Por Daniela Braun
Parcerias com grandes redes de restaurantes, antes restritas ao rival iFood, expansão geográfica, entrega expressa de lanches e contato direto com clientes estão na lista de prioridades de Felipe Criniti, novo diretor-presidente da Rappi no Brasil.
O fundador da Box Delivery, empresa de entregas adquirida pela Rappi em abril, assumiu a subsidiária brasileira na semana passada, no lugar de Tijana Jankovic, que se tornou vice-presidente global da empresa colombiana de entregas.
“O mais importante é mostrar ao mercado que não há só uma empresa que define as regras e os preços do mercado e que temos o direito de competir”, diz Criniti, ao Valor, referindo-se ao concorrente e líder de mercado iFood.
“Com os acordos, seremos mais competitivos em restaurantes”, diz o executivo. Ele se refere aos novos contratos que poderá ter, a partir de setembro, com grandes redes de restaurantes e fast-food, que tinham contratos de exclusividade com o iFood. Em setembro termina o prazo de adaptação da rival a uma limitação de contratos exclusivos – um dos pontos do acordo fechado em março entre iFood e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), para estimular a competição em um setor que já perdeu concorrentes como Uber e 99 por aqui.
Criniti não revela os nomes das redes com as quais negocia atualmente, mas diz que os acordos fortalecem sua meta de ampliar os pontos de presença no país. Hoje, a Rappi atua em 140 cidades brasileiras de 24 Estados. Em dois anos, a meta é chegar a 250 municípios.
Após um ano mais fraco, o “delivery” de comida no Brasil deve crescer em 2023. No ano passado, os gastos dos brasileiros com pedidos de refeições somaram R$ 34,6 bilhões, o equivalente a 16% dos R$ 216,2 bilhões gastos com alimentação fora do lar, segundo o Instituto Foodservice Brasil. O resultado representou queda de 4,6% sobre os gastos com “delivery” em 2021, mas a projeção para 2023 é de alta de 13,7% sobre o ano passado, para R$ 39,3 bilhões.
A entrada da Box Delivery, fundada por Criniti em 2016 para prestar serviços de logística a empresas, dá uma força para a expansão geográfica da Rappi.
Com a aquisição, anunciada em abril por valor não revelado, a Box Delivery trouxe à Rappi uma cobertura em 250 cidades brasileiras, 150 mil entregadores cadastrados e um faturamento de R$ 200 milhões, em 2022 – mais do que o triplo dos R$ 62 milhões de 2021.
Entre os clientes da Box estão as redes de fast-food e restaurantes McDonald’s, Burger King, Pizza Hut e Outback, as redes de farmácias Drogaria São Paulo e Raia Drogasil, além do serviço Zé Delivery, de entrega de bebidas da Ambev. A base de clientes da Box Delivery segue atendida pelos entregadores parceiros da empresa, que serão integrados aos parceiros da Rappi em dois anos, informa o executivo.
O time também cresceu para 1.000 funcionários no Brasil, e a empresa busca um escritório maior para acomodar toda a equipe, na capital paulista.
Além dos contratos com grandes redes de restaurantes, a Rappi estenderá a entrega ultrarrápida a refeições, começando pelos lanches. “Ainda este ano, vamos lançar o Turbo para entregas expressas de restaurantes em São Paulo e no Rio de Janeiro”, diz Criniti. A entrega ultrarrápida de refeições é oferecida na Argentina, Colômbia, México e Peru. Lançado em abril de 2021, no auge da pandemia, o serviço Turbo, de entrega de itens de supermercado em até 10 minutos, também será ampliado para cidades de médio porte, nos próximos anos. Atualmente, além de São Paulo e do Rio, o Turbo está em Belo Horizonte, Curitiba e Campinas.
Criniti diz que a Rappi não sente os efeitos da contenção de gastos do brasileiro em compras de supermercado, lojas de produtos para animais de estimação e varejo – áreas onde o aplicativo tem mais presença. A opção do brasileiro por marcas mais baratas e embalagens menores na hora da compra, o chamado “trade down”, é um comportamento frequente, segundo estudo recente da consultoria Mckinsey.
“Não enxergamos este movimento nos afetando”, diz o executivo. Atualmente, segundo Criniti, 80% das vendas da Rappi vêm de assinantes do serviço Prime, que oferece descontos em frete e compras, e é adotado por 60% dos usuários do aplicativo.
A partir da próxima semana, o novo diretor-presidente da Rappi também reserva um tempo na agenda para conversas diárias com clientes e parceiros em um chat dentro do aplicativo. “Criamos um grupo de trabalho com toda a liderança da empresa para ouvir as dores e sugestões de consumidores, entregadores e restaurantes e melhorar a experiência na plataforma”, conta Criniti.
Os grupos de trabalho que discutem as relações entre plataformas e entregadores, junto ao governo, também estão na pauta do executivo. “A regulação é importante tanto para as empresas como para os entregadores, incluindo uma garantia de segurança previdenciária”, afirma.
O cálculo da remuneração mínima para entregadores de aplicativos foi o tema da terceira reunião do grupo de trabalho da categoria realizada nesta terça-feira (18), em Brasília, com representantes das empresas e do governo federal.
Fonte: Valor Econômico