A guerra de preços nas prateleiras dos supermercados nos Estados Unidos está cada vez mais acirrada. E, acredite ou não, o motivo não é a Amazon. A estreia da Amazon como rede de lojas físicas em 2017 provocou tremores por todo o setor e fez o valor de mercado de supermercadistas como a Kroger cair bilhões de dólares.
No entanto, a Amazon parece ter deixado de ser uma ameaça tão grande no curto prazo, uma vez que seus planos para a Whole Foods, rede que adquiriu no ano passado, se desdobram lentamente. Por enquanto, quem coloca mais pressão sobre gigantes do varejo como Kroger e Walmart são duas redes alemãs de supermercados de baixos preços, Aldi e Lidl, com rápida expansão nos Estados Unidos.
“Se estivermos falando de uma morte lenta por mil cortes, quem está brandindo a espada são a Aldi e a Lidl”, disse Mike Pagila, analista de supermercados na consultoria Kantar Retail.
Antes de a Amazon ter irrompido no mundo dos alimentos com a aquisição da Whole Foods em junho, por US$ 13,7 bilhões, o Lidl era a maior novidade no setor de supermercados dos Estados Unidos. A rede alemã, que opera milhares de lojas na Europa, abriu suas primeiras dez unidades nos EUA em 15 de junho, um dia antes de a Amazon anunciar sua aquisição.
A Amazon ainda não divulgou seus planos de longo prazo para a Whole Foods. Além disso, até agora, o negócio não provocou grandes transformações. Embora reduções de preços de alguns poucos itens tenham atraído clientes e impulsionado as vendas logo após o acordo, em seguida o movimento voltou ao mesmo nível anterior à transação – quando a Whole Foods enfrentava uma longa retração, em grande parte por ser vista como tendo preços demasiado altos.
Das duas redes europeias, a Aldi é a que está mais bem estabelecida. Opera nos EUA desde 1976 e dobrou o número de lojas no país nos últimos 15 anos. Em 2017, abriu 150 unidades e chegou a um total de mais de 1.750 lojas nos EUA.
A empresa luta contra a Lidl na Europa há décadas e a chegada dessa rivalidade aos EUA propaga ondas de choque por todos os lados. À medida que a Lidl amplia a atuação, o Walmart também reduz preços, o que, por sua vez, pressiona o Kroger e outras redes.
Em recente pesquisa, a Kantar Retail concluiu que uma cesta de produtos em Charlotte, na Carolina do Norte, estava mais barata no Walmart que na Lidl – sinal de que a maior varejista do mundo, que obtém mais da metade de sua receita com alimentos, reagiu de forma agressiva. Foi a primeira vez em sete anos que o Walmart assumiu a dianteira na pesquisa, tirando o lugar da rede de baixos preços Dollar General.
A Lidl tem 47 lojas em seis Estados dos EUA e tem planos de chegar a 100 unidades até o terceiro trimestre. A expansão teve seus contratempos. A empresa substituiu o executivo que supervisionava as operações americanos após três meses e ajustou sua estratégia.
A Lidl agora vai arrendar locais a partir de 1,4 mil m2 – apenas um pouco maiores que a área média dos supermercados Trader Joe’s. O plano original era construir lojas com o dobro desse tamanho. Will Harwood, porta-voz da empresa, disse que a Lidl queria “aumentar a flexibilidade” de sua equipe imobiliária. Insistiu também que o lançamento da Lidl nos EUA “superou as expectativas”.
Apesar dos tropeços, a Lidl vem obtendo rápidos progressos. Em Wiston-Salem, Carolina do Norte, onde abriu uma de suas primeiras lojas, já conquistou cerca de 3% do mercado, segundo a Second Measure, uma empresa que analisa dados de cartões de crédito.
Além o impacto nas vendas provocado por Lidl e Aldi, os demais supermercados também enfrentam outro vento contrário. A inflação dos alimentos voltou ao setor, depois de uma série de declínios que não se via desde 1955. Os custos subiram nos últimos cinco meses. Isso normalmente não é um problema, porque permite às redes elevarem os preços e a receita.
A atual onda de intensa concorrência, no entanto, faz com que os varejistas pensem duas vezes antes de elevar os preços, de forma que a inflação pode afetar as margens de lucro, segundo analistas.
Além disso, o espectro da Amazon não deixou de pairar. Embora seus planos para a Whole Foods continuem desconhecidos, o histórico da empresa em esmagar concorrentes perturbou o mercado de alimentos. Só 2% dos alimentos são comprados pela internet, mas estima-se que essa fatia vai aumentar constantemente. Isso obrigará os varejistas a investir em suas operações digitais e expandir as opções de entrega. “Este era um setor estável que agora está lidando com contínuas rupturas”, disse Kent Knudson, sócio da Bain & Co. “A incerteza é o novo normal.”
Fonte: Supermercado Moderno