A crise pode ter provocado muitas mudanças na gestão dos supermercados, mas não espantou os planos de expansão. Sondagem de SM com 80 varejistas de todo o País identificou que 70% vão inaugurar lojas de 2017 a 2020. Juntos, eles abrirão 177 novas unidades no período. O formato supermercado domina a preferência. Corresponde a 55,5% do total de lojas, seguido pelo atacarejo, com 21,2%. O Estado de São Paulo também sai na frente, concentrando 30,5% das unidades que serão abertas. Na sequência, vem Minas Gerais, com 19%. Ganhar escala, ocupar espaços antes da concorrência e se fortalecer para quando a economia voltar a crescer são A alguns motivos que explicam a manutenção dos planos de expansão. Mas, continuar investindo num momento crítico da economia, demonstra muito mais do que uma visão do futuro. Indica ousadia para empreender.
“As empresas familiares são mais ousadas do que os grandes grupos. Os gigantes têm de prestar muitas contas e justificar suas estratégias, o que os torna mais conservadores do que os empreendedores familiares”, avalia Alexandre Ayres, diretor da Neocom Informação Aplicada, consultoria especializada em geomarketing e inteligência competitiva.
A ousadia é apenas uma das características que marcam o perfil do varejista. Assim como empreendedores de outros segmentos, muitos supermercadistas, em momentos de dificuldades, se sentem motivados a investir no crescimento da empresa. São vários os motivos que os levam a agir dessa forma, como aponta um estudo do instituto Endeavor, que traça o perfil do empreendedor brasileiro, e cujas conclusões se aplicam também aos supermercadistas. Segundo o levantamento, observa-se que:
– Os empreendedores se destacam por serem otimistas e esperar sempre o melhor
– São autoconfiantes. Acreditam em si mesmos, em suas ideias e decisões
– Têm coragem para correr riscos. Embora procurem reduzi-los, os empreendedores dizem que arriscar dá energia e faz crescer
– Consideram que o sonho é maior do que o medo e que os fracassos devem ser encarados como aprendizado
– São persistentes. Se sacrificam muito e não desistem facilmente
Ousar é importante, mas não significa que decisões – como onde abrir lojas, de qual formato e de que forma financiar a construção – não precisem ser bem amadurecidas. “Estamos em uma fase, financeira e tecnológica, em que não há possibilidade de errar nas decisões estratégicas”, afirma Francielly Feijó, diretora de varejo da Neoway, consultoria especializada em geomarketing. Para ela, é primordial acompanhar o potencial da região de forma online, para ter uma análise de vendas mais alinhada com a realidade. “O varejo tem uma deficiência grande para obter informações atualizadas. Todo o embasamento do potencial de mercado é feito em cima de informações históricas, o que já não faz mais sentido com as oscilações econômicas que temos enfrentado”, completa a executiva.
Para tornar as decisões mais assertivas, a Coop – 29 lojas no Estado de São Paulo – atua em duas frentes. Conta com uma área interna responsável pela pesquisa de viabilidade econômica dos imóveis. Há ainda o apoio de uma consultoria externa, que ajuda na análise de dados, como renda, fluxo de pessoas, perfil da população residente, entre outros pontos.
A rede abrirá três supermercados no primeiro semestre de 2017. Um deles será na cidade de Ribeirão Pires, na Grande São Paulo, com investimento de R$ 6,3 milhões. “Escolhemos o município porque já temos uma unidade lá que apresenta um ótimo desempenho. A nova filial, que terá 1.450 m2, estará localizada numa área de grande potencial, bastante populosa e que não tem acesso ao nosso modelo de supermercado”, explica Marcio Blanco do Valle, diretor-presidente da cooperativa. As outras duas unidades serão inauguradas em Sorocaba, no interior do Estado. Os recursos aplicados na construção somarão R$ 9 milhões em cada loja. Valle explica que a cidade foi escolhida pelo grau de desenvolvimento, além do sucesso de outras duas unidades existentes.
Segundo o diretor-presidente, a crise impôs maior senso de urgência às mudanças que a empresa vinha implementando desde o final de 2013, para viabilizar projetos de expansão. “Ela nos ajudou a atingir mais rapidamente nossos objetivos de colocar a Coop novamente em condição de crescer e garantir sua perenidade”, ressalta. Para alcançar esse objetivo, a empresa aposta ainda num tripé, que inclui inovação, produtividade e redução de custos.
Outra rede que abrirá três filiais do formato supermercado em 2017 é a Pague Menos, do interior paulista. Elas serão localizadas nas cidades de Campinas, Limeira e Piracicaba. Com 23 unidades atualmente, o investimento será em torno de R$ 90 milhões. Já o Grupo Zaragoza – que atua com supermercados e atacarejos – tem planos de alcançar 30 unidades até 2018. Atualmente, são 15 lojas, localizadas na região de São José dos Campos, também no Estado de São Paulo.
A empresa vai inaugurar cinco novas filiais no primeiro semestre do ano que vem. Dessas, quatro terão a marca de cash & carry Spani e estarão localizadas nos municípios de Jacareí, Bragança Paulista, Indaiatuba e na capital paulista (no bairro do Butantã). A outra unidade será um Villarreal Supermercados, em São José dos Campos. Segundo Flávio Almeida, diretor comercial do grupo, a construção de cada atacarejo custa, em média, R$ 30 milhões, enquanto um supermercado sai por cerca de R$ 20 milhões.
A rede catarinense Imperatriz pretende quatro atacarejos em 2017, totalizando cinco lojas do formato – uma será aberta ainda neste ano. Segundo Vidal Lohn Filho, diretor de expansão, a oferta de lojas cash & carry é baixa na capital Florianópolis. Com a marca Brasil Atacadista, as filiais se somarão às atuais 17 (15 supermercados convencionais e 2 gourmet).
Aliar ousadia de empreendedor, coragem para correr riscos e racionalidade às decisões pode ser uma receita de sucesso para o varejista. A ideia é manter os planos de expansão, mas, ao mesmo tempo, ser mais preciso na escolha da localização das novas unidades. A tarefa não é fácil, mas compensa.