Muitos blogs de moda que nasceram por volta de 2010 surgiram da vontade de jovens que sonhavam em trabalhar com moda, mas que não encontravam no mercado tradicional uma oportunidade ou mesmo um modelo que correspondesse às suas ideias. Algumas meninas que apostaram nesse formato alcançaram o sucesso ao irem além de um diário virtual e criarem negócios misturando o toque pessoal, que faltava aos grandes veículos, ao jornalismo ou marketing. Pense no Man Repeller, de Leandra Medine, ou no Into The Gloss, da Emily Weiss.
Aqui no Brasil, Manuela Bordasch, Catharina Dieterich e Arthur Chini são exemplo de empreendedorismo digital no mundo fashion. Em 2012, eles investiram R$ 30 em um projeto, o Steal The Look, e neste ano pretendem faturar cerca de R$ 3,5 milhões com o lançamento do Stealthelook.Shop. O e-commerce, que acaba de entrar no ar, aparece como um desdobramento do site que, para quem não sabe, em cinco anos se transformou na maior plataforma de conteúdo comprável brasileira. “A ideia de ter um e-commerce multimarcas surgiu da necessidade de uma plataforma dedicada a novos nomes na moda, que hoje ainda são muito pequenas para anunciarem em veículos como o Steal The Look“, explicam Manuela e Catharina. São 40 marcas nacionais no portfólio inaugural, e a ideia do trio é que todos os parceiros combinem com o “mood descolado” que eles desenvolveram ao longo desses anos com os leitores do site e seguidores nas redes sociais. Etiquetas mais conhecidos como Luiza Dias e Joulik dividem espaço com as neomarcas Oh Studio, de lingerie, e a August, de moda praia, por exemplo. Além disso, há espaço para peças garimpadas pelo globo em uma seção chamada Vintage.
Em entrevista à ELLE Brasil, as fundadoras falam sobre o novo marketplace e compartilham algumas dicas que aprenderam nesse tempo online de como se reinventar e continuar relevante em um ambiente que está em constante mudança.
O que muda na dinâmica de trabalho do site com a chegada da plataforma?
Já contamos com uma nova equipe para o StealTheLook.Shop. O grupo, que está crescendo, vai ser dedicado exclusivamente à plataforma. Concluímos que era necessário manter tudo organizado e dividir nossas equipes como se fossem duas empresas. Para a equipe de conteúdo do STL não existem muitas novidades, o StealTheLook.Shop se torna mais um cliente do site. A dinâmica só fica diferente para os sócios, que agora dividem o tempo entre dois negócios diferentes, mesmo que dentro de uma só empresa.
O que vocês aprenderam nos últimos cinco anos de mais valioso ao trabalhar com internet?
Uma das grandes vantagens na plataforma digital é poder testar todas as possibilidades que saem de nossos brainstorms. Na internet, todo conteúdo é passível de ficar datado em questão de horas, e é nesse momento que encontramos a oportunidade de experimentar diferentes formatos de layout e estilo de matéria. Só então, a partir desses testes, conseguimos medir resultados, analisar data e, assim, entender o que será mais eficaz para o STL como empresa e o que é mais instigante para o consumidor de conteúdo e de moda. Adotamos o que dá certo, e o que dá errado já descartamos no ato.
O que mais mudou no comportamento dos leitores do STL nesse tempo?
Com a internet disponibilizando informação 24 horas por dia e com eficácia, nossos leitores buscam um conteúdo mais rico e profundo a cada matéria em que clicam. Os consumidores em geral estão se tornando mais exigentes pois sabem que têm o poder de exigir um conteúdo melhor. Acredito que o que mais tenha mudado ao longo desses anos foi um amadurecimento do mercado consumidor.
Vocês são um veículo que possui características do jornalismo e dos chamados ‘influenciadores’. Atribuem o sucesso do STL a esse mix?
