Enquanto outros ramos do comércio ampliado vão terminar março no vermelho, redes de varejo alimentar se adaptaram rápido ao padrão de consumo com soluções criativas para elevar vendas. Enquanto setores importantes do comércio seguem pressionados pela instabilidade econômica, o ramo supermercadista está, na medida do possível, incólume aos efeitos nocivos do momento atual.
No primeiro trimestre deste ano o ramo supermercadista cresceu 0,42% no volume de vendas, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras). A cifra é superior à estimada pelo mercado para o varejo como um todo, que fica em 0,2% nas avaliações mais otimistas e queda de 0,2% nas pessimistas.A sustentação dos supermercados, que se dá em função de ser itens de necessidade básica, também se apoia em na velocidade que empresários se adaptaram a realidade do País. Quando avaliado o resultado do setor no acumulado do ano, mês a mês, o ramo supermercadista encolheu em apenas duas leituras (veja no gráfico) enquanto setores como vestuário, bens duráveis e material de construção, na mesma base, registraram resultados negativos em pelo menos oito períodos. “O varejo alimentar foi muito ágil em ações que vão desde a rápida adaptação para o atacarejo até a reestruturação de bandeiras menos rentáveis”, comenta o professor de macro economia e especialista em comportamento do varejo, Ismael Assis.
Como resultado, explica o acadêmico, os supermercados conseguiram tirar o peso das operações deficitárias (como hipermercados) e agregar valor nas operações mais saudáveis. “Um exemplo que eu sempre dou foi a agilidade com que o Grupo GPA repensou a bandeira Hipermercado Extra”, disse ele, lembrando que a gigante do varejo passou por um período de conversão de bandeiras Extra em Assaí, braço de atacarejo do grupo e que ganha muito espaço desde 2016.
Em um efeito cascata, o consultor independente de varejo, Francisco Malta, avalia que os pequenos e médios empresários também foram sagazes na condução do negócio. Ele, que foi consultor na reestruturação de uma rede de supermercados do Mato Grosso do Sul, conta que a solução para atravessar a crise estava na oferta direta de crédito.
“Fizemos uma pesquisa e percebemos que havia uma demanda forte de consumidores que precisavam, por exemplo, trocar a geladeira, mas não havia crédito nos bancos. Nossa solução foi oferecer esse crédito e garantir vendas de itens de maior valor agregado.”
Com o cartão em operação há dois anos ele conta que a rede coleciona avanços. “Em um ano o faturamento saltou 10% e amorteceu a diminuição das vendas de alimentos importados, por exemplo”, conta.
De uma forma ou de outra, as estratégias estão dando resultados. No mês de março, as vendas cresceram 11,15% em relação a fevereiro, e apresentaram queda de -3,24%, sobre um ano antes. O motivo da retração, segundo o presidente da Abras, João Sanzovo Neto, foi sazonal. “A Páscoa do ano passado a foi comemorada no início de abril e as compras concentradas em março, neste ano a data foi comemorada na segunda quinzena de abril”, explica o executivo.
Fonte: DCI