Um movimento recente de inovação aberta, ou seja, quando as empresas buscam soluções tecnológicas fora de sua própria força de trabalho, atingiu também as companhias de varejo. Para entender melhor seu consumidor, grandes redes estão contratando serviços de startups.
Seja com tecnologias aplicadas nas lojas, como sensores, ou somente soluções online, essas empresas nascentes oferecem produtos e serviços para companhias como a rede de cosméticos O Boticário e o grupo GPA, dono das bandeiras Pão de Açúcar, Extra e Casas Bahia, entre outras.
O GPA já tem até um programa próprio de aceleração de negócios, em parceria com a aceleradora corporativa Liga Ventures. Outras empresas optam por juntar esforços e criar espaços de empreendedorismo voltados ao segmento.
Companhias como a rede de material de construção Leroy Merlin, a fabricante de bens de consumo Unilever e a malharia Malwee são algumas das parceiras no Oasis Lab, espaço de inovação em São Paulo em funcionamento desde o ano passado.
E neste mês foi inaugurado em São Paulo o espaço de inovação ProVa – nome que faz referência a sua vocação “Pró-Varejo” – para aproximar as novas tecnologias das empresas tradicionais. A iniciativa foi conduzida pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), em parceria com o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).
De acordo com um estudo de março do Oasis Lab, foram mapeadas 193 startups no Brasil que têm o varejo como foco, utilizando diferentes tecnologias, como internet das coisas, realidade virtual e inteligência artificial.
Foco no ponto físico
A Decision6 é um exemplo de startup que está crescendo por conta de seus grandes clientes. O fundador da empresa, João Couto, observou que, enquanto os e-commerces utilizam cada vez mais dados do usuário para oferecer melhores ofertas, as lojas físicas estavam negligenciadas nesse sentido. “Elas [as lojas] estavam trabalhando com os mesmos indicadores de performance que usavam há décadas”, diz.
A startup criada no fim de 2015 leva esse nome por atuar em seis dimensões. Por meio de um sensor dentro das lojas, a companhia consegue mensurar quantas pessoas passam por determinado corredor; quantas passam muito próximas à vitrine e ficam 10 segundos ou mais; destas, quais fizeram contato visual com a vitrine; e ainda identifica aqueles que apenas pararam na frente daqueles que entraram na loja em questão.
“Geramos dados do número de pessoas que passaram pela loja, das que pararam, das que entraram e de quem comprou. Depois ainda trabalhamos para fidelizar o cliente”, explica Couto. Com essa estratégia, a startup oferece seus serviços para marcas como O Boticário, a varejista de eletrodomésticos e eletroeletrônicos Polishop e a rede de lojas de calçados Arezzo.
Análise de dados
Mais antiga, a Propz surgiu em 2012 e passou pelo programa governamental de aceleração de negócios Start-Up Chile, promovido pelo governo do país vizinho. Também focada em varejistas, a empresa utiliza a tecnologia para oferecer aos seus clientes um melhor entendimento sobre seus consumidores.
Funcionando no modelo de SaaS (software como serviço, da sigla em inglês), a Propz também trabalha com a personalização de ofertas para clientes, mas sem utilizar um dispositivo físico.
De acordo com o fundador e diretor de operações da empresa, Israel Nacaxe, a Propz é voltada ao Big Data. Utilizando informações cadastrais e de compras de clientes que as empresas já têm, a startup oferece soluções segmentadas para clientes como as redes de farmácias Droga Raia e Drogasil e os postos de combustíveis Ipiranga.
A startup identifica dois tipos de engajamento: “os clientes que vão comprar regularmente e são fiéis à marca e os que estão indecisos”, diz Nacaxe. A partir disso o objetivo é fazer o cliente fiel gastar mais e, para o indeciso, ofertar produtos que ele compraria com bom preço.
Com escritórios no Brasil, Chile e Rússia, a Propz diz que, somente ao enviar SMS ou e-mail na melhor hora de compra do consumidor final, seus clientes observam em torno de 3% a 6% no aumento de receita.
Fonte: DCI