais os efeitos que o novo consumidor – os chamados geração Y e milênios já trazem para seus negócios.
REVOLUÇÃO DIGITAL – É a substituição do conhecimento analógico pelo digital, presente nos computadores, capazes dar soluções melhores, mais rapidamente e interagir com consumidores e mercado, cada vez mais não utilizando pessoas.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL – Computadores capazes de realizar tarefas inteligentes, típicas de seres humanos: dialogar com consumidores e clientes; aplicação em inúmeros campos, tais como comércio, medicina, segurança, processos de gestão em geral, finanças, etc.
CHATBOT – Respostas instantâneas aos clientes geradas por computadores que aproveitam experiência de consultas e respostas dadas oferecendo atualizações de respostas mais completas, indicações, sem terem sido programadas por pessoas. Há dois tipos de Chatbot: os simples que apenas respondem às dúvidas e perguntas e o chamado smartbot, com Inteligência artificial que inclusive orientam para compras.
Errar rápido – acertar rápido – o uso da Inteligência Artificial permite que a empresa localize rapidamente o erro e possa corrigir também rapidamente; empresa valoriza o processo de progredir para acertar, mais do que dar atenção ao erro;
MACHINE LEARNING – Habilidade do softwear (o robô) de melhorar respostas sem interferência de programadores. Está em rápido crescimento, por sua aceitação no mercado;
INTERNET OF THINGS (IoT) – Internet das Coisas. Trata-se de dispositivos que serão conectado através da internet incluindo geladeiras, freezers, carros e vários outros hardwares.
Em entrevista exclusiva para o World Fashion, o presidente do Comitê de TI da Abiesv, Igor Paparoto, destaca pontos chaves da nova tendência, válidos para todos os segmentos da cadeia de produção – da indústria até o varejo.
WORLD FASHION – O conceito dos 4R (Right Product, Right Place, Right Time resultam em Right Profit) é um caminho muito objetivo e claro para a gestão do varejo ao destacar as decisões fundamentais para quem atua no setor. A loja de Moda, com pelo menos três estações fixas (primavera-verão, alto verão e outono-inverno – de modo geral, sem mencionar o fast fashion) é obrigada a ter mais flexibilidade para decidir sobre variedade e sortimento do que as lojas que não sofrem esse tipo de pressão sazonal/ cíclica. Como você vê a possibilidade de as lojas independentes usarem o sistema 4R com apoio de Mídia Digital?
IGOR PAPAROTO – O nome 4R realmente é muito feliz e simboliza o que a empresas têm a oferecer. São líderes em serviços de Analytics e Machine Learning no varejo norte americano e oferecem os mais sofisticados algoritmos para melhorar a lucratividade do varejo. O varejo de moda é extremamente difícil de planejar e gerir. Com as soluções baseadas em algoritmos e modelos estatísticos, encontram-se padrões de comportamento os quais não somos capazes de enxergar. Fundamental para um desempenho superior, quando se fala de mundo da moda, soluções de otimização de sortimento (assortment optimization) e Alocação (allocation), levam o varejista de moda a outro patamar. Para os produtos mais básicos, com ciclo de vida mais longo, as soluções de ressuprimento (replenishment), complementam o leque. Serviços da 4R estão orientados para empresas maiores, mais estruturadas e que tenham mais preparo para implantar e obter os benefícios que uma gestão de uma linha pode trazer. Se falarmos em faturamento, empresas acima de R$ 400 milhões de faturamento ao ano tendem a estar mais preparadas.
WF – O 23º Backstage tem mostrado que a cultura digital já é uma realidade que bate à porta do varejo. É uma oportunidade ou ameaça conforme seja a reação do lojista. Qual o caminho para empresas como fiações, malharias, tecelagens, lavanderias, tinturarias, acessórios, confecções, fornecedores diversos, atacado, pronta entrega e lojas (físicas e e-commerce), possam se entusiasmar com a cultura digital – Mindset?
IP – Primeira recomendação: Revolução digital NÃO é modismo. É estilo de vida. Basta olharmos para as crianças de cinco ou seis anos, jovens de 20. Tudo pelo celular. Segunda recomendação: Informem-se. Leiam. Contratem profissionais para lhe auxiliar. Sua empresa não precisa de tudo que há no mercado. Identifique as suas dores/necessidades e procure a melhor solução tecnológica para ela, Uma que caiba no seu bolso. Há várias startups/soluções interessantes e acessíveis.
Estamos, por exemplo, assessorando algumas cadeias, de vários portes, a identificar dores e necessidades e a encontrar as soluções, aqui e em Portugal. Terceira recomendação: Importante conceituar que digital NÃO é somente na loja. Há ferramentas de comunicação de equipe, já disponíveis no Brasil, que criam uma intranet descentralizada, em nuvem, que custa R$ 12,90/mês, por usuário. É uma solução top, recente, e que empresas enormes na Europa já usam. E está aqui no Brasil. Digitalizar é abrir caminhos às empresas com ferramentas tecnológicas
WF – Qual seria o papel de um jornal influente no meio dos negócios da moda, como o World Fashion, para atualizar e motivar seus leitores no ambiente tecnológico?
IP – Há um papel fundamental nos veículos de comunicação. A informação por si só é importante. Porém, para outro patamar, a mídia deve orientar e mostrar caminhos. Artigos que mostrem, periodicamente, cases de soluções interessantes. Boas práticas no nosso varejo e de fora, que façam o varejista pensar. Organizar discussões com varejistas. Ter uma coluna só para tecnologia. Sem devaneios. Coisa que se possa aplicar de fato.
WF – Em função de um alto investimento inicial para uma loja independente, um Shopping Center poderia iniciar o Mindset digital para seus lojistas buscando algum tipo de compartilhamento de informações sobre seus clientes?
IP – É uma boa ideia. A instituição Shopping Center, que deseja que o lojista tenha sucesso e expanda, pode e deve participar deste movimento.
Há no Brasil gente boa trabalhando com monitoramento de comportamento, fluxo, usando a Internet das Coisas (IoT). Shoppings poderiam utilizar essas soluções e fazer um share de custos e informações com lojistas. Particularmente, creio que o varejista deva se digitalizar sem esperar por auxílio externo. Procure ajuda de gente que está conectada com estas inovações. Se puder, vá a feiras no Brasil e exterior. Vá a palestras. Assine newsletters em sites. Comece por algum problema na sua empresa que está lhe fazendo perder oportunidades. Implante. Resolva. Aprenda. Depois, passe para outro problema. E assim vai.
Fonte: World Fashion