Em tempos de crise econômica, as marcas são pressionadas a investirem em iniciativas que aumentem o volume de vendas a curto prazo. Os investimentos em reputação, geralmente de médio e longo prazo, ficam mais escassos. Entretanto, quando o assunto é causa social, nos surpreendemos como o tema gera engajamento entre as pessoas da indústria criativa. Um assunto que encanta a todos, uma vontade de começar a fazer ou de fazer mais. Uma onda onde todos tem o mesmo propósito: um capitalismo mais consciente, uma sociedade mais justa, um mundo melhor.
A questão é que precisamos vender. O foco está nas vendas. E aí vem a pergunta que ouvimos de tantos executivos: Há algum estudo que comprove que causa social vende mais?
Os estudos que correlacionam os investimentos em causa social ao crescimento de vendas ainda não são profundos, tampouco oferecem grandes certezas para aqueles que se guiam apenas por pesquisas. O que posso confirmar a partir de mais de 12 anos de jornada no tema e com depoimentos de gestores de marcas, que há alguns anos investem com consistência em causa social, é que sim, uma postura consistente, autêntica e criativa pode impactar positivamente o resultado das vendas.
Como? Existem vários estudos que confirmam uma tendência no comportamento da sociedade, principalmente dos jovens, que definitivamente querem viver num mundo melhor, querem saber o que as marcas fazem ou mesmo como podem fazer juntos. E muitos destes consumidores já pressionam as marcas, amplificando suas vozes nas redes sociais.
Num recente debate sobre o tema, Samantha Almeida, responsável por conteúdo criativo na Avon, confirma: “pressão da opinião pública funciona bastante”, e deixa a dica “usem o seu poder de consumidor para mudar uma marca”. Há mais de 5 anos a marca mudou sua estratégia de marketing do produto BB Cream para atender a diversidade de tons de pele das mulheres, e aproveitou para ampliar o diálogo sobre a questão racial em suas redes sociais. “Antes este produto não era nada no portfolio, agora é tudo”, confirma Samantha.
No mesmo painel, Daniela Cachich, atual Pepsico, ex-Heineken e umas das executivas mais corajosas e admiradas do mercado brasileiro confirmou: “quando estava na Heineken pude acompanhar o crescimento da marca em dois dígitos por ano, e credito esse avanço à forma como resolvemos fazer uma comunicação inovadora, algo diferente do que a categoria estava fazendo”. É claro que também é preciso entregar o produto. Tem que fazer sentido. Acima disso é necessária coragem e resiliência para se apropriar do assunto. A primeira vez pode causar um estranhamento, depois parece normal, até se tornar cool & sexy.
Admiro e muito a coragem dessas mulheres que cada vez mais sabem da importância de seu papel num cargo corporativo, reconhecem seu poder de influenciar e transformar as pessoas. Em um outro evento sobre empreendedorismo, o israelense Erez Yerushalmi, Chief Innovation Officer da incrível startup Avante, trouxe uma ótima definição sobre performance de uma empresa: “sucesso é a capacidade de impactar os outros”. Então, vamos fazer uma correção na pergunta título deste texto: sua marca faz sucesso?
Fonte: Estadão