Por Paulo Vasconcellos | Metade dos 639 shoppings brasileiros têm um supermercado. É um bom negócio para os dois lados. Operadoras de shopping centers, gestores de redes varejistas e consultorias empresariais concordam que um atrai público para o outro.
A Lumine, empresa com 40 anos de experiência em planejamento, desenvolvimento e gestão de shopping centers com atuação em todo o país, conta com parcerias com bandeiras diversificadas de supermercados: No Vila Romana Shopping, em Florianópolis, com o Carrefour; no Plaza Shopping Itu, em Itu, com o Pão de Açúcar; com a Naguno no Itaquá Park Shopping, em Itaquaquecetuba; com o Guanabara, no Praça Rio Grande Shopping Center, em Rio Grande; e com o Carrefour Express no WestPlaza, em São Paulo.
“Shopping centers que possuem supermercados têm um fluxo de clientes 30% maior durante a semana do que aqueles que não têm”, afirma Marcelo Sallum, sócio da Lumine Soluções em Shopping Centers. “No shopping, o supermercado é um polo de atração, mas o shopping também é um polo de atração para o supermercado”, afirma Fernando Martinez Basilio, diretor de expansão e galerias comerciais do Assai Atacadista.
A empresa de atacarejo fundada em São Paulo há 50 anos para atender pequenos e médios comerciantes e consumidores focados em economia, com mais de 293 lojas nas cinco regiões brasileiras, já marca presença em seis shoppings centers – um de operação própria. O plano de expansão do grupo já previa o investimento em shopping, mas há dois anos, com a aquisição do Extra, o processo acelerou. A aposta tem sido positiva.
Apesar das peculiaridades de uma operação diferente da loja convencional e do foco estratégico na localização como opção de crescimento, há o ganho extra no posicionamento da marca.
O St Marche, que tem 31 lojas espalhadas pela cidade de São Paulo, Grande São Paulo e Campinas, expandiu o negócio para cinco shoppings: Park Shopping São Caetano, Shopping Villa-Lobos, Shopping Mooca Plaza, Shopping Higienópolis e Shopping Iguatemi Campinas. O foco no atendimento diferenciado associado a produtos de alta qualidade busca oferecer uma experiência única de compra. “Como supermercado de vizinhança, queremos fazer parte dos hábitos de consumo dos nossos clientes. Por isso, estamos sempre abertos para avaliar oportunidades de lojas nesse formato”, ressalta Bernardo Ouro Preto, presidente do St Marche.
De acordo com o último Censo Brasileiro de Shopping Centers 2023-2024, da Abrasce, 49% dos shoppings centers do Brasil possuem em sua combinação de lojas um supermercado ou mercado. A concentração é maior no Sudeste, com 54%. Na região Norte, metade dos shoppings têm um supermercado ou mercado. No Sul, esse tipo de negócio está presente em 48% dos shoppings. No Nordeste a percentagem cai para 46% e é menor no Centro-Oeste, com 41%.
“Isso demonstra a agilidade dos empreendimentos em oferecer um mix completo e facilitar o dia a dia dos clientes”, diz Glauco Humai, presidente da Abrasce. “Supermercado em shopping é um ganho de mão dupla, mas exige uma adaptação das lojas ao público”, afirma João Alberto Giacomassi, diretor para varejo supermercado da Totvs, líder em sistemas e plataformas para empresas, com tecnologias de apoio ao crescimento e produtividade dos negócios, e participação, pelo ranking da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), em 59% das 100 maiores redes supermercadistas do país.
A gigante Carrefour, que opera 42 hipermercados dentro de centros comerciais, além de supermercados de vizinhança, drogarias e postos de combustíveis, soma ainda 20 lojas Carrefour Express – que funcionam como lojas de conveniência ou minimercado – dentro de shopping centers. A estratégia é ser uma alternativa de compra rápida que atende tanto o cliente quanto o próprio trabalhador do local. O perfil de venda muda: menos produtos de dispensa e mais de artigos de conveniência.
Em 49 anos de operação no Brasil, a parceria com shopping centers sempre fez parte do portfólio do Carrefour. “Uma loja de proximidade ou vizinhança nunca será uma âncora. No caso do shopping, o super é uma âncora”, diz João Edson Gravata, diretor executivo de supermercados e proximidade do Carrefour.
“É um ganha-ganha”, afirma Lídia Gomes, gerente de consultoria da JLL, uma empresa de consultoria estratégica, da seleção da locação de imóveis a estudos de viabilidade financeira. O relatório “Panorama dos Shopping Centers no Brasil 2024”, elaborado pela JLL, aponta que a opção dos consumidores por compras on-line levou a uma diminuição no tráfego de pessoas nos shopping centers, mas também revela a resiliência do segmento.
Fonte: Valor Econômico