Uma pausa de 30 minutos para um cochilo antes de voltar ao trabalho na cidade que não pode parar. Ou uma hora de sono e um banho antes de encarar o voo de conexão para o destino final. Ou, quem sabe, aproveitar alguns minutos de relaxamento em uma cama na posição gravidade zero (o usuário fica reclinado, com pés levemente levantados para tirar o peso da lombar). O sono virou negócio e existem empresas que estão faturando com o descanso do cliente.
“Sempre me preocupei com minha saúde, li artigos na internet e vi que a sesta, um rápido cochilo após o almoço, tem benefícios para o coração e dá mais disposição para seguir na rotina do dia a dia”, diz Marco Catanha, que trabalha há cinco anos na Bolsa de Valores de São Paulo. Ele é um dos clientes da Cochilo, empresa que oferece cabines privativas para o cliente tirar soneca em cama com formato especial, músicas calmas e luz azul, para ajudar no relaxamento.
Fundadora da empresa, Alícia Jankavski conta que a ideia do negócio surgiu há três anos. A primeira unidade foi instalada na Rua Augusta. Depois de um ano de funcionamento, a Cochilo mudou para o centro de São Paulo, na Praça Antônio Prado, justamente em frente ao local onde Catanha trabalha. Ele fechou um plano de 600 minutos mensais e, como cortesia, ganhou 90 minutos para presentear. Ofereceu o serviço para sua supervisora. “Ela adorou.”
O tempo mínimo de descanso é de 15 minutos e custa R$ 12. Se alguma empresa fizer convênio com a Cochilo para proporcionar o benefício a seus colaboradores, o preço, por exemplo, tem desconto de R$ 2. É possível fechar um pacote de fidelidade com até 600 minutos para serem gastos em, no máximo, 50 dias.
O advogado Marcos Vinícios Sauth é outro trabalhador que preza por uns minutos de descanso para potencializar seu dia. “Tenho uma rotina muito estressante e acho fundamental para a saúde fazer algumas pausas e descansar um pouco. Acaba se tornando quase obrigatório para o corpo, você sente falta”, afirma Sauth.
Ele conta que trabalha muito próximo à unidade do centro e que utiliza os serviços do lugar desde a inauguração. “Antes cochilava na poltrona do escritório, mas era um pouco inadequado. Lá, em um ambiente propício e separado do escritório, descanso e já levanto com a bateria recarregada.”
Além da unidade no centro, com 20 cabines, a empresa está também no Itaim Bibi, com um número menor de espaços para descanso: 17. De acordo com Alícia, no início, o Cochilo sofreu resistência por parte dos clientes. Muitos relatavam que os chefes poderiam ver com maus olhos a ideia de cochilar no meio do dia. A empresária acredita que hoje o cenário está mudando.” Na nossa concepção, as empresas estão vendo esse serviço com outros olhos. Os gestores já estão percebendo que não podem negar a privação do sono aos funcionários.” Para este anos, a ideia é que o negócio continue a crescer com a inserção do serviço em eventos corporativos e dentro de empresas.
Pausa
Um período sabático de viagens da empresária Mahine Dorea e do marido, Fernando Kaplan, serviu como inspiração para que o casal implantasse o Pausadamente, no centro do Rio de Janeiro.
“Viajamos para a Espanha a fim de buscar informações sobre bares de tapas e vimos que a sesta é muito forte. E em uma viagem aos Estados Unidos descobrimos que existia serviço especializado nisso, em Nova York. Experimentamos, conhecemos e decidimos abrir o Pausadamente aqui no Rio”, conta a empresária.
Pesquisa
Mahine procurou especialistas da área de saúde para entender mais do assunto e leu diversas pesquisas estrangeiras sobre os benefícios do cochilo. Então, em 2009, fundou o Pausadamente, que, entre outros serviços, oferece o PowerNap: cabines privativas com poltronas que podem ser reguladas na posição de gravidade zero e com opção de luz cromática.
“O próprio cliente se surpreende com o resultado do serviço. Ele garante uma série de benefícios para as pessoas e ajuda a melhorar as relações interpessoais no ambiente corporativos”, afirma a empresária. As opções de tempo do serviço são de 20 a 40 minutos, com preços entre R$ 20 e R$ 30. O cliente ainda pode escolher o combo de 20 minutos de cochilo com 25 minutos de reflexologia, por R$ 80.
No YeloSpa, conceito de spa urbano localizado no Itaim Bibi, também é possível dar uma pausa na correria do dia a dia e descansar com qualidade. O espaço oferece o YeloNap, que também consiste em cochilos na gravidade zero com escolha de tempo. A diferença, neste caso, é que o cliente pode escolher arbitrariamente o tempo do cochilo: cada minuto custa R$ 1,65. “Este conceito está crescendo ainda aqui no Brasil. Está bastante em ascensão”, alega a gerente do YeloSpa, Kelly Castro.
Seja por conexões demoradas, ou espera por um voo atrasado, não é rara a cena de passageiros deitados nos saguões dos aeroportos mundo afora. Pensando nisso, a rede de hotéis Slaviero criou em 2007 o Fast Sleep, no Aeroporto Internacional de Guarulhos.
A empresa oferece um “serviço reduzido” de hotel convencional em cabines privativas de 4m². São duas unidades destinadas a públicos distintos. No térreo do desembarque leste do Terminal 2 está a instalação aberta ao público em geral, passageiro ou não. São 40 cabines, sendo seis delas suítes, com banheiros privativos. Na área de conexão internacional do mesmo Terminal 2 está a segunda unidade, apenas para passageiros que ainda terão que pegar outro voo.
“Nessa área é exigido a apresentação do cartão de embarque para a conexão. Lá o passageiro que desce de um voo e tem o aeroporto como destino final não pode utilizar o serviço”, diz o gerente do Fast Sleep Guarulhos, Sérgio Fernandes.
Os clientes que optarem pela utilização dos serviços da empresa terão que desembolsar, no mínimo, R$ 79, mais 5% de Imposto Sobre Serviço (ISS), pelo período de uma hora. As cabines oferecem rede wi-fi, água como cortesia, televisão e despertador programado pelo próprio “hóspede”. Se a pessoa quiser tomar um banho, poderá optar por um banheiro privativo na suíte, ou por um banheiro comum na cabine convencional, tendo à disposição nos dois pacotes utensílios como xampu, condicionador e sabonetes.
Fernandes acredita que a proximidade ao portão de embarque e a segurança garantem o sucesso do negócio, que recebe aproximadamente 4,5 mil clientes por mês. “Existe a comodidade de estar próximo do check-in. Muitos estrangeiros têm receio de deixar o aeroporto e se sentem muito seguros quando podem permanecer dentro do aeroporto com um serviço de hotel, sem estarem exatamente em um hotel convencional.”