Promoções e aposta em marcas de entrada são algumas das armas contra retração nas vendas no primeiro semestre
Por Márcia de Chiara
Depois do boom de vendas registrado pelos supermercados no ano passado, hoje o setor enfrenta um ambiente de negócios diferente. Inflação e desemprego em alta, redução do auxílio emergencial e reabertura gradual de outros negócios, como restaurantes, provocaram forte queda nas vendas. Para tentar virar o jogo vale tudo. Dos tradicionais descontos na loja física, vantagens nas compras por aplicativos, marcas mais baratas até a tentativa de transformar o supermercado num ponto turístico.
De janeiro a maio, o tombo nas vendas foi 10,25% nos supermercados do Estado de São Paulo, em relação a igual período de 2020, aponta a Associação Paulista de Supermercados (Apas). No resultado são consideradas as mesmas lojas e descontadas a inflação e influências sazonais.
O retrato mais fiel desse tombo aparece na boca do caixa. “Tem crescido o abandono de carrinhos nos supermercados na hora de pagar”, afirma o economista da Apas, Rodrigo Mariano. Isso mostra que a intenção de compra não cabe mais no orçamento das famílias.
Em 12 meses até junho, a inflação oficial do País, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acumula alta de 8,35%. Pressionada pelos alimentos, a inflação dos produtos vendidos em supermercados é quase o dobro (15%).
“Estamos preocupados com a queda nas vendas”, diz Hélio Freddi, diretor do Hirota Supermercados com 16 lojas na capital. Entre as alternativas para estancar a queda de 7% nas vendas que a rede enfrenta em relação a 2020, o executivo recorreu a algo inusitado. Decidiu transformar uma das lojas num ponto turístico para ampliar o número de clientes.
A rede investiu R$ 1,5 milhão na reforma da loja do bairro da Vila Madalena, próxima ao Beco do Batman. Contratou o prestigiado grafiteiro Eduardo Kobra para pintar um painel de 40 metros na fachada. “Transformamos a loja da Vila Madalena num ícone para atrair clientes.”
A rede passou a incluir nas prateleiras marcas mais populares, com preços até 20% menores em relação às líderes. “As marcas populares já respondem por 10% da oferta.” Também intensificou o cadastramento dos clientes no clube de vantagens, ofertando descontos.
O Grupo Carrefour, líder em vendas do setor, relançou o seu aplicativo no fim do ano passado – e conseguiu manter as vendas estáveis. “Antigamente o aplicativo era uma plataforma de descontos. O que fazemos hoje é juntar descontos com recompensas, que é uma maneira de reter os clientes”, diz o diretor de marketing, Daniel Milagres.
Outra iniciativa da varejista é a sinalização dos produtos mais baratos por categoria dentro da loja. A marca própria da rede tem sido outro grande destaque. “A sua participação no mix teve uma ampliação significativa”, diz o executivo.
“O supermercado foi um dos varejos mais aquinhoados pela pandemia, e nenhum empresário sério do setor teria a ilusão de que as vendas continuariam no mesmo patamar após a reabertura da economia”, afirma o sócio da consultoria Mixxer, Eugênio Foganholo.
Segundo ele, para reduzir a queda nas vendas, as lojas devem adequar a oferta ao bolso do consumidor, hoje mais pobre por causa da alta da inflação. Mas lembra que novas oportunidades estão se abrindo para os supermercados, como a venda de pratos prontos. “A competição daqui para frente vai ser boa e quem ganha é o consumidor.”
Fonte: Estadão