A nova dinâmica do segmento financeiro, que está sendo construída pelas fintechs*, em parceria com empresas tradicionais do setor, tem potencial para trazer novo fôlego ao varejo. O uso de tecnologias recentes e o aprimoramento da análise de dados ampliam as soluções que estão à disposição dos supermercados.
*Startups que oferecem serviços e produtos financeiros inovadores
Mais do que isso: com novos processos regulatórios, as próprias redes supermercadistas podem se tornar provedoras de soluções financeiras. E quem mais ganha com isso são os consumidores, que encontram, nesse vasto ambiente de inovações, uma série de serviços e produtos alinhados ao seu padrão de consumo.
Dos novos meios de pagamento às vantagens oferecidas pelos cartões de marcas próprias, os clientes podem usufruir de uma experiência de compra mais positiva. As exigências do público consumidor estão impulsionando a transformação digital dos serviços financeiros. “Tudo começa na mudança do comportamento do consumidor, esse é o grande driver”, sublinha o diretor da Rede, Angelo Russomanno Fernandes. “O consumidor tem mudado o paradigma e o nível de exigência por jornadas mais flexíveis, fáceis e simples.”
Inteligência de dados a favor das vendas
Se o consumidor representa o grande driver das mudanças que os segmentos varejista e financeiro precisam promover, então, é fundamental entender quais são as necessidades e os desejos para acertar nas inovações.
Na Rede, empresa do grupo Itaú Unibanco e uma das principais marcas de meios de pagamento do país, os produtos e serviços são desenvolvidos a partir da visão de que o consumidor final é quem vai determinar a própria jornada de compras dentro do universo de multicanalidade, que tem de estar à disposição. “O cliente vai decidir onde e como quer comprar”, reforça Fernandes.
Com o objetivo de entender o modo de construir essa jornada, a Rede está usando o próprio banco de dados para gerar pesquisas sobre o perfil médio dos consumidores. O serviço, chamado Rede Inteligente, pode ser contratado pontualmente ou de forma recorrente. Fernandes explica que, sem ferir a política de sigilo das informações, a equipe consegue entregar relatórios customizados para subsidiar a tomada de decisão.
“A riqueza de dados nos permite definir o formato da pesquisa, prevendo uma série de consultas que irão resultar em diagnósticos bastante precisos”, detalha, acrescentando que a base de informações permite delimitar o segmento do público, a localização, o tíquete médio de compras e os produtos mais consumidos, entre outros critérios de análise.
O relatório pode ser determinante para definir o que deve ser priorizado nas decisões de investimentos dos supermercadistas. Fernandes destaca que essa solução ajuda a resolver uma das principais demandas do setor, que é vender mais. Outros pontos de melhorias sinalizados por executivos do varejo são a gestão de fluxo de caixa, a redução de custos alinhada ao ganho de eficiência operacional e a segurança no manuseio de dinheiro em espécie.
Por isso, a Rede tem apostado em outras soluções para os varejistas. Recentemente, o grupo anunciou que as vendas processadas na maquininha Rede, no formato crédito à vista, terão os valores depositados em dois dias para empresas com faturamento de até R$ 30 milhões por ano e que recebem pelo Itaú ou Tribanco. Fernandes frisa que a antecipação do pagamento não acarretará qualquer custo para esses clientes.
Outra aposta da Rede é a plataforma de pagamento digital iti, continua Fernandes. “O iti funciona por meio de um app, trata-se de uma e-wallet democrática, que beneficia todo mundo*, desde o varejista até o consumidor da loja, que, muitas vezes, nem bancarizado é.”
*Carteira digital usada em transações financeiras
Qualquer pessoa que possua um celular pode aderir à plataforma, mesmo que não seja correntista do Itaú. Fernandes comenta que, em menos de três minutos, é possível abrir a conta e usar o iti como carteira digital.
Os lojistas ganham em variadas frentes. A primeira é a oferta de mais um meio de pagamento. Além de receber em dinheiro e cartões de débito ou crédito, o varejista consegue processar o pagamento digital da plataforma iti e de outras carteiras, como Apple Pay e Samsung Pay, com a mesma maquininha Rede que possui. Fernandes explica que todos os terminais estarão atualizados até o fim do ano.
