O conceito de loja-móvel não chega a ser exatamente uma novidade, no Brasil. Afinal, faz tempo que a Kombi adaptada como food truck já cumpre essa função na esteira da popularização da dupla pastel e caldo de cana, além do carro de pamonha (“Pamonha de Piracicaba, o puro suco de milho. Pamonha! Pamonha! Pamonha!”). Assim como o sujeito que dirige o carro do ovo (“Olha ovo!”), eles se tornaram componentes da paisagem urbana em quase todas as cidades e bairros. Mas mesmo nesse segmento faltava uma solução com perfil mais inovador, a partir do conceito da mobilidade urbana sustentável.
Foi com isso em mente que dois empresários curitibanos decidiram investir no Smart Moov, um veículo elétrico compacto, guiado por “manche” e habilitado para rodar em ambientes internos e externos. O design com jeitão futurista não passa despercebido. Isso ficou evidente no dia que este colunista conheceu a versão adaptada para pizzaria, parado na área externa do restaurante Casa do Don, na movimentada avenida Ibirapuera, em Moema, bairro da Zona Sudoeste de São Paulo.
Wellington Freitas, sócio fundador e diretor comercial do Portal dos Elétricos, conta que o mesmo aconteceu em outros locais onde o veículo foi apresentado. O road-show começou pela última edição da Fispal Tecnologia, que reúne integrante do setor de food service, e já passou pela ABF Franchising Expo, ambas realizadas em São Paulo. “A receptividade dos empreendedores da área alimentícia tem sido enorme”, diz.
Nesta lista está o controlador da rede Don Patroni, de comida italiana, que fez um acordo para ter a exclusividade de seis meses na aquisição do Smart Moov 2020. Juntos, eles desenvolveram um modelo adaptado para a venda de mini-pizza, que está sendo ofertado por R$ 149 mil, incluindo as taxas de franquia. “Numa jornada diária de oito horas é possível atingir um faturamento bruto mensal de R$ 50 mil e auferir um ganho de 20%”, diz Admilson Souza, diretor de expansão e novos negócios da Patroni. “O retorno acontece em 18 meses”.
Começo difícil
O Smart Moov 2020 é fruto de um projeto que começou “meio torto”, em 2013. Na época, Wellington recebeu a incumbência de Giuliano Pilagallo, seu atual sócio, de montar equipamentos numa cozinha de 50 m², onde seriam preparadas 300 refeições por dia. Uma tarefa que parecia impossível foi resolvida a partir da pesquisa de soluções inovadoras adotadas no segmento de food service, na Europa. “A cozinha de hoje é totalmente automatizada, com equipamentos de alta performance e que ocupam pouco espaço”, diz.
A partir daí, decidiram se unir e levar este conceito para cozinhas móveis, aproveitando que Giuliano havia ganho a concessão para vender alimentos no Parque da Pedreira, em Curitiba. O primeiro food-car foi feito de forma artesanal, no esquema tentativa e erro. A energia vinha de um gerador movido a GNV. “Além de não ser ambientalmente correto, a operação se tornava inviável em áreas nas quais não houvesse a disponibilidade de abastecimento do gás”. A prova do conceito aconteceu com o protótipo adaptado para a venda de cerveja, enviado para a praia de Guaratuba.
O percalço inicial não foi suficiente para desanimar a dupla. Para organizar o processo produtivo eles contrataram um design e o incumbiram de projetar uma opção de veículo 100% elétrico. Outra exigência era que as peças e componentes fossem encontrados no mercado de reposição nacional e tivessem um elevado índice de reciclabilidade.
Para movimentar o Smart Moov2020 basta acionar os comandos instalados em um bastão. No total, já foram gastos R$ 8 milhões. O debut do modelo com jeitão futurista, inspirado nos carros de Formula Indy, se deu na feira Smart City Expo Curitiba 2018.
O que a princípio seria focado para o mercado de vendedores ambulantes, acabou se convertendo numa loja móvel, que pode ser usada como mobiliário urbano, graças à instalação de display de LED na lateral. Para levar um Smart Moov2020 para casa é preciso desembolsar entre R$ 45 mil e R$ 75 mil, dependendo da configuração. No caso do modelo com kit de placas solares no teto é preciso desembolsar um adicional de R$ 12 mil. Com isso, a autonomia da bateria sobe de seis para oito horas. A lista de acessórios inclui kit Wi-Fi para uso dos clientes, carretinha para reboque e backlight de LED.
Cada carga, feita em tomada 220V, tem custo estimado de R$ 3,50. “Mais do que um veículo, nós desenvolvemos uma solução para quem deseja operar um negócio em áreas internas, como condomínio, ou em eventos sazonais”, destaca o empreendedor.
Quem sabe os vendedores de ovo, de pamonha e de caldo de cana com pastel não se interessam, né!?
Fonte: IstoÉ Dinheiro