Esse mix é apenas um dos tópicos que ajudaram a dar força ao STL. Em um primeiro momento, não era nossa intenção nos tornarmos influenciadores, mas sentimos ao longo do tempo que as leitoras e consumidoras queriam se identificar com quem escrevia as matérias, queriam saber quem estava indicando aquele truque de estilo ou de beleza. Então, quando começamos a “aparecer” e mostrar os bastidores, foi natural começarmos a influenciar tanto com nossa imagem como com a de todas as meninas que trabalham com a gente. Acabamos dando uma personalidade própria ao STL. Hoje, acreditamos que o sucesso de uma equipe que tem grande poder nas mídias sociais e plataformas digitais se deve à originalidade e autenticidade. A ideia nunca foi mostrar apenas o glamour da moda. Sempre tentamos demonstrar a vida real por meio da internet: desde o escritório de 12m² em que trabalhávamos, até os perrengues e momentos difíceis durante as viagens internacionais e nacionais, onde as pessoas acabam focando somente no glamour. Buscamos sempre ser verdadeiras com nossas leitoras.
Em 2012, quando começaram, os influenciadores estavam em seu auge, agora muitas vezes parece um mercado saturado. Acreditam que ainda há espaço para novos?
Acreditamos que sempre há espaço para novas caras, mas o caminho das pedras talvez tenha se tornado engessado demais, o que não permite mais o mérito já alcançado por alguns influenciadores. Hoje, você pode entrar em qualquer recinto e não é difícil se deparar com mais uma blogueira de moda que se encaixa nos padrões e que segue a receita básica de como se tornar um influencer. É isso o que torna o ramo muito saturado. Para se destacar no mercado, a pessoa tem que ser autêntica e criativa, sem medo de quebrar regras ao longo do caminho. Assim, com certeza serão profissionais de sucesso. O que mais acreditamos é que será tudo cada vez mais nichado, com micro influenciadores cada vez mais em alta, e qualidade sendo mais valorizada do que quantidade.
Em linhas gerais, como fizeram R$ 30 virar alguns milhões?
Acreditamos que nosso sucesso se deve a muito trabalho, persistência, e muitos, mas muitos problemas enfrentados. Desde o começo acreditamos no negócio e nunca criamos a plataforma para ser um hobbie. Sempre vimos o STL com profissionalismo e sempre tratamos todos os clientes com a mesma ética, por menores que fossem. Estávamos em lugares (tanto físicos quanto profissionais) diferentes quando começamos, e para dar certo chegamos à conclusão de que teríamos de estabelecer regras de trabalho entre os sócios e segui-las à risca. Íamos desenvolvendo a plataforma como dava, com design amador, layout e logotipo criado no Paint, sem um business plan. Mas acreditamos que se tivéssemos ido atrás de tudo isso, e visto todas as barreiras que teríamos pela frente, nunca teríamos tirado o plano do papel. À medida que fomos crescendo, fomos profissionalizando o negócio como um todo.
O que acreditam que é preciso hoje para ser um empreendedor em internet no Brasil?
Persistência. É preciso saber que ninguém cresce da noite para o dia como a maioria das pessoas acredita. É entender que a caminhada terá seus trancos e barrancos, mas valerá a pena. É preciso muita coragem também, empreender no Brasil não é nada fácil.
O que vocês tentam passar por meio das redes sociais do STL? Algo vai mudar com o e-commerce?
A maior mensagem que tentamos passar através do STL é: não se leve tão a sério. Tentamos mostrar que essa vida perfeita de Instagram não é real, que é muito mais legal ser uma pessoa leve e autêntica do que angariar followers nas mídias sociais. O StealTheLook.Shop tem suas próprias mídias, mas que adotam os mesmos princípios do STL de uma maneira mais comercial, com foco nas marcas e produtos que vendemos. A única coisa que nunca vai mudar é a nossa essência, independentemente de quantos negócios venhamos a lançar.
Fonte: Elle