As redes de supermercados já travam uma queda de braço de mais de 15 dias com seus fornecedores. Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra, os supermercados têm represado suas compras e vendido seus estoques para tentar negociar preços menores. A Associação Paulista de Supermercados (Apas) disse que orienta os associados a comprarem apenas o necessário.
“Nos últimos 15 a 20 dias o varejo está discutindo preço. A palavra certa é essa mesma: queda de braço”, diz Terra. A Apas prefere usar o termo “negociação”: “A Apas reitera que tem recomendado aos supermercados associados que continuem negociando com seus fornecedores e comprem somente a quantidade necessária para a reposição”, diz em comunicado.
Na prática, o que a reportagem já verificou foi a limitação de compras de produtos básicos em dois estabelecimentos da rede Extra, do Grupo GPA.
Na unidade da Rua Rêgo Freitas, na Vila Buarque, o limite era de 10 quilos de arroz por compra. Na Avenida Itaquera, zona Leste da capital paulista, o limite de arroz era o mesmo. Havia ainda o limite de cinco unidades de 900 ml de óleo.
Nem o GPA, nem a Associação Brasileira de Supermercados quiseram comentar sobre o ocorrido.
Para Eduardo Terra, casos como este acontecem pelo fato dos varejistas não aceitarem o aumento de preços repassado pela cadeia fornecedora. “Como o aumento (nos preços dos fornecedores) é abrupto, há represamento da compra (dos varejistas). O varejo tenta postergar tabela de preços”, diz.
Os aumentos de preços dos alimentos neste momento ocorrem sobretudo por causa da desvalorização do real em relação ao dólar, que baliza os preços desses produtos no mercado internacional. Esse movimento também é impulsionado pela forte demanda externa por alimentos, sobretudo por parte da China.
Para o presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo (Ibevar), Claudio Felisoni, os argumentos expostos pela Associação Brasileira de Supermercados em nota na última quinta-feira fazem sentido.
Além da alta do dólar, a associação mencionou incentivos fiscais às exportações e o crescimento da demanda interna impulsionada pelo Auxílio Emergencial. “É um fato, mas vivemos uma economia de livre mercado, não há como controlar preços”, diz Felisoni.
Na nota divulgada, a Abras diz que comunicou à Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, sobre os reajustes de preços, “com o intuito de buscar soluções junto a todos os participantes dessa cadeia de fornecedores”.
No entanto, essa briga para ver quem mais diminui suas margens de lucro deve ter pouco sucesso na formação geral dos preços. “O problema é anterior ao fornecedor e o varejista. Está nos preços das commodities”, diz.
O consultor de varejo e bens de consumo, Eugenio Foganholo, também acredita que essa negociação já nasce limitada, já que as questões que fazem os preços subirem são macroeconômicas. Ele também não vê possibilidades de ação do governo para resolver essa situação. “Não há solução governamental possível no livre mercado”, diz.
Ele entende que essa regulação deve ser feita pelos próprios consumidores ao substituir os produtos caros na hora da compra. Segundo fontes, porém, representantes do governo buscaram contato com a Abras desde a manhã de ontem, antes da fala do presidente Jair Bolsonaro durante viagem a Registro (SP) vir a tona.
“Está subindo arroz, feijão? Só para vocês saberem já conversei com intermediários, vou conversar logo mais com a associação de supermercados”, disse o presidente. “Estou conversando para ver se os produtos da cesta básica aí… estou pedindo um sacrifício, patriotismo para os grandes donos de supermercados para manter na menor margem de lucro”, disse Bolsonaro. A Abras, no entanto, já mantinha conversas com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Brigar compensa
Mesmo podendo interferir pouco no preço total, as redes de supermercados têm algumas coisas a ganhar nesta disputa. Segundo Foganholo, quando uma rede consegue mostrar ao consumidor que tem preços melhores de alimentos básicos, a percepção da clientela é que o preço geral daquele estabelecimento é melhor. Assim, é possível vender também os produtos em que se tem mais margem de lucro.
Outro ponto é que uma vez que o consumidor gasta um pouco menos em commodities, sobra dinheiro para consumir esses itens que são mais lucrativos para as redes.
“Além disso, se o supermercado aparece como alguém que está lutando por um preço justo, há um ganho de imagem”, explica Foganholo.
Fornecedores
A Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) diz também em nota que, por se tratar de variável concorrencial, os preços não são discutidos no âmbito da associação, mas sim individualmente entre empresas e as cadeias varejistas.
Ainda assim, a entidade cita dados mundiais para dizer que a alta de preços de alimentos básicos é um fenômeno mundial.
“Conforme relatório publicado anteontem pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Índice de Preços de Alimentos da FAO atingiu a média de 96,1 pontos, revelando que a alta nos custos dos alimentos que compõem a cesta básica é um fenômeno que se constata em todo o mundo”, diz a instituição.
“No Brasil, a desvalorização cambial de mais de 30% pressiona os custos de produção da indústria. É importante ressaltar que o aumento provocado pela alta do dólar não é linear para o setor de alimentos e bebidas, pois atinge de modo diferente cada cadeia de produção”, complementa a Abia.
A instituição diz ainda que não há risco de desabastecimento no mercado interno. “As indústrias de alimentos têm trabalhado, sem parar, desde o início da pandemia para que não falte alimento na mesa do consumidor brasileiro. A alta de preços, infelizmente, tem afetado em maior intensidade a cotação de algumas matérias-primas agrícolas, devido aos movimentos mundiais de oferta e demanda”, conclui.
Fonte: Diário Tupã
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Paraíba Total (paraibatotal.com.br)
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