Edição 2019 da SXSW mostra que a mudança de mindset e a busca por empatia e relacionamentos devem ser a prioridade da transformação digital
Por Fabia Pires, sócia-diretora da Varese Retail
Mergulhar no mundo da disrupção digital durante a SXSW é uma experiência e tanto. Centenas de palestras abordam a inovação das mais distintas formas e é humanamente impossível obter uma visão global sobre o evento. Na era da personalização, cada um dos mais de 75 mil participantes das conferências que integram o evento teve uma SXSW para chamar de sua.
Respirando varejo 24 horas por dia e contribuindo para a transformação digital das empresas do setor, meu foco estava nas questões ligadas a esses assuntos. E o volume de insights é tão grande que é difícil até mesmo fazer um resumo das principais ideias trazidas pelo evento. Mas sempre é possível tentar:
Tecnologia não é uma barreira
A primeira lição da SXSW é o fato de que tecnologia tem se tornado cada vez mais acessível e é meio para empresas que precisam iniciar seu processo de transformação digital ou já está nele. Seja qual for sua necessidade de negócio, alguém, em algum lugar do mundo, já desenvolveu uma solução que, de alguma forma te atende. E, muito provavelmente, uma solução que funciona na nuvem e pode ser contratada por um preço bastante acessível para dar o pontapé inicial nas mudanças. Então não se preocupe (tanto) com os desafios tecnológicos, pois eles podem ser vencidos com a ajuda dos parceiros.
A transformação fundamental é cultural
A tecnologia não é a principal questão da transformação digital. O desafio real é o desafio da mudança de cultura. Aquela famosa frase do Peter Drucker (“a cultura come a estratégia no café da manhã”) nunca foi tão verdadeira. Por isso, a mudança do mindset da empresa deve ser a prioridade absoluta. Não adianta colocar os sistemas na nuvem se a tomada de decisão continua sendo autocrática. Não adianta criar open spaces, áreas de descompressão ou mudar o dress code da empresa e manter o refeitório da diretoria ou excluir os funcionários da troca de ideias sobre melhorias.
Uma empresa digital é uma empresa horizontal e, por isso, mais democrática. É uma empresa em que todos podem ser ouvidos e têm sugestões a dar para o desenvolvimento dos negócios. É uma empresa que valoriza o senso de pertencimento e trata cada colaborador como dono do negócio.
Prepare as pessoas
As pessoas precisam estar capacitadas a lidar com tecnologia e a mudar com a agilidade necessária. É preciso contratar (ou preparar quem já está na empresa) profissionais flexíveis, que não se sintam inibidos por um ambiente em contínua mudança. Esse é um mindset que nem todos terão, mas que pode ser treinado. Mesmo que erros sejam cometidos ao longo dessa mudança, é melhor mudar errando do que morrer parado.
Estimule a empatia e a confiança
Quanto mais o mundo se digitaliza, mais relevante ficam os comportamentos tipicamente humanos, como a empatia e a confiança e o relacionamento entre as pessoas. Nesse sentido, os dias de SXSW foram dias otimistas, pois reafirmaram a capacidade das pessoas de fazerem a diferença. O maior desafio não está na aplicação da tecnologia, mas nas relações interpessoais, nos “soft skills”. Mesmo com toda a tecnologia disponível nas empresas, estimule a empatia dos colaboradores com os clientes e desenvolva relações de confiança e pertencimento.
A empresa que tem empatia coloca o cliente no centro das decisões. Isso implica em uma mudança cultural: se as decisões são relevantes para os consumidores, não pode haver barreira que impeça essa decisão de ser implementada. Quem tem que decidir se o produto está certo e qual seu valor agregado é o cliente, não a empresa, mas o que costuma acontecer é justamente o oposto, o olhar “da empresa para fora”. Em vez disso, olhe “de fora para dentro”: analise seu negócio sob a ótica do cliente e use metodologias ágeis para levar velocidade para a empresa.
Pessoas, pessoas, pessoas. O grande saldo da SXSW é que GENTE é um fator cada vez mais importante. Os relacionamentos construídos pelos colaboradores com os clientes é que fazem toda a diferença. Não permita que sua busca pela transformação digital deixe seu time e a cultura da empresa em segundo plano.
Fonte: BTR Varese