De cada R$ 100 em vendas no comércio de alimentos em Belo Horizonte, pelo menos R$ 1,30 é perdido para a violência, seja em um assalto à mão armada ou no furto de produtos praticado pelos próprios clientes.
O número preocupa comerciantes do setor, que traçam estratégias para aumentar a proteção dos estabelecimentos. Nos últimos 12 meses, mais da metade (54,4%) dos supermercados foi vítima de algum tipo de violência. Além dos prejuízos com perda de produtos, grande parte das empresas (67%) investe, em média, 5% do faturamento mensal com aparatos de segurança, entre circuitos internos de TV e alarmes.
Se considerarmos que o setor supermercadista faturou R$ 33,9 bilhões em Minas, em 2016, é como se até R$ 1,7 bilhão tivessem sido gastos no ano para combater a criminalidade.
Munido de uma extensa pesquisa que demonstra uma escalada da violência nos últimos 12 meses, o Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios de Belo Horizonte (Sincovaga) reuniu representantes do segmento e autoridades de segurança pública na tarde de ontem para buscar soluções em conjunto. O levantamento foi realizado em parceria com a Fecomércio MG.
Para o presidente do Sincovaga, Gilson de Deus Lopes, a situação também traz prejuízo aos consumidores, já que comerciantes começam a alterar a rotina fechando as lojas mais cedo e evitando trabalhar nos finais de semana. “Sem mencionar que o investimento feito em segurança poderia estar sendo aplicado em melhoria dos estoques ou no próprio capital de giro das empresas”, diz o presidente do Sincovaga.
De acordo com a pesquisa, 46% dos estabelecimentos instalaram circuito interno de TV e 26% optaram por um sistema de alarmes, justamente os aparelhos mais caros. “Percebemos o agravamento de uma sensação que vinha se desenhando. A situação é reflexo da crise econômica no país e que vem deteriorando as condições de segurança de uma forma geral”, avalia Gilson Lopes.
Além dos prejuízos com o roubo de produtos, ele também lamenta que o aumento nos assaltos à mão armada, por sua natureza extremamente violenta, acaba por afugentar a clientela, o que traz mais prejuízos com a queda nas vendas.
Dono de um supermercado no bairro Prado, ele mesmo conta que foi assaltado recentemente. “O assaltante simplesmente parou o carro no meio da rua, desceu, assaltou o caixa e voltou para o veículo que ficou no meio da via, sem ser interceptado”, lamenta.
Carrinhos de compras estão entre as principais ‘vítimas’
Na última semana, o segurança de uma das lojas do Decisão Atacarejo flagrou um homem vestido com terno e gravata colocando uma peça de picanha dentro da maleta.
“Acontece de tudo e as aparências não dizem nada. Em se tratando de roubo, não interessa se a pessoa está bem vestida ou não”, diz a gerente de Marketing do grupo, Valéria Bax. Segundo ela, atualmente cerca de 20% do quadro de pessoal do Decisão é formado por funcionários focados na segurança e na prevenção de furtos.
Uma pequena bolada, o equivalente a quase 5% do faturamento da rede, é gasta mensalmente para combater a violência. “Temos um sistema grande de câmeras e fiscais rodando as lojas”, diz Valéria.
Os carrinhos de compras estão entre as “vítimas” preferidas. “Só na inauguração da última loja levaram dois. O prejuízo é grande, pois cada unidade custa entre R$ 330 e R$ 440”, afirma. Para tentar espantar os ladrões, a rede adotou o amarelo, que é um tom mais chamativo, como cor padrão dos carrinhos. “Esperamos que dê certo”, diz.
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios de Belo Horizonte, Gilson Lopes, afirma que “apesar de todo o esforço da polícia, as ações não tem sido suficientes”.
Segundo ele, a polícia precisa aumentar seu efetivo. Presente à reunião, o coronel Winston Coelho Costa, responsável pelo Comando de Policiamento da Capital (CPC), contestou a falta de efetivo informando que são 5 mil policiais em toda a capital. “Este efetivo é suficiente”, garantiu.
O coronel queixou-se da legislação e informou que mais de 3 mil infratores já foram presos e soltos mais de uma vez, somente este ano. “Os crimes de menor potencial ofensivo acabam determinando a soltura. Então não adianta somente colocar mais 5 mil militares nas ruas”, afirmou.
A aposta de ambos – sindicato e PM está nas recém-implantadas bases móveis. Lopes destaca que as ações comunitárias têm apresentado bons resultados e que tem orientado os comerciantes a registrar o boletim de ocorrência. “A PM age de acordo com os dados que tem. Quanto mais informações, mas condições de agir”, diz.
Fonte: Hoje em Dia