“Outra vantagem é que o MDR do iti é bastante acessível*, de apenas 1%. Além disso, todo pagamento feito pela plataforma iti é creditado no mesmo dia (D zero) e sem custo.
*Merchant Discount Rate, que representa a taxa cobrada sobre transações feitas com cartão
Fintech embarcada amplia oportunidades do varejo
“As novas normas do Banco Central, incluindo o projeto de pagamentos instantâneos, as fintechs, juntamente com as inovações trazidas por esse meio, estão abrindo possibilidades de negócios, otimizando custos e gerando receitas para os supermercados”, elenca o Retail Manager da Matera, Bruno Samora.
O cenário se transformou, radicalmente, no segmento, avalia, passando de um contexto em que os varejistas lidavam com o alto custo dos serviços financeiros para um ambiente em que o varejo ganha mais autonomia.
Samora prevê que, em breve, “quando o projeto de pagamentos instantâneos do Banco Central (Bacen) estiver em funcionamento, será possível capturar um pagamento sem intermediários, com liquidação imediata e a um custo irrisório, da ordem de um centavo por transação, de acordo com projeções do próprio Bacen”.
É nesse novo ambiente que as fintechs podem deixar de ser meras provedoras de soluções para os supermercados, a ponto de conseguir desenvolver novas operações de mercado voltadas aos negócios da área financeira. São as chamadas fintechs embarcadas, criadas com o objetivo de capturar “valor de serviços financeiros em toda a cadeia produtiva”, explica Samora.
“No caso específico de supermercados, é possível atuar na cadeia de suprimentos, com pagamentos a fornecedores; na ponta do cliente final, com soluções digitais de pagamentos, recompensas e modelos que ultrapassam um private label tradicional; e, até mesmo, na folha de pagamento de funcionários”, elenca. Ele ressalta que existe a possibilidade de agregar serviços de terceiros, o que permite a uma rede de varejo atuar “como um verdadeiro marketplace financeiro, ofertando seguros, crédito e financiamento”.
A expertise da Matera é desenvolver soluções de tecnologia para criar e operacionalizar fintechs, “desde um backoffice robusto e provado na prática por quase duas centenas de instituições no Brasil até soluções de canais que podem ser utilizadas pelo cliente final”.
Na prática, o mecanismo reduz a intermediação de serviços financeiros, reduzindo custos de transação. Com isso, consumidores também são beneficiados, pois passam a “ter acesso a modelos inovadores de pagamentos digitais e a novos serviços financeiros”, esclarece Samora. “A solução financeira não existe sozinha: geralmente, vem acompanhada de outros serviços agregados, tais como geolocalização, promoções e recompensas que enriquecem a experiência e a fidelidade do consumidor.”
Consumidor demanda mais crédito
“Em meio a tanta tecnologia, ainda existe um apagão de crédito”, sustenta o sócio-diretor da DMCard, Juan Agudo. O grupo fez uma pesquisa com aproximadamente 4.000 consumidores e constatou que 73% deles gostariam de ter mais limite de crédito, mas os bancos não oferecem. “Os critérios para aumentar o valor não são claros e, às vezes, os bancos até reduzem os limites”, critica.
A empresa apurou, ainda, que cerca de 3% das transações com cartões são negadas no sistema de caixa do varejo supermercadista, de modo geral, por falta de limite. “Se o supermercado não tem uma opção de crédito na hora, geralmente, perde a venda.”
Nesse cenário, cresce a procura de redes supermercadistas por cartões de marca própria, solução fornecida pela DMCard. “Um grande diferencial dos nossos cartões, em relação aos outros (bandeirados ou bandeiras regionais), é a característica private label, ou seja, só passam na rede de supermercados. Assim, se fideliza mais o cliente, o que contribui para aumentar as vendas”, descreve.
Segundo dados da DMCard, o cliente passa a comprar 55% mais no supermercado no cartão private label, o que resulta em aumento de 36% das vendas incrementais.
“Por tudo isso, estamos crescendo bastante: 36% ao ano, há sete anos. De acordo com a Abecs, os outros cartões vêm crescendo 15% ao ano. Este ano, já passamos R$ 2 bilhões em vendas até novembro”, comemora.
