As perdas gerais das varejistas alcançaram R$ 11,4 bilhões em 2021, equivalente a 1,86% do faturamento, versus taxa de 1,79% no ano anterior
Por Adriana Mattos
Os supermercados venderam R$ 611 bilhões em 2021, expansão nominal de 10,3% em relação ao ano anterior, relatou ontem a Abras, associação do setor, com reflexo direto da escalada dos preços dos produtos. As perdas das lojas cresceram dentro do faturamento anual e o peso das “quebras” de produtos no total de perdas do setor aumentou.
Mas os furtos, que eram uma preocupação das lojas em certo período da crise no consumo gerada após a pandemia, ficaram estáveis dentro do bolo total. As informações foram apresentadas no evento “Smart Market” promovido esta semana pela Abras.
As perdas gerais alcançaram R$ 11,4 bilhões em 2021, avanço de 15%, e equivalente a 1,86% do faturamento, versus taxa de 1,79% no ano anterior. Apesar da piora, a Abras vem destacando o “lado do copo cheio” desse indicador, disse Rodrigo Segurado, vice-presidente de ativos setoriais da entidade, dias antes do anúncio dos dados.
“A taxa de 2021 supera 1,8% do faturamento, mas temos que analisar os 98,2% de nível de eficiência do setor, que deixamos de destacar quando divulgamos esses percentuais todos os anos. É uma taxa elevada, e que tem se mantido acima de 98% há anos”, diz ele.
A pandemia, que obrigou as empresas a acelerarem projetos na área digital, e a reorganizar as suas operações de maneira brusca, para enfrentar as mudanças nos hábitos de compra, pode ter afetado esse desempenho. A expectativa é que os ajustes internos se reflitam em melhores índices em 2022.
Na conta das “quebras” estão, por exemplo, prejuízos com itens fora do prazo de validade, mercadorias avariadas e danos a equipamento de lojas. Essa linha representava 48% das perdas totais em 2020 e subiu para 57% em 2021.
Furto externo, promovido por clientes, e interno, por empregados, passou de 21% para 23%. Considerando nessa linha as fraudes pelos fornecedores, o índice fica estável em 28% do total de perdas nos dois anos. Em 2019, esse índice era maior, em 31%.
Naturalmente, como o bolo cresce mesmo com a taxa estável, em 28%, o montante acaba subindo em 2021, passando de quase R$ 2,77 bilhões para R$ 3,19 bilhões – cerca de R$ 420 milhões perdidos nos furtos e fraudes. No ano anterior, foram R$ 640 milhões.
Para Segurado, o setor pode, com base nesses dados, identificar melhor as áreas em que dá para aprimorar monitoramento interno e produtividade. “Por exemplo, na quebra operacional, identificamos que há ganhos possíveis especialmente em controles do prazo de validade e em produtos avariados”. A Abras definiu espécies de termômetros dentro de cada tipo de perda para identificar onde há mais espaço para melhorias.
No caso dos produtos com validade vencida, a Abia, associação da indústria de alimentos, e a Abras vem discutindo há alguns anos um projeto batizado “best before”, que flexibiliza a regra de validade de produtos definida pelo Código de Defesa do Consumidor, de 1990. As entidades são favoráveis a determinar que o consumo de produto não perecíveis (de mercearia, como macarrão e chocolates) pode ocorrer preferencialmente até determinada data, definida na embalagem. Com isso, de certa forma, caberá ao consumidor avaliar se leva a mercadoria ou não. Algumas entidades de defesa do consumidor são contra a mudança. A questão vem sendo discutida com órgãos do governo.
Fonte: Valor Econômico