Pode até estar faltando dinheiro para comprar tudo o que se quer, mas tem certas marcas das quais o consumidor não abre mão. Só que, na hora de comprar, o produto sumiu. A falta de opção nas gôndolas dos supermercados tem incomodado os consumidores. “Falta variedade. Tenho o hábito de ir a um supermercado, mas lá só tem uma marca de feijão. Já experimentei dela e não gostei. Por isso, tenho que ir a outro lugar para encontrar o que quero”, reclama Iara Prado, 44, letrista de faixas.
Segundo o diretor de relacionamento de varejo e indústria da NeoGrid, Robson Munhoz, o problema está relacionado com a crise econômica do ano passado. “Percebemos o crescimento do índice de ruptura (que mede a falta de produtos nos supermercados) desde o segundo semestre de 2016. Foi um ano ruim para o varejo. Os supermercadistas, em função da crise, com receio de os produtos encalharem, deixaram de comprar quatro ou cinco marcas de um item e focaram só em uma ou duas”, avalia.
Segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), o setor registrou em 2016 alta de 1,58% em valores reais nas vendas na comparação com 2015.
Para o diretor, a tendência do ano passado se manteve nos primeiros meses de 2017. “A crise não passou, então o receio do supermercadista permaneceu nos últimos meses”, diz Munhoz.
“Antes eu achava minha marca de requeijão preferida no supermercado ao qual tenho o hábito de ir. Agora não encontro mais”, conta a enfermeira Amanda Melo, 28. “Sinto falta de várias marcas. O sabão em pó que eu gostava de comprar, porque é bem mais econômico, não tem mais. Tenho que ir a outra loja”, acrescenta a dona de casa Raimunda de Melo, 69.
Munhoz alerta que a decisão do mercado pode afastar o cliente. “O problema é que os supermercados escolhem as marcas não de acordo com a preferência do cliente, mas sim aquelas que dão uma margem de lucro maior. Eles pensam neles na hora de escolher. Isso pode fazer com que o cliente busque outra loja e acabe trocando de hábito, abandonando a primeira”, explica o diretor da NeoGrid.
Para a vendedora Márcia Maria Salgado, 50, “falta variedade”. “Procurei o ‘meu’ café e não achei. Eles tinham que dar mais opção para comprarmos o que realmente queremos”, opina.
As gôndolas devem voltar a ter mais opções de marcas no segundo semestre deste ano. “Acredito que a recuperação econômica vai ajudar, mas só no segundo semestre. A própria indústria deve ter uma retomada e buscar maior presença nas lojas”, conclui Munhoz.
Alta
Com altas consecutivas desde julho de 2016, o índice de ruptura dos supermercados recuou e chegou a 9,36% em dezembro. No mês anterior foi de 10,64%.
Outro lado
A Associação Mineira de Supermercados (Amis) alega que o mix de produtos considera as preferências da região. “Temos hoje uma adaptação do mix de acordo com o mercado da região. Normalmente, trabalhamos com uma marca líder de mercado, a líder da região e outra marca ‘de combate’”, afirma Antonio Claret Nametala, superintendente da Amis. O preço, em momento de crise, também tem sido considerado. “O preço é um definidor para o consumidor. Ele não é fiel mais à marca nem à empresa”, avalia Nametala.
Segundo o superintendente, para evitar que produtos encalhem nas gôndolas, as redes fazem uma migração. “Quando um produto não tem saída em uma unidade, deslocamos para outra onde ele é mais procurado”, conta.
Nametala afirma que a escolha do mix considera a preferência do cliente, e não a margem de lucro, como disse o diretor de relacionamento de varejo e indústria da NeoGrid, Robson Munhoz. “Isso não acontece, porque o resultado do supermercado vem no volume, não na venda por unidade. Não adianta ter uma ótima margem se o produto não vende”, diz.
O superintendente não relaciona um aumento de variedade de produtos com o aquecimento da economia. “Conhecer a preferência do cliente é um caminho sem volta”, opina. Porém, salienta que “o supermercado também vive de novidade”. “Se a indústria reagir, com a retomada, pode ser que novas marcas surjam. Mas é difícil dizer se isso vai acontecer”, conclui.
Fonte: Abras