Fintechs vão deixar de ser somente provedoras de soluções para supermercados
A DMCard está em contato com redes de supermercado parceiras para desenvolver soluções que ajudem a enfrentar o processo de transformação digital e de evolução dos meios de pagamento. “A tendência é que a experiência de pagamento do consumidor seja o mais simples e rápida possível, quase invisível”, projeta.
Outro foco do grupo tem sido a gestão da base de dados dos clientes. “Atendendo ao pedido dos parceiros, montamos um CRM simples, eficaz e sem custo: inclui base de dados com oportunidades, como clientes sumidos e categorias mal aproveitadas; aplicativo personalizado com inteligência para fazer a oferta certa ao cliente certo; e analistas para ajudar o supermercado a realizar ações rentáveis.”
O próximo projeto da marca é desenvolver uma conta digital personalizada com o nome do supermercado, solução que já está sendo demandada pelas redes.
Inovação deve ser contínua
O segmento de soluções financeiras deve manter o processo de inovação continuamente. Muitas vezes, graças às parcerias entre empresas do ramo. É o caso da união entre First Data e Fiserv, que “criou a maior plataforma de meios de pagamento e serviços financeiros direcionada aos grandes, médios e pequenos varejistas do mundo”, descreve o vice-presidente de Estratégia e Integração da Fiserv para a América Latina, Henrique Capdeville.
De acordo com Capdeville, o setor supermercadista está acompanhando a tendência dos grandes varejistas e passa a utilizar a tecnologia como um pilar estratégico no desenvolvimento dos próprios negócios. “A tecnologia permite identificar o comportamento e o hábito de compra dos consumidores de forma rápida e com maior assertividade nos itens a serem comercializados. Isso sem falar na previsibilidade de estoque.”
Outra tendência é a “experiência de compra única e segura para o cliente, no canal de sua preferência”, assinala. “Nesse contexto, as soluções de pagamentos têm papel fundamental na integração do mundo físico e digital.”
O objetivo central de todas essas frentes de atuação é propiciar aos supermercados alcançarem ganhos de escala, “com soluções de conciliação automáticas que permitem o acompanhamento detalhado de suas vendas, minimizando perdas financeiras”.
O futuro é digital
“O mundo mudou e continua mudando. Consumidores estão cada vez mais exigentes, antenados, com uma variedade de ofertas como nunca houve na história do consumo”, descreve o Corporate Banking de Novos Produtos do Banco Original, Amauri Pazzini.
“O setor supermercadista talvez tenha sido um dos primeiros a detectar essas mudanças, agregando, nos últimos anos, novas tecnologias, novos produtos, novos processos de gestão e, lógico, novos meios de pagamento”, analisa. “Nunca se comprou tanto no varejo supermercadista como hoje. Afinal, três coisas não podem ser virtualizadas ou digitalizadas: alimentação, higiene e limpeza.”
Quando pensamos na relação com bancos, é o inverso. “Ninguém gosta de ir a uma agência bancária. E o dinheiro já é uma commoditie virtual há muito tempo”, afirma Pazzini. Foi com foco nessa mudança de comportamento que o Banco Original foi criado, em 2016. Ele descreve que o Original é 100% banco e 100% digital porque conseguiu aliar os dois universos. É assim que essa instituição se diferencia de uma fintech, pois disponibiliza todos os produtos bancários a clientes, sejam eles pessoa física ou jurídica.
“Para os pequenos comerciantes, temos um pacote de tarifas que inclui uma maquininha para receber as vendas no cartão de crédito, totalmente grátis. Para as grandes empresas, possuímos soluções de antecipação a fornecedores; financiamentos de médio e longo prazos; cash management para administrar o fluxo de contas a pagar e receber ou recolhimento de numerário; entre outros recursos”, compara Pazzini.
Apesar do amplo leque de soluções que dispõe, o Banco Original está atento à evolução trazida pelas fintechs. “Para completar o atendimento 360, o Banco Original tem participação em uma empresa que é pioneira e a mais completa solução de carteira digital do mercado: PicPay”, revela. Pazzini esclarece que o PicPay concede ao consumidor um modo de concentrar todos os pagamentos das próprias compras e contas no celular, inclusive optando pelo parcelamento.
Fonte: Supervarejo