Alcançar mil unidades espalhadas pela América Latina. Essa é a expansão pretendida pela rede de academias Smart Fit até 2021 e é nela que a companhia deve aplicar um investimento de R$ 500 milhões, anunciado no final de maio. O aporte virá de uma empresa controlada pela gestora Pátria Investimentos e está previsto em acordo celebrado entre a rede de academias, seus acionistas e a BPE FIT (sociedade que, assim como a Smart Fit, também é do grupo formado pela Família Corona e controlada por fundos geridos pela Pátria).
Nos termos do acordo divulgado ao mercado, o investimento será injetado pela BPE FIT a partir da subscrição de novas ações ordinárias, que serão emitidas em aumento de capital, e também por meio da compra de parte das ações já existentes, detidas pelos atuais acionistas – sem alterações no controle da companhia.
Para ganhar musculatura
Apenas como referência, o investimento necessário para abrir uma unidade da rede é de R$ 4,5 milhões, em média. Assim, a injeção de capital divulgada permitiria colocar 111 novas academias em funcionamento. A Smart Fit não revelou qual será o destino do aporte milionário, mas na avaliação de analistas ouvidos pela Gazeta do Povo, o dinheiro deve servir para estender a presença da logo amarela e preta pela América Latina.
Para Bruna Losada, consultora financeira e professora da Saint Paul Escola de Negócios, “quando a gente vê um aporte desse volume, por mais que a empresa ainda não tenha publicamente falado qual é o objetivo da captação, fica mais ou menos evidente que uma forte expansão está por trás da motivação.
Ainda mais sabendo o modelo de negócios, que é extensivo em capital”, avalia. Nesse sentido, Losada destaca a inovação trazida para o segmento pela Smart Fit como fator importante. “[A companhia] sempre se posicionou com propósito de democratizar o acesso da prática de atividade física de alto padrão, acessível para diferentes públicos, com facilidade de adesão, […] então tem que ter uma capilaridade grande”, pondera, “e esse tipo de investimento demanda uma grande quantidade de recurso”.
Percepção semelhante tem Eduardo Tomiya, diretor executivo da Kantar. Segundo ele, a rede de academias se beneficia do oferecimento de serviço bom a um ticket relativamente baixo aliado à multiplicação de unidades e pontua que “a sinergia está aí: vai botar dinheiro nessa expansão de novas localidades, o que não é novo em nenhum varejo. Tem um formato muito bem-sucedido, em que o atributo de proximidade e conveniência é muito forte”, conclui.
Tomiya ainda considera que esse acordo deve ser precedido de novas movimentações. Segundo o especialista, ”o private equity, quando entra, traz muitos aspectos de gestão financeira, gestão profissional, governança, compliance, e aí eu acho que é um passo para se preparar para o mercado de capital”, afirma.
O passo também é considerado por Bruna Losada ao avaliar o perfil não só da investida, mas também do investidor. “A gente está falando do Pátria, eles têm uma certa agressividade, uma expectativa grande de rentabilizar os seus investimentos. Eu acho que é muito razoável esperar que a empresa busque uma expansão rápida e em algum momento no futuro venha um IPO [primeira oferta pública de ações, na sigla em inglês]. Seria uma forma factível de os investidores conseguirem rentabilizar os seus investimentos, que são investimentos de alto risco dada a inovação do negócio. É algo razoável de esperar”, acredita a analista.
Em entrevista concedia à Gazeta do Povo em fevereiro de 2018, o fundador da Smart Fit, Edgard Corona, não descartava a chance de um IPO, mas tratava a opção como remota à época. Durante sua trajetória, iniciada em 2009, a rede de academias recebeu outros dois aportes, de R$ 70 milhões também da gestora Pátria e de quase R$ 200 milhões liderado pelo fundo soberano de Cingapura. Além dos investimentos, a emissão de debêntures e a entrada das mensalidades são as formas de captação de recursos usadas pela Smart Fit para financiar a expansão. Atualmente são mais de 450 unidades em onze países da América Latina.
As operações divulgadas pela Smart Fit no fato relevante divulgado em 31 de maio ainda estão sujeitas a aprovação por parte das autoridades concorrenciais e à deliberação em assembleia geral da Companhia para que o investimento seja concretizado.
Fonte: Gazeta do Povo