Duas das principais empresas familiares brasileiras do setor de shopping centers – a Sá Cavalcante e a Almeida Junior – devem vender participação em seus negócios para reduzir o endividamento bilionário e reforçar crescimento. A Sá Cavalcante, com seis empreendimentos, está em conversas com a gestora Vinci Partners e com a Hemisfério Sul Investimentos (HSI), empresa parceira da Saphyr Shopping Centers, apurou o Valor.
Procurada, a empresa confirmou, em nota, que o processo de venda envolve a análise por parte de seis fundos de investimento (estrangeiros e nacionais), que estão em fase de diligência prévia dos números da companhia.
“Há cerca de um ano o Valor informou o interesse da família em buscar um sócio minoritário. “A venda de uma participação minoritária é vista como uma etapa natural dentro do ciclo de planejamento estratégico do grupo”, acrescentou a empresa na nota.
A Sá Cavalcante informou ainda que já havia sido procurada por interessados no passado e optou “por um processo organizado de M&A [fusão/aquisição] para buscar um sócio ou parceiro ideal”. Segundo a companhia, a entrada de um sócio e uma capitalização tem como foco “dar suporte necessário ao novo ciclo de crescimento da empresa, buscando no futuro uma eventual abertura de capital (IPO)”.
Segundo informações de mercado, as dívidas líquidas da empresa giram em torno de R$ 1,5 bilhão e houve elevada saída de caixa recente. A Sá Cavalcante inaugurou, em setembro de 2015, o Shopping Rio Poty, em Teresina, e estão em construção o Shopping Metrópole Ananindeua, em Belém, e o Shopping Dutra, no Rio de Janeiro, que teve a inauguração adiada de 2016 para 2017, segundo dados da Abrasce, entidade do setor.
Além da Sá Cavalcante, a Almeida Junior, maior empresa do setor no Sul do país, com seis empreendimentos, abriu negociações, semanas atrás, para a venda de uma participação de até 20% da operação de shoppings. As conversas estão em fase inicial. Segundo informou a revista “Exame”, o banco Rothschild está à frente das negociações. Procurada, a empresa confirma que está estudando a possibilidade de venda de fatia minoritária, de até 20%, do braço de shoppings, mas não da empresa como um todo.
Uma fonte próxima à companhia disse que o banco BTG Pactual esteve com o comando da Almeida Junior discutindo a hipótese de um plano de oferta pública inicial de ações (IPO, da sigla em inglês), como caminho para a sua capitalização.
Para uma operação deste tipo seria preciso considerar a questão do alto endividamento da companhia – as dívidas somam R$ 1 bilhão, segundo fonte – e do tamanho da operação, ainda pequena para os moldes desse setor. Como opção aos investidores, o segmento já soma seis empresas brasileiras de capital aberto na bolsa, e com diferentes perfis de atuação.
Cinco anos atrás, a Almeida Junior fechou um acordo com um grupo australiano Westfield que não deu certo e precisou voltar atrás. O fundador Jaimes Almeida Junior vendeu 50% das ações do grupo, num negócio avaliado na época em R$ 740 milhões por metade de quatro shoppings no Sul. Desentendimentos sobre questões operacionais e estratégicas levaram ao fim da sociedade e a devolução dos 50% à família.
A situação financeira de determinadas empresas de shopping piorou com a atual crise no consumo, que reduziu faturamento dos lojistas – a receita das empresas vem do aluguel como percentual das vendas – e aumentou a inadimplência, afetando diretamente o caixa. Dificuldades de comercialização de novos empreendimentos também adiaram planos de construção e abertura de centros de compras no país.
Esse cenário levou a um aumento no número de empresas que buscam parceiros para manter o ritmo de crescimento ou ganhar alguma folga financeira. Dados publicados neste mês pelo Ibope Inteligência e pela empresa Mais Fluxo mostram redução em 7,5 milhões no total de visitas em shoppings só em setembro – a queda no movimento foi de 3,5%.