A Tarpon Investimentos comprou uma participação na Petlove, site de vendas de produtos para animais de estimação, por meio de um fundo estruturado para essa operação. É o primeiro movimento da gestora após a reorganização anunciada em dezembro, que levou à decisão de mudar o seu modelo e focar em negócios da “nova economia”.
Os quatro sócios da Tarpon entram como cotistas no fundo criado, chamado Payara. Pedro Faria, um dos fundadores da empresa de investimentos, será o principal gestor do fundo. A empresa não revela o percentual adquirido ou valor investido. O Valor apurou que, para compra da participação e investimentos de curto prazo na operação, a captação do Payara deve somar entre R$ 200 milhões a R$ 300 milhões. Tarpon e Petlove não comentam valores.
O fundo ainda está aberto para captações. Uma primeira rodada entre investidores permitiu à Tarpon concluir a compra — a negociação foi fechada há cerca de duas semanas.
Para a entrada da Tarpon, o fundo de investimentos Tiger Global , um dos maiores do mundo em tecnologia e comércio eletrônico, saiu do negócio. A gestora brasileira Monashees Capital e o fundo de investimento argentino Kaszek Ventures mantêm sua posição. Monashees, Kaszek e Tiger tornaram-se sócios do site em 2011.
Os diretores da Petlove, fundada pelo empresário Marcio Waldman, se mantêm no comando, sem intervenção direta da Tarpon na administração. “Todos os acionistas [da Tarpon] são sócios [da Petlove], sendo que Marcelo [Marcelo Lima, CEO da Tarpon] e Zeca [o sócio José Carlos Magalhães] vão ter um envolvimento maior, e a mim caberá contato mais frequente com o Marcio e uma dedicação maior”, diz Faria. A Tarpon foi criada em 2002 por Magalhães, Faria e Eduardo Mufarej.
Após a ruidosa saída de Pedro Faria da presidência da BRF, em agosto de 2017, e com a anunciada reorganização do modelo de negócios da Tarpon, o mercado se perguntava quais seriam as primeiras investidas da gestora, ex-acionista da companhia de alimentos dona da marca Sadia. Outro ponto era entender melhor a posição de Faria nesse novo desenho da Tarpon.
Faria deixou a BRF após desgastes com acionistas relativos à condução do negócio e depois de a empresa ter cometido falhas na gestão. Cerca de um ano e meio após a saída, a Tarpon anunciou uma reestruturação, com fechamento de capital e gestão focada nos recursos dos próprios sócios.
“Com a reestruturação [da Tarpon], a gente passou a buscar alguém com DNA digital. Entre as opções, o mercado ‘pet’ aparecia de forma recorrente, pelo potencial e espaço para se criar um negócio digital com escala, já que ainda é um mercado muito pulverizado no Brasil”, disse Faria.
Com a Petlove, a intenção é desenvolver uma operação on-line que inclua, além de venda de produtos, a criação de serviços e publicação de informação ao consumidor. “Não estamos olhando esse negócio de venda on-line para ‘pets’ como comércio eletrônico puro e simples”, diz Waldman. “Queremos criar ferramentas para que o cliente tenha acesso a um portfólio mais completo e a serviços, como rede de dados de médicos especializados”, acrescenta.
Foram três aportes de investidores (incluindo este último), que levaram à diluição da participação de Waldman, como normalmente ocorre nos negócios on-line — historicamente grandes consumidoras de caixa nos primeiros anos de operação. Por exigir uma estrutura robusta de tecnologia e logística, essas empresas costumam levar anos até obter lucro operacional. Sem citar números, Waldman diz que a Petlove é geradora de caixa e está dando lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda) há quatro trimestres.
Circulam informações no mercado de que a Petlove pode expandir a operação por meio da aquisição de clínicas veterinárias — seguindo uma tendência desse setor. Questionado sobre eventuais fusões ou aquisições, Faria diz que o fundo criado pela Tarpon se dedica ao negócio pet e que negociações “no mundo on-line e digital” não estão descartadas. “Já há um comprometimento do fundo para novos investimentos”, afirma.
Waldman é veterinário e fundou o negócio há quase 20 anos, como PetSuperMarket. Este ano, diz ele, a empresa deve atingir receita bruta entre R$ 250 milhões e R$ 280 milhões, alta de ao menos 25% sobre 2018. Com base nesses números, a Petlove informa que é a terceira maior companhia do setor, atrás apenas das redes de lojas Petz e Cobasi. Não há um ranking oficial desse mercado considerando todas as operações, física e virtual.
Fonte: Valor Econômico